Pe. José Carlos Ferreira da Silva
Descobri, através dos noticiários, por obra do IBGE, que não sou só mais um José. Sou um entre cinco milhões, cento e sessenta e quatro mil, setecentos e cinquenta e dois. Cinco milhões de Josés espalhados pelo Brasil. Somos mais do que torcida organizada — somos uma nação.
Quando li a notícia, senti um leve baque. Achei que carregava um nome com certo peso, mas também com certa exclusividade. José do avô, José do vizinho, José do padeiro, do padre, da minha infância — tudo bem, sempre houve muitos por aí. Mas cinco milhões? Não esperava tanto.
O primeiro lugar, claro, é de Maria. Rainha absoluta dos registros civis, das novenas e dos batismos. Maria é quase um patrimônio imaterial. José vem logo atrás, como manda a tradição — o fiel escudeiro. Fiquei imaginando quantas combinações existem por aí: Maria José, José Maria, José da Silva, José dos Santos. O Brasil é praticamente um grande mosaico de Marias e Josés, cada um com sua história, sua luta, sua voz.
E eu aqui, achando que meu nome era só meu.
Mas, no fundo, há algo bonito nisso. Não estou sozinho. Em algum canto do país tem outro José acordando cedo, pegando ônibus lotado, tomando café em copo de vidro, tentando fazer a vida dar certo. Somos muitos, sim. Mas cada um é um. O que muda é o sobrenome, o endereço, o sotaque, o jeito de rir.
Ser José é quase ser Brasil. A beleza do nome comum é que ele não precisa chamar atenção. Ele já chegou antes, pavimentou o caminho, segurou nos braços o próprio Deus feito homem. Quando assino como José, estou dizendo que faço parte de uma linhagem invisível e sólida — gente que trabalha, que insiste, que constrói.
Por isso, ao tomar consciência da multidão que formamos, disse a mim mesmo: não preciso ser o único José. Basta ser mais um que honra o nome.