Por Dom Luiz Fernando Lisboa
Receber o título de Membro Honorário da Academia Cachoeirense de Letras foi para mim um momento de grande alegria e profunda gratidão. Senti-me acolhido entre irmãs e irmãos que cultivam o amor à palavra, à beleza e à verdade — valores que também sustentam a fé. A literatura, assim como o Evangelho, tem o poder de tocar o coração humano, abrir horizontes e provocar mudanças que nascem primeiro dentro de nós, para depois se traduzirem em gestos concretos de transformação social.
Agradeço à Academia pela homenagem e, mais do que isso, pela missão que ela representa em nossa cidade e em toda a região: formar consciências, despertar sensibilidades e manter viva a chama da cultura, especialmente em tempos em que o ruído do imediatismo ameaça o silêncio da reflexão. A escrita é uma forma de resistência espiritual. Quem escreve, sonha com o futuro e semeia esperança.
Durante a sessão solene, ao olhar para os jovens premiados e para os acadêmicos e acadêmicas presentes, senti o desejo de fazer um apelo pastoral e humano: que todos nós, escritores, poetas, músicos, artistas, religiosos e comunicadores, rezemos pedindo o dom da indignação.
Sim, o dom da indignação santa, aquela que não se resigna diante do racismo, do preconceito, da fome, da pobreza e de toda forma de exclusão. A indignação que não destrói, mas move o coração à ação, que transforma a dor em palavra, a palavra em gesto e o gesto em solidariedade.
A verdadeira arte — e a boa literatura — não se contentam em descrever o mundo; elas o questionam e o recriam à luz da dignidade humana. Quando um escritor se indigna, ele denuncia as sombras e acende luzes; quando um poeta se comove, ele evangeliza pela beleza.
Por isso, convido todos os que cultivam a arte da palavra a assumirem sua vocação como missão. Escrever é servir. É cuidar da alma coletiva de um povo. É anunciar, com sensibilidade e coragem, que outro mundo é possível, mais justo, inclusivo, fraterno e luminoso.
Que Deus abençoe todos os membros da Academia Cachoeirense de Letras, seus novos acadêmicos, seus jovens talentos e todos os que se dedicam à cultura em nossa terra. E que o Espírito Santo nos conceda, cada dia mais, o dom da indignação que desperta e da esperança que constrói.