Corpus Christi de Castelo: Tapete faz referência à Nossa Senhora do Amparo

A tradição religiosa se mantém viva em Castelo com a confecção dos tradicionais tapetes de Corpus Christi, que enfeitam as ruas da cidade neste dia sagrado do calendário católico.

A dimensão dessa celebração impressiona. São 17 quadros com 17 passadeiras formando tapetes expostos em quase 1,5 km e aplaudidos por milhares de moradores e turistas. São cinco mil metros quadrados de arte a céu aberto. Uma das obras é assinada pelo artista plástico José Márcio Quaggiotto Malavolti.

No centro da composição, duas dimensões se entrelaçam de forma simbólica: o Céu e a Terra. A obra apresenta uma proposta visual marcada por antíteses, remetendo à estética do período barroco, especificamente ao ano de 1625, quando foi fundada a Capela de Nossa Senhora do Amparo — marco das Missões dos Montes do Castello e considerada o “Centro” espiritual daquela região.

A justaposição entre o dia e a noite representa não apenas a alternância natural do tempo, mas também a coexistência de duas épocas históricas distintas, que se fundem no imaginário. No plano celeste, um menino solta o globo terrestre, que se afasta de suas mãos e aparece ao longe, suspenso no céu, iluminado por uma lua. Essa lua está fixada próxima à imagem de Maria, sugerindo que, mesmo à distância, a Terra permanece sob sua proteção.

No plano terrestre, o Forno Grande — formação geográfica que deu nome à cidade de Castelo — é retratado à noite, evocando uma visão apocalíptica, um mundo idealizado, porém esquecido e abandonado à vontade divina. Tal como a pequena Capela de Nossa Senhora do Amparo, o Forno Grande simboliza uma memória perdida, obscurecida pela fuga dos habitantes para Itapemirim.

O Apocalipse, entendido aqui como revelação, aponta para um destino último: o Céu. Abaixo, uma nova realidade se revela. Um caminho à beira-mar simboliza um novo tempo e um novo templo. Marco dessa travessia são o Itabira e as formações rochosas do Frade e a Freira, elementos que reforçam a identidade do trajeto — o mesmo que percorremos hoje ao irmos à praia. Ao fundo, mais uma vez, surgem os Montes do Castello, tal como eram avistados pelos jesuítas de outrora.

A nova igreja é apresentada ainda jovem, sem as palmeiras que hoje a cercam, sinalizando outra época. Do alto do Céu, a Virgem Maria observa e acompanha o desenrolar da cena terrena. Seu olhar protetor acolhe e guia — como nas antigas representações do Amparo, onde seu manto se estendia sobre os fiéis. Estrelas bordadas nesse manto evocam o Cruzeiro do Sul, sugerindo que o caminho até o Céu é indicado pelas estrelas. Maria aparece como a “Stella Maris” — Estrela do Mar — que orienta os peregrinos rumo à salvação, como outrora guiou aqueles que deixaram os Montes do Castello em direção ao litoral.

O caminho remete à figura do peregrino — representado tanto pelos jesuítas quanto por nós, os batizados — que segue em direção ao Céu, guiado pela luz de Maria do Amparo. Curiosamente, a procissão representada não está chegando, mas partindo. Trata-se de um retorno simbólico a Castelo, em celebração aos 400 anos da fundação da missão.

Nas bordas da composição, encontram-se a Cruz Missioneira e os quatro pontos cardeais: Norte, Sul, Leste e Oeste — destinos dos peregrinos enviados em missão. O Céu de Maria permanece presente com suas luas e estrelas, enquanto, nos quatro cantos da obra, surgem os símbolos marianos: Rainha do Céu, Rainha da Terra, o Imaculado Coração e o Rosário. Esses emblemas reforçam a presença constante e a proteção da Virgem em todos os momentos e direções da jornada espiritual.

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Autor:

Diocese Cachoeiro

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