Catequese hoje: desafios, esperanças e o caminho da mistagogia nas Comunidades de Base

Pe. Carlos Henrique Dias,

Assessor diocesano da Iniciação à Vida Cristã

 

Vivemos um tempo de profundas transformações, dentro e fora da Igreja. As mudanças sociais, culturais e até mesmo eclesiais nos colocam diante de um desafio inadiável: renovar a catequese, sem perder sua alma. Como padre responsável pela Iniciação à Vida Cristã em nossa diocese, acompanho de perto o caminho das comunidades de base, seus anseios, suas lutas e também suas riquezas. É a partir dessa escuta pastoral e da convivência com os catequistas que escrevo este artigo, como uma partilha fraterna e uma palavra de esperança.

A catequese entre o cansaço e o recomeço

Muitos catequistas têm me relatado: “Padre, está difícil manter o entusiasmo… os pais não colaboram, as crianças vêm sem compromisso, e a comunidade parece distante”. É verdade. A atual conjuntura nos confronta com uma realidade desafiadora: famílias fragmentadas, juventude desmotivada, comunidades enfraquecidas, e, por vezes, uma pastoral que ainda caminha por setores isolados, sem comunhão.

No entanto, é justamente neste terreno árido que a semente do Evangelho é chamada a dar frutos. Lembro que a catequese não é simplesmente “dar aulas”, mas gerar discípulos, formar corações para Cristo, ajudar homens e mulheres a fazerem uma verdadeira experiência de fé viva e comunitária.

O querigma: ponto de partida sempre necessário

É tempo de recuperar a centralidade do querigma — o primeiro anúncio, apaixonado e transformador, do amor de Deus revelado em Jesus Cristo morto e ressuscitado. O Papa Francisco, na Evangelii Gaudium, recorda que o querigma não é apenas o início, mas o coração de toda a ação evangelizadora. E isso inclui a catequese!

Sem o querigma, a catequese se torna um conjunto de informações religiosas sem vida. Com ele, nasce a fé, reacende-se a alegria, e renova-se o ardor missionário. Precisamos recomeçar do essencial: anunciar Jesus com o coração inflamado e os olhos brilhando.

A mistagogia: conduzir à experiência do mistério

Outro caminho fundamental é a mistagogia — isto é, a catequese que conduz à experiência do mistério de Deus, celebrada na liturgia e vivida no cotidiano. Mistagogia não é “mais teoria”, mas o contrário: é mergulhar o catequizando no mistério de Deus através da Palavra, da oração, dos símbolos, do silêncio, da vida comunitária.

Nas comunidades de base, onde a vida pulsa nas relações de proximidade, na partilha da fé e do pão, a mistagogia pode acontecer de forma muito concreta. Celebrar a Palavra numa casa, rezar juntos diante de uma dificuldade, acolher o doente com carinho: tudo isso é catequese mistagógica.

Comunidade: berço da fé

Não há iniciação cristã verdadeira fora do seio da comunidade. Por isso, a catequese precisa estar enraizada nas comunidades de base, que são espaço privilegiado de escuta, cuidado e vivência da fé. Onde a comunidade vive o Evangelho, a catequese floresce.

Precisamos incentivar a participação dos catequizandos e suas famílias nas celebrações, nos grupos, na vida comunitária. A catequese deve ser mais integrada, mais missionária, mais encarnada na realidade do povo.

Um novo ardor para os catequistas

Queridos catequistas: sabemos do cansaço, mas também acompanhamos o esforço de todos. A missão de vocês é nobre, é dom e serviço. Renovem-se na oração, na formação e na vida comunitária. Lembrem-se: vocês são evangelizadores, são sementes do Reino lançadas nas realidades mais diversas. E o Espírito Santo age mesmo onde nossos olhos não enxergam.

Conclusão: juntos, pela iniciação cristã integral

Sonhamos com uma catequese que seja iniciação à vida cristã, e não apenas preparação para sacramentos. Sonhamos com comunidades que evangelizam de forma integrada, numa pastoral de conjunto, onde cada batizado se reconhece discípulo e missionário. Sonhamos com uma Igreja que acolhe, acompanha e forma corações para Deus.

Neste caminho, o querigma e a mistagogia não são “teorias modernas”, mas verdadeiros tesouros que nos ajudam a voltar à fonte, a reencontrar a alegria do Evangelho e a formar cristãos enraizados na fé, comprometidos com o Reino e cheios de esperança.

Que o Espírito Santo, protagonista da catequese, nos guie e renove sempre!

 

Com afeto e bênção,

Pe. Carlos Henrique Dias

Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Penha – Alegre

 

 

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Autor:

Pe. Carlos Henrique Dias

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