Na manhã desta quarta-feira, 28 de maio, com o coração apertado, mas profundamente agradecida, a Diocese de Cachoeiro de Itapemirim se despediu da Irmã Maria Joana Otília, religiosa do Instituto das Irmãs de Jesus na Eucaristia, que faleceu aos 91 anos na tarde de segunda-feira, 26, após enfrentar um câncer no fígado. A religiosa, por quase seis décadas, dedicou sua vida ao serviço dos mais pobres, especialmente no cuidado aos enfermos da Santa Casa de Misericórdia.
A missa exequial foi presidida pelo bispo diocesano, Dom Luiz Fernando Lisboa CP, e concelebrada por Dom Anderson Franklin, bispo auxiliar da Arquidiocese de Vitória, e por diversos padres da Diocese. O velório e a celebração aconteceram na Catedral de São Pedro.
Durante a homilia, Dom Luiz Fernando Lisboa CP destacou que Irmã Otília foi um verdadeiro testemunho de vida e fé: “Ela era um evangelho vivo entre nós. Uma mulher consagrada, de vida simples e amor profundo pelos doentes. Parar a cidade para essa despedida é nossa forma de dizer: ‘Obrigado, Deus, por essa vida tão fecunda!’”
A comoção foi visível durante toda a cerimônia. Religiosas, colaboradores da Santa Casa, representantes da vida consagrada, amigos, familiares e fiéis se uniram em oração, saudade e gratidão.
Um momento de grande simbolismo foi o cortejo interno dentro da Catedral: primeiros os familiares, depois as irmãs da Congregação e, por fim, funcionários da Santa Casa de Misericórdia depositaram flores sobre a urna.
Segundo o padre Evaldo Ferreira Praça, responsável pelo Vicariato de Ação Social e ex-superintendente do Hospital Santa Casa de Misericórdia, a cronologia das homenagens seguiram uma ordem testemunhal. “A família foi a primeira a depositar as flores, pois foram os primeiros a entregarem nossa irmã à vida religiosa. Na congregação, amparada por suas irmãs, que foram as segundas a depositarem as flores, Otília fez a opção de se doar inteiramente à Santa Casa. Por isso, os funcionários dessa instituição encerraram esse gesto de cuidado e amor, como o que ela sempre teve com todos eles”, explicou.
Durante a celebração, foi lida uma carta escrita pela Superiora Geral, irmã Gildete Pereira Alves, emocionado os presentes: “Quem não se lembra daqueles passos curtos, mas firmes, atravessando a ponte Municipal? Irmã Otília levava consolo, bênçãos, esperança. Era como se seu véu branco, tocado pelo vento, fosse uma bandeira da paz sobre a cidade. Ela é um ícone para Cachoeiro. Um presente de Deus que agora se torna intercessora no céu.”
A religiosa também agradeceu, nominalmente, à Diocese, à comunidade religiosa, aos profissionais da saúde e à família da Irmã Otília: “Agradeço, na pessoa de Dom Luiz Fernando, a cada sacerdote que esteve presente na vida de Irmã Otília. Na pessoa de seus sobrinhos, agradeço aos seus pais, Francisco e Ruth, que a ofertaram à Igreja. Na pessoa do Dr. Rafael Luzório, agradeço a cada médico, colaborador e funcionário da Santa Casa que conviveram com ela e cuidaram dela nos momentos finais.”
Último adeus
Após a missa, corpo da irmã Otília foi conduzido em um cortejo comovente pelas ruas do centro de Cachoeiro de Itapemirim. Fiéis, moradores e admiradores se reuniram nas janelas, varandas e calçadas para prestar uma última homenagem. Um carro do corpo de bombeiros, decorado com as coroas de flores, participou do trajeto ao som de sirenes e buzinas, enquanto o caixão da religiosa era levado em um carro aberto. A Defesa Civil, Guarda Civil Municipal, Policia Militar, Santa Casa Cachoeiro e dezenas de veículos particulares, participaram do cortejo.
Durante o trajeto, a cidade parou. Ao passar pelo Colégio Jesus Cristo Rei, o cortejo parou por alguns minutos. Alunos e colaboradores acenaram, rezaram e se emocionaram.
O Sepultamento ocorreu no Cemitério Municipal do Coronel Borges, no jazigo das Irmãs de Jesus na Eucaristia.
Uma ponte de amor entre o Cristo e os enfermos
Nascida Sebastiana Rodrigues Valadão, em 5 de outubro de 1933, em Oliveira (MG), ingressou no Instituto das Irmãs de Jesus na Eucaristia em 1960, em Cachoeiro. Ao professar os votos religiosos em 1963, passou a se chamar Irmã Maria Joana Otília. Atuou em diversas cidades como Colatina, Belo Horizonte, Governador Valadares, Barbacena e Rio de Janeiro, mas foi em Cachoeiro de Itapemirim que sua presença se tornou permanente nas últimas três décadas.
Com seus passos firmes e curtos, tornou-se figura conhecida nas ruas do centro da cidade. Diariamente, atravessava a ponte municipal em direção à Santa Casa, onde fazia questão de visitar os enfermos, oferecer uma palavra de conforto, uma oração, um sorriso.
“Ela dizia que precisava olhar seus doentes, rezar com eles, dar uma palavra de esperança. Muitas vezes foi a última voz que eles ouviram antes de partir. Uma voz que anunciava a paz de Deus”, contou emocionada a Superiora Geral do Instituto, Irmã Gildete.
“Estou nos braços de Deus” disse Irmã Otília em seus últimos dias de vida.
Nos últimos dias de vida, Irmã Otília esteve rodeada pelo carinho da comunidade religiosa. Segundo relato de Padre José Carlos Ferreira da Silva, que a acompanhou de perto, suas últimas palavras foram um testemunho de fé: “Ela me disse: ‘Padre, estou nos braços de Deus, estou nos braços da Virgem Maria.’ Que todos nós possamos viver com essa serenidade e confiança.”
Uma memória viva
Em artigo publicado após o sepultamento, Dom Luiz Frenando Lisboa destacou: “Hoje, a Diocese se curva em oração, comovida e grata. Perdemos uma presença. Ganhamos um testemunho. Sua ausência nos desafia: quem continuará levando o consolo de Deus aos que sofrem? Quem responderá com generosidade ao chamado de Jesus no rosto dos doentes?
Irmã Otília viveu o Evangelho sem barulho, mas com força. Morreu em silêncio, mas deixou um grito: o grito do amor que se fez serviço. Que sua memória nos inspire a viver a fé não como discurso, mas como entrega. Não como teoria, mas como presença. E que nunca nos esqueçamos: quando visitamos um doente, estamos visitando o próprio Senhor.
Descanse em paz, irmã nossa, descanse em paz nossa santinha. Agora é o Cristo quem a visita — e Ele a reconhece!”