Da sacristia ao mundo

Dom Luiz Fernando Lisboa, CP


A Igreja, iluminada pela Palavra de Deus e atenta aos sinais dos tempos, é chamada continuamente à conversão pastoral. O Concílio Vaticano II, especialmente nas Constituições Lumen Gentium
e Gaudium et Spes, recorda-nos com vigor que a missão da Igreja não se esgota na sacristia, mas alcança o coração do mundo. A Igreja existe para evangelizar — e evangelizar significa formar pessoas que testemunhem o Reino de Deus em todas as dimensões da vida.

É hora de uma virada pastoral. Urgente e inadiável. Não se trata de substituir o que é tradicional, mas de reorientar a ação evangelizadora com um olhar integral: não formamos apenas ministros para a celebração, para o culto, mas discípulos para a vida.

1. Cristãos na economia para empreender com justiça.

O mundo clama por empreendedores que não vejam apenas lucro, mas justiça. O Magistério da Igreja, em particular a encíclica Laborem Exercens de São João Paulo II, ensina que o trabalho é participação na obra criadora de Deus e que a economia deve estar a serviço da pessoa. A paróquia deve ajudar os fiéis a entenderem que empreender com ética é um modo concreto de viver sua fé.

2. Profissionais da saúde que cuidem da vida como dom.

Vivemos em uma cultura de descarte. Precisamos formar profissionais da saúde que reconheçam a sacralidade da vida em todas as suas fases. O Documento de Aparecida afirma: “A defesa da vida deve ser prioridade da missão da Igreja no campo da saúde”. Cuidar do enfermo, acolher com compaixão, lutar pela dignidade dos vulneráveis é ser presença do Cristo, médico das almas e dos corpos.

3. Políticos com sabedoria e temor de Deus.

Disse Papa Francisco em encontro com líderes, em 20 de maio de 2021. “A política é a forma mais alta, maior, da caridade. O amor é político, isto é social, para todos”. A Igreja não faz política partidária, mas é sua missão formar consciências. Uma pastoral renovada deve estimular a presença de leigos que, com fé e competência, possam servir o bem comum e promover políticas públicas inspiradas nos valores do Evangelho.

4. Artistas que expressem a beleza que evangeliza.

A arte cristã não é ornamento, é anúncio. Como nos lembra a Constituição Gaudium et Spes, a cultura é um espaço legítimo de evangelização. Precisamos incentivar artistas que expressem beleza e verdade com autenticidade. A paróquia deve enxergar o artista como missionário que, com sua criatividade, comunica o mistério de Deus de forma única.

5. Jovens que vivam a fé com coragem pública.

O Documento de Aparecida nos exorta a investir na juventude com coragem e criatividade. Jovens não são apenas o futuro, são o presente de Deus. Devem ser encorajados a viver sua fé com clareza e liberdade, também nas redes sociais, nos centros acadêmicos, nas ruas e no mercado de trabalho. Pastoral juvenil não pode ser entretenimento: deve ser formação para a missão.

6. Da manutenção à Missão.

Formar ministros para a liturgia é necessário. Mas formar líderes cristãos para o mundo é urgente. Cada Comunidade Eclesial de Base, cada paróquia da nossa Diocese de Cachoeiro de Itapemirim, deve ser escola de discipulado missionário, como propôs o Documento de Aparecida.

Uma Igreja que investe em seus leigos e leigas, que os forma para servir com fé e competência, é uma Igreja verdadeiramente em saída, como nos pedia o Papa Francisco.

Precisamos saber dar razão de nossa fé, ou seja, em quem e por quê acreditamos. Para tanto é necessário FORMAÇÃO. Nós, os líderes, devemos oferecer cursos, palestras, debates, encontros, retiros. Os batizados em geral precisam acolher e participar do que é oferecido para não ficarem apenas com o que aprendem nas celebrações do domingo, dia do Senhor.

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Autor:

Dom Luiz Fernando Lisboa

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