As plantas da minha mãe

Pe. José Carlos Ferreira da Silva

Minha mãe gostava de plantas simples. Suas preferidas eram as samambaias e as avencas, que pendiam das janelas como cabelos verdes, respirando o ar da casa. Ela falava com elas, todos os dias, como quem conversa com uma vizinha próxima. Eu, pequeno, ficava intrigado: “ela gosta de flores que não dão flores”.

Cresci acreditando que minha mãe era esquisita, porque na minha cabeça de criança o bonito estava sempre nas cores das pétalas, nos perfumes de jardim. Mas a beleza dela morava em outro lugar, escondida nos detalhes de folhas que se multiplicavam silenciosas, desenhando frisos, rendas, delicadezas que só o tempo paciente revela.

Foi na escola, nas aulas de ciências, biologia sob a regência da Tia Elenir Gomes, nada de mansa, que descobri: aquelas companheiras verdes da minha mãe tinham nome difícil, pteridófitas. Não precisavam de flores para serem completas, bastavam-se em folhas, raízes e esporos invisíveis. Eu sorri sozinho nesse dia — parecia que, por trás da lição, havia uma explicação secreta para ela.

Hoje penso que minha mãe também era assim: não fazia alarde, não enfeitava a vida com grandes gestos, mas se multiplicava em silêncios e cuidados. Uma pteridófita humana, discreta, sempre presente, sempre verde.

É por isso que, diante de uma cortina de samambaias, sou atravessado pela certeza de que ela permanece. Não em flores, mas na seiva discreta que insiste em sussurrar entre as folhas.

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Autor:

Pe. José Carlos

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