Um pedido que ainda respira

Pe. José Carlos Ferreira da Silva


Francisco foi enterrado hoje — como todos os homens. Mas o seu pedido, esse ainda respira. Não foi feito para durar uma geração, foi feito para sacudir consciências. Não é discurso de ocasião, é Evangelho vivido com a coragem de quem não tem medo de sujar os pés.

“Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, do que uma Igreja enferma por estar fechada em si mesma.”

Foi isso que ele disse. E repete, ainda que o tempo passe e a saúde falhe.

As periferias existem. Algumas estão nos bairros afastados, outras moram no centro das cidades, dentro de prédios altos e corações vazios. São lugares onde a dor não grita, mas pesa. Onde a vida vai perdendo o sentido sem ninguém perceber.

Tem gente cheia de tudo, mas vazia por dentro. Gente que não pede esmola, mas precisava de um pouco de escuta. Gente que não se ajoelha num altar, mas carrega uma cruz tão pesada quanto a do Calvário. São esses os que o Papa insiste que a Igreja precisa alcançar.

Não se trata só de caridade, mas de presença. De não esperar que os feridos venham até nós, mas de ir até eles. De ser como o Bom Samaritano: parar, ver, se aproximar, cuidar. Sem perguntar se merecem. Sem fazer distinção.

Francisco sonha com uma Igreja em saída. E esse sonho não pode ser enterrado com ele. Porque uma fé que não se move em direção à dor, que não se deixa afetar, que não se mistura com as feridas do mundo, essa fé não é católica, é confortável.

Ser de Cristo é sair do próprio umbigo. É ir às periferias, às existenciais principalmente — aquelas onde falta sentido, esperança, afeto, dignidade. E aí, sim, a Igreja se torna viva. Não por estar cheia de gente, mas por estar cheia de compaixão.

Que Francisco parta em paz. Mas que o seu pedido siga incomodando. Porque enquanto houver dor não tocada, gente esquecida, vida sem luz — a missão não acabou.

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Autor:

Pe. José Carlos

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