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21.09.2021

DICAS DE HOMILIA - 26º Domingo do Tempo Comum

A Lei do Senhor, Alegria do Coração - Um povo de Profetas - A Denúncia das Injustiças


(Nm 11,25-29 / Sl 18 / Tg 5,1-6 / Mc 9,38-43.45.47-48)

A Lei do Senhor, Alegria do Coração - Um povo de Profetas - A Denúncia das Injustiças

A liturgia desse Vigésimo Sexto Domingo do Tempo Comum propõe no Salmo Responsorial uma reflexão sobre a Lei do Senhor, fonte de Vida e Alegria ao coração do fiel. Apresenta também, na Primeira Leitura a necessidade do surgimento de profetas, homens e mulheres, comprometidos com a Verdade e a defesa da Vida. Por fim, a Segunda Leitura apresenta a denuncia das injustiças como parte integrante da profissão de Fé.

Nas palavras do Salmo vemos retratada a alegria do salmista ao reconhecer a presença de Deus ao longo de sua vida, educando-o e acompanhando-o em todos os seus caminhos. Ele reconhece a força da graça de Deus por meio da Lei que é a guia e a guardiã de Israel ao longo de toda a sua história. De fato, a Lei é em primeiro lugar "Palavra do Senhor", que deve ser escutada e acolhida no coração dos filhos de Israel, consiste em orientações básicas e seguras que visam promover e preservar a liberdade alcançada, pela ação libertadora do Senhor. A Lei, que é dom do amor libertador de Deus, está diretamente relacionada com a promoção da vida plena para todos e a construção de uma sociedade justa e fraterna, liberta e nova. Ela deve garantir que Israel não se desvie do caminho proposto na direção da construção de uma terra sem males, onde todos tem lugar, evitando assim que os filhos e filhas de Deus retornem ao estado e à situação de escravidão que viviam no Egito. Separar assim, a Palavra da Lei da experiência de libertação do Egito é perder aquilo que é essencial à mesma, isto é, garantir um tempo novo para o povo de Deus. A Lei é sinal claro do cuidado de Deus para com o povo que libertou e conduziu pelo deserto. Ela é fruto de todo o processo de maturação religiosa e social e, por isso, está colocada no final do percurso de formação da consciência de Israel enquanto povo liberto, escolhido por Deus, consagrado como sinal da bênção do Senhor para todas as nações. Desse modo, o Salmo louva a graça da Lei como tal dom, que traz ao coração do povo a grande alegria de ser acompanhado e guiado pelas mãos amorosas de Deus. Sendo assim, a Lei para Israel não é vista somente com um conjunto de normas provenientes das Dez Palavras, isto é, do Decálogo, oferecido a Israel como um dom divino. Mas, ela é a garantia de que o povo eleito viva de acordo com a sua vocação fundamental que nasce na libertação da escravidão do Egito. Não somente como povo livre e fonte de bênçãos para os outros povos, mas também como um sinal da presença de Deus no mundo e na história.

Em todo o percurso histórico do povo de Israel, a figura dos profetas representavam sempre a voz de Deus junto ao povo indicando-lhe o caminho por onde deveriam seguir. De fato, o profeta, unido ao Senhor, traz no vigor de sua palavra, em suas atitudes e gestos e, principalmente, em seu modo de vida, aquilo que é o desejo de Deus, para ele mesmo, e, mais ainda, para todo o povo. Sendo assim, a palavra do profeta se torna Palavra de Deus que deve ser acolhida pelo seu povo, como um sinal do amor divino, que corrige os filhos que ama. A Primeira Leitura do Domingo traz a palavra de Moisés e o seu desejo de que todo o povo fosse profeta, expressão clara do desejo e da necessidade do povo de Israel. De fato, em seu retorno do Exílio, o povo percebe a necessidade de fundar, sobre as bases da Palavra de Deus, o seu regresso à terra prometida. Por isso, a figura do profeta como a voz de Deus que guia, exorta e conduz o povo é extremamente necessária, nesse momento especial da história de Israel.

O coração do profeta pulsa, marcado seja pela força da unção que recebera, bem como, por conhecer as dores do povo machucado pelo caminho na reconstrução de sua história. Desse modo, as suas palavras são vigorosas e firmes em apontar para a manifestação do Senhor que conduz Israel em todos os seus passos. Ao mesmo tempo, que elas se tornam consolo e esperança para aqueles que precisavam ser fortalecidos, pois estavam sofridos e enfraquecidos. Sendo assim, é sempre em sua unção que o profeta confirma a sua vocação, fortalece a sua decisão de abraçar o chamado a ele confiado pelo próprio Senhor e exerce a sua missão. Desse modo, a Liturgia deve tocar a vida, pois nesse tempo marcado por tamanhas contradições, os profetas são figuras profundamente necessárias. Desse modo, que o desejo de Moisés seja o desejo e a oração de todas as Comunidades Eclesiais de Base, no intuito que em seu seio nasçam e sejam formados verdadeiros profetas. Que assumindo o Batismo que os ungiu e consagrou pela graça do Espírito Santo, possam cumprir com fidelidade e compromisso a sua missão no mundo. Que os profetas de hoje sejam portadores de esperança, sinal da graça e uma voz junto aos que mais precisam, de conforto, solidariedade e compaixão. Que pela palavra e pela vida tornem-se sinais claros do cuidado de Deus para com todos, principalmente, para com os pequenos e pobres.  

Por fim, a Segunda Leitura, a Carta de Thiago, traz um dura exortação à toda a comunidade a viver de acordo com os valores do Evangelho, renunciando todo tipo de exclusão e injustiça.  O autor da Carta expressa em suas palavras a realidade da comunidade quando fecha os olhos e o coração aos irmãos e às suas necessidades concretas. Ele denuncia a injustiça como fizeram, ao longo da historia de Israel todos os profetas. De maneira especial ele indica a necessidade de se recuperar os valores do Evangelho, de modo que, as atitudes da comunidade possam refletir as opções do próprio Jesus. De fato, a pregação de Jesus e todos os gestos e posturas refletiam o seu olhar comprometido e cheio de compaixão pelas dores e sofrimentos de todos, principalmente os mais necessitados. Sendo assim, a missão do cristão hoje, formado dentro da Comunidade Eclesial, é a de ser um verdadeiro discípulo missionário, um profeta nos dias de hoje. Sendo capaz de crescer na comunhão com o Senhor, no conhecimento de Sua Palavra e sobretudo, na vivência e promoção da justiça. Pois, somente seguindo os passos dos profetas do Antigo Testamento e em constante e íntima comunhão com o Senhor é que os verdadeiros discípulos missionários se tornaram verdadeiros profetas.

A vocação de cada batizado é a de estar unido a Jesus, a fim de que a Sua Palavra seja luz em seus passos e decisões. De modo que com os olhos bem abertos e atentos diante da realidade que o cerca seja capaz de perceber e denunciar todo o tipo de injustiça, principalmente aquela cometida contra os pequenos e pobres. Pois, enquanto houver necessitados, excluídos, sofredores e marginalizados, enquanto a sociedade não for marcada por valores mais humanos e por isso, mais divinos, a missão dos cristãos ainda não está terminada. Desse modo a Segunda Leitura é profundamente atual, pois convida a todos a assumirem a sua responsabilidade enquanto cristãos. A fim de que, onde estiver um cristão católico cheguem os valores do Evangelho, o Reino seja anunciado e a Palavra de Deus acolhida, mas, sobretudo, todos tenham vida plena, vida em abundância. 

Que a liturgia desse Vigésimo Sexto Domingo do Tempo Comum desperte em todos o sincero desejo de abraçarem a sua vocação batismal enquanto profetas do Reino. A fim de que, a denúncia das injustiças e o anúncio da proposta de Jesus Cristo ecoe profundamente em todas as Comunidades Eclesiais de Base, pela palavra e pela vida de seus membros. A fim de que pelo compromisso de todos com o Evangelho seja um sinal da construção do Reino de Deus na história.

Pe. Andherson Franklin Lustoza de Souza

 

 

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