Na antevéspera do Natal, quando a Igreja se prepara para celebrar o nascimento de Jesus, a Diocese de Cachoeiro de Itapemirim vive também um momento especial de ação de graças: o aniversário natalício de seu bispo diocesano, Dom Luiz Fernando Lisboa, CP, que completa 70 anos de vida nesta terça-feira, 23 de dezembro. A data, marcada pela proximidade com o mistério da Encarnação, ajuda a compreender a espiritualidade e o modo de ser pastor de Dom Luiz, profundamente centrados no serviço, na defesa da vida e na promoção da dignidade humana.
Nascido em 23 de dezembro de 1955, em Marques de Valença (RJ), Dom Luiz Fernando é o nono de doze filhos do casal Francisco Lopes Pereira Lisboa e Benedita de Oliveira Pereira, ambos já falecidos. Criado em uma família simples e profundamente religiosa, teve desde cedo contato com a oração e com a vida comunitária da Igreja. “A fé sempre fez parte da nossa casa. A oração era algo natural, cotidiana”, recorda.
Ao falar da infância, Dom Luiz relembra o ambiente rural e as visitas frequentes do pároco local, o padre dehoniano Benigno, que deixaram marcas profundas. Com bom humor, conta que o pai costumava compará-lo ao sacerdote, o que despertou lentamente o desejo de seguir a vida religiosa. “Aquilo foi ficando dentro de mim. Eu sabia que seria padre, mesmo sem entender muito bem o que isso significava naquele tempo”, afirma.
A decisão de ingressar no seminário e perseverar no caminho vocacional não foi isenta de desafios. Dom Luiz reconhece que houve momentos de dúvida e exigências próprias da formação, mas destaca a importância das pessoas que o acompanharam nesse processo. “Nunca caminhamos sozinhos. Deus sempre coloca pessoas certas na nossa vida para ajudar a discernir e amadurecer”, ressalta.
Aos 19 anos, ingressou no Seminário São Gabriel, da Congregação da Paixão de Jesus Cristo (Missionários Passionistas), em Osasco (SP). Realizou o noviciado em São Carlos (SP), cursou Filosofia na Pontifícia Universidade Católica de Curitiba (PUC), então denominada UCP, e Teologia no Instituto Teológico São Paulo (ITESP). Em 10 de dezembro de 1983, foi ordenado sacerdote na Igreja Matriz de Osasco, hoje Catedral da Diocese. “Sempre recordo com gratidão a acolhida do povo. Foi ali que aprendi que o ministério só faz sentido quando é vivido junto das pessoas”, afirma.
A missão sacerdotal, assumida com simplicidade, foi ampliada quando Dom Luiz recebeu o chamado ao episcopado. “Ninguém imagina ser bispo. A gente imagina servir, ser padre, estar com o povo”, comenta. Em 2001, partiu como missionário ad gentes para a Diocese de Pemba, em Moçambique, onde permaneceu por nove anos. A experiência africana marcou profundamente sua vida e sua compreensão do Evangelho. “A África me ensinou a olhar o mundo a partir dos pobres. Ali eu aprendi o que significa depender de Deus todos os dias”, testemunha.
Após retornar ao Brasil, atuou por quatro anos como pároco da Paróquia Santa Teresinha de Lisieux, em Colombo, na Arquidiocese de Curitiba. Mesmo assim, manteve o coração voltado para Moçambique, promovendo campanhas de solidariedade e sensibilizando comunidades brasileiras para a realidade daquele povo. “Quem ama não esquece”, afirma.
Em 12 de junho de 2013, foi nomeado pelo Papa Francisco bispo da Diocese de Pemba, sendo uma das primeiras nomeações do atual pontificado. Tomou posse dois meses depois e ali permaneceu por mais de sete anos, em um período marcado por graves conflitos armados na região de Cabo Delgado. Seu episcopado ficou conhecido pela defesa firme da vida, da paz e dos direitos humanos. “Quando a vida é ameaçada, o silêncio da Igreja se torna cumplicidade. O Evangelho nos obriga a falar e a agir”, enfatiza.
Em 11 de fevereiro de 2021, Dom Luiz Fernando Lisboa foi nomeado bispo da Diocese de Cachoeiro de Itapemirim. Na mesma data, recebeu do Papa Francisco a dignidade de arcebispo. A posse canônica ocorreu em 20 de março de 2021, quando se tornou o quinto pastor a conduzir a Diocese. Sobre a chegada ao Sul do Espírito Santo, ele é enfático: “Fui acolhido com muito carinho. Sou muito feliz aqui e me sinto em casa”.
Ao longo de sua trajetória episcopal, Dom Luiz tem se destacado como uma voz profética em defesa da igualdade, da dignidade humana e dos direitos humanos. Recentemente, publicou uma carta pastoral na qual repudiou de forma veemente o feminicídio e toda forma de violência. “Não podemos naturalizar a morte das mulheres. Isso é pecado, é uma ferida aberta na sociedade e um escândalo diante de Deus”, afirmou na ocasião.
Para o bispo, a promoção dos direitos humanos não é uma pauta externa à fé, mas parte essencial da missão da Igreja. “Em qualquer lugar onde a vida não é respeitada, onde pessoas são descartadas, a Igreja precisa estar presente. Jesus foi muito claro: ‘Eu vim para que todos tenham vida’ (Jo 10,10)”, reforça. Ao recordar Moçambique, Dom Luiz denuncia a exploração predatória das riquezas naturais, a desigualdade social e a guerra que há anos provoca sofrimento e deslocamento forçado de milhares de famílias. “A riqueza da terra não chega ao povo. Chega às armas, à violência, à morte”, lamenta.
Ao resumir sua própria história, Dom Luiz escolhe a palavra “servir”. Ele recorda que escolheu o dia 10 de dezembro para sua ordenação sacerdotal justamente por ser o Dia Mundial dos Direitos Humanos. “Isso não foi por acaso. Desde jovem, entendi que a fé precisa se traduzir em compromisso com a vida concreta das pessoas”, afirma. “Meu ministério é servir a Deus cuidando de seus filhos e filhas, especialmente dos mais pobres.”
Ao falar sobre o aniversário, Dom Luiz fez um pedido incomum. “Vai ser a primeira vez que, no meu aniversário, eu peço um presente”, disse, sorrindo. “Nunca dei muita importância a isso, mas desta vez eu estou pedindo.” O presente solicitado é uma doação, via PIX, destinada a ajudar populações atingidas pela guerra em duas regiões africanas: Cabo Delgado, em Moçambique, e o Sudão do Sul.
Segundo o bispo, os recursos arrecadados serão enviados integralmente aos bispos locais para ações emergenciais de assistência humanitária. “Em Cabo Delgado, há cerca de um milhão de deslocados por causa da guerra. No Sudão do Sul, são treze milhões de refugiados. Treze milhões! Pessoas passando fome, vivendo em acampamentos, sem horizonte”, relata. E acrescenta, com firmeza: “Eu sei o que é ver isso de perto. Quem puder me dar esse presente, saiba que não é para mim. É para quem precisa sobreviver”.
Dom Luiz também critica a invisibilidade dessas guerras. “A África quase não aparece na imprensa internacional. Fala-se muito de algumas guerras, mas se esquece de milhões de pessoas que sofrem todos os dias no continente africano”, lamenta.
Ao concluir, Dom Luiz Fernando expressa profunda gratidão a Deus pela missão vivida, especialmente em Moçambique, e pela caminhada junto ao povo da Diocese de Cachoeiro de Itapemirim. “A minha vida é um dom recebido. Se tenho algo a celebrar aos 70 anos, é a graça de ter podido servir”, afirma, renovando seu compromisso com a Igreja, com os pobres e com a promoção da dignidade humana, fiel ao Evangelho de Jesus Cristo.
Serviço
Em seu aniversário de 70 anos, Dom Luiz Fernando Lisboa pede como presente um gesto de solidariedade em favor das vítimas da guerra na África.
Destinação das doações:
Populações atingidas pelos conflitos em Cabo Delgado (Moçambique) e no Sudão do Sul
Chave PIX:
diocesedecachoeirodeitapemirim@dci.org.br
Finalidade:
Os valores arrecadados serão enviados integralmente aos bispos locais para ações de assistência humanitária, como apoio a famílias deslocadas, combate à fome e ajuda emergencial a refugiados.
“Quem puder me dar esse presente, saiba que não vai ser para mim, mas para quem precisa sobreviver.”
— Dom Luiz Fernando Lisboa