Irmã Otília: lembranças vivas de uma mulher que foi luz nos momentos de dor

O falecimento da Irmã Maria Joana Otília, aos 91 anos, ocorrido na tarde desta segunda-feira, 26 de maio, deixou Cachoeiro de Itapemirim em luto. Mas, mais do que a dor da despedida, o que se espalha pela cidade é a imensa gratidão de tantas pessoas que foram tocadas, acolhidas e transformadas pela presença dessa mulher simples, serena e profundamente consagrada ao cuidado com os enfermos.

Em meio à comoção, diversos relatos vêm à tona, mostrando como Irmã Otília não era apenas uma figura conhecida nos corredores da Santa Casa ou no Colégio Cristo Rei — ela era presença constante de fé, escuta e esperança em situações extremas.

Maria Teresa Paiva dos Santos, 64 anos, por exemplo, relembra com emoção um momento marcante de sua família: “Meu neto nasceu de 8 meses com problemas respiratórios. Fui até a Irmã e pedi orações. Ela fez o batismo emergencial dele. Pouco depois, ele teve alta.”.

Ela relata ainda que não tinha vaga na UTIN (Unidade de Tratamento Intensivo Infantil) do Hospital Infantil Francisco de Assis (HIFA), “eu não tinha dinheiro pra a UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) particular, na hora do desespero, recorri à ela, que foi visitá-lo e viu que ele corria risco de vida, então o batizou e ele melhorou, nem precisou da UTI. Foi um milagre! Hoje, aos 22 anos, tornou-se um homenzarrão forte e abençoado”, relatou.

Viviane Nascimento, 49 anos, também compartilhou um momento inesquecível. “Minha mãe entrou em coma na minha frente. Fui retirada da sala, em choque. No corredor do hospital, dei de cara com a Irmã Otília. Ela me abraçou forte, começou a rezar no meu ouvido. Aquilo me deu forças. Aquele abraço era como o próprio Deus dizendo: estou aqui”.

O fotógrafo André Fachetti Lustosa, 46 anos, relatou uma cena simbólica que viveu durante a cobertura da celebração de Ordenação Episcopal de Dom Joselito Ramalho Nogueira quando, pela primeira vez, distribuía a Eucaristia como bispo. Entre os últimos da fila para comunhão, estava Irmã Otília. Ao se encontrarem, trocaram olhares que, segundo Fachetti, “pareciam cheios de luz, como se houvesse um entendimento silencioso entre duas almas consagradas ao amor”.

Irmã Otilia recebe comunhão de Dom Joselito Ramalho Nogueira (27/04/25).

“Percebi a Irmã Otilia a uns 3 ou 4 metros de Dom Joselito, que distribuia a comunhão. Ela vinha entre as últimas pessoas da fila; vinha entre aqueles que talvez estiveram ao fundo da Igreja durante a celebração. Entre aqueles que olham do fundo e enxergam ao longe. Levantei a câmera sabendo que eu presenciava algo especial. Quando se avistaram, o neo Bispo e a freira anciã; quando os olhares se encontraram, houve luz ao redor. Eles se viram e se compreenderam; cada um em seu carisma, cada um em sua vocação, na vocação do amor. Ela recebeu a comunhão, beijou a mão do Bispo; ele olhou-a filialmente, tocou-lhe a face gentilmente, abençoou-a como pastor; sorriu como uma irmão – o irmão que todos sempre nos sentimos da Irmã Otilia”, lembrou André.

Neusa de Sousa recordou um episódio comovente envolvendo sua irmã: “Ela estava muito mal. Irmã Otília foi chamada e orou com a gente. No dia seguinte, ela estava melhor. Foi um momento de muita fé. A gente acredita que Deus agiu através dela”.

Esses são apenas alguns dos muitos testemunhos que se multiplicam entre os que conviveram com Irmã Otília. Todos têm em comum a certeza de que ela era mais do que uma religiosa: era consolo para os que sofriam, abrigo para os que choravam, esperança para os que já não viam saída.

Mesmo em silêncio, com passos calmos e gestos discretos, sua presença era marcante. E agora, enquanto a cidade se despede, as lembranças se tornam eternas.

Irmã Otília deixa um legado de serviço, fé e amor ao próximo. Uma vida doada à missão de cuidar, acolher e orar. Sua memória permanecerá viva entre todos aqueles que um dia encontraram nela uma mão estendida, uma palavra de fé ou um olhar reconfortante.

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Autor:

Diocese Cachoeiro

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