De Cachoeiro para Angola

Irmã Aurora Côgo conta das dificuldades vividas no continente africano

Irmã Aurora Côgo conta das dificuldades vividas no continente africano

 

A Irmã Aurora Côgo, pertencente a Congregação das Irmãs de Jesus na Eucaristia e que durante anos fez parte do Colégio Jesus Cristo Rei (Cachoeiro), contou à nossa Diocese, através de um relato sincero, como está sendo a sua caminhada em Angola, país africano onde ela e outras religiosas estão em missão desde o ano de 2010. No depoimento, Irmã Aurora relata a sua jornada nestes anos, a situação da população e às dificuldades encontradas.

 

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“A você que acompanha a nossa caminhada na África (Angola), farei aqui um apanhado da nossa história e um pouco de notícia sobre nós, Irmãs de Jesus na Eucaristia, e de nossa missão além-mar iniciada em 24/12/2010.

 

Estivemos, Irmã Joelma Damasceno de Santana e eu (Aurora Côgo), dois anos e dois meses na capital do país, Luanda, em uma comunidade intercongregacional com as Irmãs Sacramentinas de Nossa Senhora, até a fundação da nossa comunidade, em 10/10/2013, na comuna de Massangano, município de Cambambe, em Dondo, na província do Cuanza Norte, com aproximadamente 10 mil habitantes.

 

Aqui o clima é intensamente quente, com poucas chuvas, o que causa falta de dinheiro e fome. Há também dificuldade de água para consumo, gerando doenças e desconforto. Em época de grandes chuvas, acontecem tempestades estarrecedoras, com trovões estrondosos e relâmpagos muito claros. Não há inverno, mas um tempo de orvalho (assemelhando-se a uma garoa) no qual os habitantes daqui dão o nome de “cacimbo”.

 

O solo é arenoso, com muita erosão e pouco produtivo, salvando as margens do Rio Lucala onde se produz bananas, batata doce, mandioca, amendoim (e uma variedade de alimentos).

 

A saúde é muito debilitada. Os vários sintomas são feridas, tumores, paludismo (em toda a população), febre, HIV (SIDA) e uma infinidade de outros males. Há também tosse seca, tuberculose, hepatite, epilepsia (grande parte da população), anemia, desnutrição, alcoolismo acentuado, etc.

 

Existem dois postos de saúde para consulta e teste de paludismo, mas médico, dentista e enfermeiros são inexistentes. Há ‘enfermeiros’ (homens treinados para tal trabalho durante a guerra e são esses que atendem no posto de saúde, onde a higiene é precária devido à falta de verba). Na comunidade há duas farmácias, mas o preço dos medicamentos é muito alto. Aqui nenhum medicamento é gratuito.

 

A mortalidade infantil é assustadora; já contamos com quatro óbitos em uma semana. Sem contar com mortandade assustadora de adolescentes, jovens e idosos (este último grupo totalmente desamparado pelo estado).

 

O analfabetismo abrange 90% da população. Em toda ação pastoral ou educativa temos que ter em conta essa triste realidade, mesmo entre os que frequentam as escolas.

 

Em relação à educação, existem duas escolas: uma pública e outra particular (onde atuamos) conveniada com o governo, que remunera professores das disciplinas básicas e a direção. As demais funções são custeadas pelos Salesianos de Dom Bosco, proprietários deste conjunto chamado 'Missão'.

 

 A Igreja, um grande templo projetado por Padre Jucimar Pinto Oliveira (de Betim – MG), consegue acolher um bom número de pessoas. Ela está sem piso e sem esquadrias, devido à falta de verba para concluir a obra. Porém, já celebramos nela desde setembro de 2016. E no início deste ano o Bispo Dom Almeida Kanda crismou oito jovens e duas senhoras. Nossa Igreja é de movimentos (grupos apostólicos) e não CEB’s. O povo é muito voltado ao sagrado e também à oração do terço. Celebramos a Palavra todos os dias e atualmente temos 10 turmas de catequese e uma turma de adultos para aprofundamento da vida cristã, além de preparação para matrimônio, um grupo de jovens e um grupo de pré-adolescentes.

 

A comunidade das Irmãs de Jesus na Eucaristia é formada por três irmãs: Eu (Aurora Côgo ), Marisa Teresinha e Marisé dos Santos. Por ser comunidade formadora, possuímos ainda 4 postulantes, 4 aspirantes e 5 vocacionadas internas.

 

Além do acompanhamento às formandas, catequese com crianças, jovens e adultos e visita às famílias da comunidade, há também o acompanhamento às demais aldeias, sendo 9 no total. Também evangelizamos diariamente toda a escola, reunida em dois turnos, onde lecionamos e cuidamos da saúde do povo com medicina alternativa.

 

O ano de 2016 foi uma prova de fogo, marcado pela fome que atingiu a população por causa do alagamento das roças e a alta abusiva do custo de vida. Sobrevivemos graças às ajudas financeiras vindas da Congregação (no Brasil), de pessoas amigas e de uma entidade Suíça, mediada por Irmã Maria da Penha Oliveira, da Congregação de Nossa Senhora, em São Paulo. E o novo ano já iniciou com as mesmas dificuldades citadas acima.

 

Desejamos a todos que nos acompanham um abençoado 2017. Que continuem nos ajudando, sobretudo, com orações e apoio. OS DESAFIOS SÃO MUITOS!”

 

Irmã Aurora Côgo

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Nossa Diocese ora e pede ao Senhor nosso Deus que ilumine o caminho de Irmã Aurora e das demais religiosas da Congregação das Irmãs de Jesus na Eucaristia. Que Ele permita que elas prossigam firmes na fé e na caridade.

 

 

 

 

 

 

 

Da esquerda para a direita: Irmãs Marisé dos Santos, Aurora Côgo e Marisa Teresinha e Silva

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