O último cortejo de Francisco

Pe. José Carlos Ferreira da Silva

Acabei de tomar conhecimento de uma notícia que me atravessou feito oração sussurrada no escuro. A jornalista Mirti Medeiros, entre lágrimas, contou: o Papa Francisco será enterrado num lugar esquecido, dentro da Basílica Santa Maria Maior — não nos altares dourados, mas num canto abandonado.

O cortejo sairá da Basílica de São Pedro. Do coração da Igreja. E seguirá até o coração de Maria. Na entrada da Basílica dedicada à Virgem, quem vai recebê-lo não serão cardeais nem chefes de Estado. Serão os pobres. Os sem-teto. Os invisíveis. Os que, no seu pontificado, tiveram nome e rosto.

Francisco se despede como viveu: perto dos que ninguém queria por perto. Como se dissesse, mais uma vez, que o Evangelho não precisa de palácio — precisa de chão. Que o sucessor de Pedro pode sim repousar ao lado dos esquecidos, porque foi ali que ele sempre insistiu em estar.

Muitos vão estranhar esse enterro. Esperavam um túmulo de mármore, uma cripta nobre, um descanso à altura do cargo. Mas Francisco nunca quis o cargo. Quis o peso. Quis a responsabilidade. Quis a cruz. E agora, no seu último gesto, escolheu que até o próprio corpo se tornasse pregação.

Não são poucas as vezes em que ele falou de uma Igreja pobre para os pobres. Não era metáfora. Era direção. Ele apontou com palavras, com gestos e agora, com a morte, fincou esse pedido na terra — literalmente. Seu túmulo será onde ninguém vai por costume, mas onde Cristo vai por missão.

E talvez, quando o povo simples estiver ali, rezando perto daquela pedra gasta e sem placa dourada, alguém entenda: ali jaz um Papa que acreditou mesmo que o céu começa quando a gente se curva para levantar quem caiu.

O último cortejo de Francisco será, talvez, o mais silencioso. Mas não o menos poderoso. Porque enquanto o mundo se despede dele, ele continua ensinando. Mesmo sem voz, continua pregando.

E o Evangelho — aquele das Bem-Aventuranças, da misericórdia, do lava-pés, do pão dividido — não será enterrado com ele. Porque esse tipo de vida não morre. Só se espalha.

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Pe. José Carlos

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