O bispo diocesano de Cachoeiro de Itapemirim, Dom Luiz Fernando Lisboa, CP, divulgou uma carta dirigida especialmente aos homens, motivado pelo Dia Internacional pela Eliminação da Violência contra as Mulheres, celebrado em 25 de novembro, e pela preocupação crescente com os índices de agressões registrados no Espírito Santo. Iniciada com o tema bíblico “Livrai o oprimido das mãos do opressor” (Jr 22,3), na carta, o bispo faz um apelo contundente para que a comunidade masculina assuma a responsabilidade de enfrentar e transformar a realidade marcada pela violência, considerada por ele não apenas um problema social, mas uma profunda ferida moral, espiritual e humana.
No início da mensagem, Dom Luiz afirma que, no rosto de cada mulher violentada, é possível enxergar o Cristo Crucificado e a própria Igreja ferida. Ele destaca que os números oficiais comprovam a gravidade da situação: somente em 2024, o Espírito Santo registrou 15.954 atendimentos por violência contra a mulher no canal Ligue 180, aumento de 44% em relação ao ano anterior, além de 2.670 denúncias formais. Dados do Observatório Mulher ES indicam milhares de casos de violência física, psicológica, sexual, moral e patrimonial em 2023. No ano seguinte, 41% dos homicídios de mulheres no estado foram classificados como feminicídios. Embora 2025 apresente discreta queda, cada caso permanece sendo, segundo o bispo, “uma tragédia que não deveria existir”.
Dom Luiz destaca que números não consolam, pois cada estatística representa uma mulher com nome, rosto, história e, muitas vezes, filhos traumatizados pela violência. Ele cita o Papa Francisco, que define a agressão contra a mulher como “uma chaga que desfigura a humanidade”, e lembra que modelos distorcidos de masculinidade, baseados no poder, na agressividade e no silêncio, ferem o Evangelho. Para o bispo, “um estilo de masculinidade que gera medo não é cristão”, e um homem que levanta a mão contra uma mulher contradiz diretamente o próprio batismo.
Dirigindo-se aos homens cristãos, ele afirma que é preciso nomear claramente o mal a ser combatido e descreve todas as formas de violência, reforçando que nenhuma delas é compatível com a fé. Ele relembra passagens bíblicas que orientam o amor, o serviço e o cuidado, e cita documentos da Igreja que denunciam a violência doméstica como algo que precisa ser erradicado. Dom Luiz também reconhece que muitos comportamentos violentos têm raízes em frustrações, padrões aprendidos na infância, alcoolismo, drogas e dificuldades emocionais. A conversão, segundo ele, passa pelo reconhecimento de limites e pela busca de ajuda quando necessário.
Em tom firme e fraterno, o bispo pede que os homens não se omitam diante de situações de violência praticadas por amigos, parentes ou vizinhos. Ressalta que a fé cristã não admite neutralidade diante do sofrimento e que um homem pode ajudar outro a mudar, salvando uma família inteira. Segundo ele, é preciso ter coragem para dizer: “Isso não é certo”, “Pare antes que destrua sua família” e “Procure ajuda”. Para Dom Luiz, uma simples conversa pode salvar vidas.
Na carta, ele convoca especialmente os homens que participam das Comunidades Eclesiais de Base, dos círculos bíblicos, pastorais, movimentos, grupos de oração e do Terço dos Homens a abordarem o tema com maturidade cristã, promovendo rodas de conversa e reflexões sobre masculinidade saudável, cuidado emocional, prevenção à violência, superação do machismo, educação dos filhos e fé comprometida com a vida. Para o bispo, uma comunidade que fala sobre o problema é uma comunidade que cura, enquanto o silêncio se torna cúmplice.
O bispo ainda orienta como agir diante de casos ou suspeitas de violência: acionar o Ligue 180, o 190, procurar a Delegacia Especializada da Mulher, garantir atendimento médico e psicológico, acolher sem julgar e assegurar que a vítima não fique sozinha. No âmbito da Diocese, ele propõe medidas concretas como a criação de grupos comunitários e paroquiais de enfrentamento à violência, produção de materiais formativos para homens, implementação do Mês da Proteção da Mulher, formação de agentes de pastoral para acolhimento de vítimas, promoção de encontros anuais sobre masculinidade cristã e integração das paróquias às redes de proteção municipal e estadual, além do fortalecimento das pastorais da Escuta, da Mulher e da Pastoral Familiar.
Dom Luiz também reconhece o sofrimento das mulheres e das crianças vítimas de violência doméstica, lembrando que os pequenos, muitas vezes invisíveis, carregam traumas ao longo da vida. Ele pede perdão pelo silêncio histórico e exorta os fiéis a ouvirem o clamor das mulheres, rezarem por suas dores e assumirem a missão de proteger vidas.
A carta termina com uma invocação a São José, exemplo de homem justo, pedindo que ele ensine os homens a amar sem dominar, proteger sem controlar e servir sem esperar nada em troca. O bispo pede que o Espírito Santo converta corações endurecidos e que Deus envie os homens como defensores da dignidade de cada mulher, concluindo sua mensagem com bênção e cuidado pastoral.