Padre Carlos Renato Carriço Gomes
Eis que a vida se impõe a nós. Não escolhemos existir, mas fomos chamados por Deus a viver. E toda pessoa é resposta a um chamado profundo da Vida. E sendo únicos e irrepetíveis descobrimo-nos parte de um mundo que transcende nossa compreensão e que se mostrará aos poucos na medida que formos crescendo e amadurecendo. Passamos do eu a um reconhecimento de um tu. Da compreensão de ser humano para a consciência de ser humanidade.
Eis que a vida se amplia em significados. Vamos nos construindo na medida de nossos encontros com o outro e com o mundo. Preenchendo as lacunas de nossas buscas com as experiências vividas que marcam nossa memória. O ser humano pode então se colocar na trilha das perguntas que dão movimento ao seu ser e lhe faz dar passos em seu caminho espiritual unindo-se a um caminho de fé na religião. Sente-se chamado a um religar-se constante ao todo do qual faz parte.
Eis que a vida se mostra comunidade. Os escolhidos se unem para responder sim ao chamado, pois sabem que respondendo juntos, suas vozes ecoam mais longe e mais forte. Os afetos se conectam numa profunda amizade. Os sentimentos se entrelaçam num profundo cuidar-se. Os pensamentos se unem em sonhos que anseiam ser compartilhados. O nós fortalece o eu e o eu dá sentido ao nós. O chamado ao nós transcende os espinhos do cotidiano da convivência.
Eis que a vida se entende uma abertura a “ser-com-o-outro”. Nossa fragilidade em criar vínculos hoje deve ser superada pela essencialidade da Vocação que é profundamente comunitária. A comunidade humana anseia por vínculos mais profundos de comunhão e fraternidade. E a Igreja é também este caminho que pode nos proporcionar essa realidade que nos faça ver tudo “interligado” pois estamos na mesma Casa Comum. O existir se mostra carregado de sentido quando nos damos as mãos para caminhar juntos.
Eis que a vida se mostra um horizonte a ser buscado. Se somos seres de “falta”, eis que o buscar, faz parte de nosso ser. E é no ser que se encontram caminhos. Mas, só se é com o outro e o outro é um mistério a ser desvendado. No caminhar da vida escolher com o outro estradas que nos levem a um viver melhor, por dentro e por fora, fazendo nascer uma “nova humanidade”. E um novo tempo pode nascer levando-nos a um alvorecer de coisas boas que podem nascer da profundeza do coração.
Eis que a vida se dá como chamado e resposta. O que sou e que consigo ser ofereço ao mundo e o modo como sou com o outro é resposta ao dom da vida que um dia recebi. É preciso recordar que a vida precisa valer a pena pois ela é infinitamente valiosa. A vida não tem preço pois é “morada de Deus” no mundo. Por isso, cuide-se e cuide da vida, pois no cuidado revela-se o amor. Eis então, a essencialidade da Vocação, revelarmos ao mundo que somos eu e o outro a construir caminhos de cuidado e amor. E nesse caminho de encontros revelarmos Deus.