Artigo

Gabriel Bicker (Seminarista Propedeuta Bom Pastor)

Quaresma: tempo de compaixão

Por Gabriel Bicker (Seminarista Propedeuta Bom Pastor)

 

“Quando Jesus viu as multidões, teve compaixão delas” (Mt 9, 36).

 

A Quaresma é tempo propício para o exercício da compaixão, do olhar para o próximo. Papa Bento XVI, em uma de suas mensagens para a Quaresma de 2006, trouxe reflexões importantes para este tempo da igreja, ao dizer que, ir ao encontro do irmão, é, primeiramente, olhar para si mesmo. Para isso acontecer, é preciso encontrar em Deus o sustento, pois, como diz o salmista (23, 4), “Deus guarda-nos e sustenta-nos.” Jesus fala que olhar para o próximo é olhar para Ele mesmo.

Ter compaixão vai além do ato de ajudar ou de ter piedade do irmão. Compaixão é, além de tudo isso, parar e escutar o próximo. Jesus, em Sua infinita misericórdia, dispõe-se a nos defender dos lobos, mesmo às custas de sua vida, com a morte de cruz. A parábola do Bom Samaritano (Lc 10, 33) fala que ajudar sem olhar a quem é uma graça, é dom de Deus. O Compêndio da Doutrina Social da Igreja diz: “Caridade torna todos os homens verdadeiramente irmãos em Cristo.” 

Jesus, quando respondeu a um Doutor da lei, dizendo quem é o seu próximo, afirmou ser ele aquele que mais necessita de ajuda. Diante dessa fala, o sacerdote teve dó “de seu irmão” necessitado, mas nada fez e seguiu adiante; um levita passou, teve dó, no entanto também seguiu; o Bom Samaritano, por sua vez, teve compaixão e parou para ajudar, e, ainda, pegou seu irmão, colocou-o em seu cavalo e o levou a um local seguro, onde se despojou de seus bens e os deu a quem mais precisava. 

Deus, por sua vez, mostra ao povo que o único sentido de seu amor por todos é a compaixão, amor concretizado em seu ato de morrer por todos nós. A Quaresma, tempo especial vivido pela igreja, é ocasião favorável para se experimentar o olhar de Cristo para com os pobres, com práticas de jejum e esmola. Por isso Cristo propõe, ao cristão, o verdadeiro sentido de como pôr em prática o autêntico olhar aos mais necessitados. O cristão, por ser imagem e semelhança de Cristo, precisa propagar esse olhar. Santa Faustina Kowalsk fala que: “Nos mais pesados tormentos, fixo o olhar da minha alma em Jesus Crucificado; não espero ajuda dos homens, mas deposito a minha confiança em Deus; na sua insondável misericórdia está toda a minha esperança”.

            Conscientes da ação do Espírito Santo, saibamos olhar como Deus olha por todo seu povo, ao ponto de entregar  sua vida pela humanidade. Assim, que sejamos como o Bom Samaritano, que, ao ver uma pessoa, um irmão necessitado, teve a  coragem de parar e ter compaixão. Dessa forma, também somos chamados a servir e a amar a todos com o mesmo olhar que Cristo amou e olhou para aqueles que o levaram ao seu calvário.