Por Dom Luiz Fernando Lisboa
No dia 3 de outubro de 2020, o Papa Francisco nos presenteou com a encíclica Fratelli Tutti. Um texto profundamente atual e necessário, que nasceu em meio às dores de um mundo ferido pela pandemia, pelas guerras e pelas desigualdades. Nesse documento, o Santo Padre nos recorda algo essencial: a compaixão não é um sentimento frágil ou passageiro, mas um modo de vida, capaz de curar feridas e renovar vínculos.
Francisco afirma: “A compaixão é a melhor forma de aproximar-se de quem sofre” (FT 67). Essa afirmação toca diretamente o coração do Evangelho. Aproximar-se de quem sofre não significa apenas sentir pena ou oferecer palavras, mas assumir a dor do outro como parte da própria vida, como fez o bom samaritano. Ele não desviou o olhar, não encontrou desculpas para passar adiante, mas parou, cuidou e se comprometeu. Isto é compaixão!
A compaixão é a linguagem e a atitude do próprio Cristo. Foi ela que moveu Jesus diante das multidões cansadas e famintas, que o fez estender a mão aos doentes, perdoar os pecadores e chorar diante da dor de seus amigos. No coração do Evangelho, compaixão e proximidade são inseparáveis.
Nos dias de hoje, quando a pressa, a indiferença e até mesmo a indiferença digital anestesiam nosso olhar, a palavra do Papa ressoa como alerta e como luz. É preciso recuperar a sensibilidade para enxergar os que sofrem: famílias sem pão, jovens sem perspectivas, migrantes rejeitados, vítimas da violência e da exclusão. A compaixão nos lembra que a dor deles não é distante, mas parte da nossa própria história.
Quem se deixa conduzir pela fé sabe que o encontro com Cristo passa necessariamente pelo encontro com os crucificados de hoje. Aproximar-se deles é aproximar-se do próprio Senhor.
Que Maria, Mãe da Compaixão, nos ajude a manter os olhos atentos e o coração sensível, para que nunca falte em nosso meio a presença viva da ternura de Deus.