Pe. José Carlos Ferreira da Silva
Ela chegava devagar. Não por falta de vontade, mas por causa da idade. Noventa e um anos bem vividos, bem doados, bem amados. Irmã Otília não fazia alarde. Nem precisava. Sua presença é daquelas que se reconhece no silêncio e na pontualidade com que visitava os doentes, na Santa Casa de Misericórdia, na cidade de Cachoeiro de Itapemirim, levando uma palavra mansa, um sorriso sincero e, principalmente, o conforto de Deus.
Pequena, magra, simples — como o pão que se reparte e sustenta. Parece que o vento poderia levá-la, mas é ela quem movia os ventos, os corações, as dores alheias. Não carregava diplomas, títulos ou grandes feitos visíveis, mas tinha nos olhos a paz de quem guardava segredos santos. Seu hábito de cor branca já havia gastado o tecido. Mas seu coração, ah, esse nunca se desgastou de amar!
Há quem pense que Deus escolhe morar nos fortes, nos puros, nos inteligentes. Mas Jesus nunca disse isso. Pelo contrário: prometeu fazer morada em quem ama. E isso muda tudo! Porque amor não é troféu nem conquista — é entrega. É decisão de se dar, mesmo quando não se tem mais forças. Irmã Otília sabia disso. Por isso, mesmo aos 91, ainda saía pelos corredores do hospital com seu passo curto, mas com sua alma larga como o céu.
A casa de Deus é o coração humano que se abre ao amor. Não o amor de novela, de bilhetinhos ou juras de verão. Mas o amor que escuta. Que guarda a Palavra como quem guarda um segredo precioso. Que pratica com as mãos, com os pés, com o tempo doado. Que se faz presença — concreta, viva, serena.
Irmã Otília não era notícia, não viralizava, não subia aos púlpitos nem aos palcos. Mas fazia de cada visita, de cada conversa, um altar onde Deus repousa. Sua vida foi um sacrário ambulante. Seu olhar foi mais eficaz que qualquer sermão.
Numa época em que tantos correm para parecer importantes, ela caminhava devagar para permanecer essencial. A cada doente que visita, a cada palavra que semeava, ela refazia a lógica do Reino. Mostrava que a eternidade não começa depois da morte, mas depois do amor.
E, quem a via passar, pequena, magra, simples, entendia o mistério: Deus mora onde há amor. E onde há uma Irmã Maria Joana Otília, com certeza, Deus já está em casa.
Nos últimos dias é Otília quem estava no leito – o corpo alquebrado pelo câncer, sem condições de sair, de visitar, de ir ao encontro como sempre fez. Mas quem a visitava, era quem se via visitado — pela paz que emana dela como dom, como graça, como presença do Sagrado. Mesmo em silêncio, mesmo na fragilidade, ela continuava sendo casa de Deus, lugar onde o amor se fez morada e repouso. Em nome de tantos corações curados por sua presença, consolados por sua escuta, transformados por sua fé vivida, dizemos: obrigado, Irmã Otília! Porque o amor que você ensinou com os passos agora floresce no repouso. E Deus, que nunca abandona sua casa, permanece aí — em você!