Dom Luiz Fernando Lisboa, CP
Bispo de Cachoeiro de Itapemirim ES
No dia 20 de junho, de cada ano, celebramos o Dia Mundial do Refugiado, essa data me toca profundamente.
Durante anos, vivi em Pemba, Cabo Delgado, no norte de Moçambique, onde acompanhei de perto a dor de milhares de pessoas obrigadas a deixar suas casas por causa da guerra, da fome, do medo. São mulheres com filhos no colo, homens desorientados, jovens sem horizonte, crianças perdidas, idosos carregando na memória o peso de tudo o que deixaram para trás. Vi aldeias abandonadas, sonhos interrompidos, vidas desfeitas. Vi o sofrimento de quem não foge por escolha, mas porque continuar onde está significa morrer.
Hoje estou em Cachoeiro de Itapemirim, no sul do Espírito Santo, onde essa realidade não se impõe com a mesma força. Mas o coração de quem já viu o êxodo forçado, de perto, nunca mais se esquece. Por isso, acompanho com angústia e solidariedade os dramas que se repetem em tantas partes do mundo — no Sudão, na Palestina, na Ucrânia, na Síria, no Iraque, no Haiti, nos Estados Unidos, em Miamar e em tantos outros países do mundo. São irmãos e irmãs nossos. São rostos de Cristo.
A realidade dos migrantes e refugiados nos interroga como Igreja, como sociedade, como humanidade.
O Evangelho não nos permite ser indiferentes: “Era estrangeiro, e me acolhestes” (Mt 25,35).
Refugiado não é estatística. É pessoa.
Tem nome, tem história, tem fé, tem medos.
Tem direito a ser cuidado, escutado, acolhido.
Tem o direito de não precisar fugir, tampouco de ser humilhado.
Neste dia, suplico ao Senhor da Paz que toque o coração dos líderes, para que cessem os conflitos, que cesse a exploração, e que nenhum ser humano precise mais correr para salvar a vida.
E convido a todos, como Igreja em saída, a sermos solidários, a apoiarmos iniciativas que defendem os direitos dos migrantes e refugiados, e a abrirmos nossos corações e comunidades ao clamor dos que perderam e continuam a perder tudo. Que Deus lhes cumule de esperança.
Que Maria, refugiada, Mãe e esposa de refugiados no Egito, nos ajude a nunca nos calarmos diante dessa tremenda injustiça.