A Diocese de Cachoeiro de Itapemirim deu início, nesta segunda-feira, 8 de dezembro, à Semana Diocesana de Direitos Humanos, um período de mobilização pastoral e social que se estende até o dia 14, reunindo paróquias, movimentos e entidades civis em ações voltadas à promoção da dignidade humana. Entre esses eventos, o principal marco será o Fórum Diocesano de Direitos Humanos, que acontece na próxima quarta-feira, dia 10, das 8h às 12h30, na Câmara Municipal de Cachoeiro de Itapemirim. A Comissão Diocesana de Justiça e Paz (CJP) disponibilizou um formulário de inscrição para controle de participação, embora a presença também seja permitida mediante credenciamento no local.
O Fórum ocorre em um momento especialmente sensível. Ao longo da semana, repercutiu intensamente a carta publicada por Dom Luiz Fernando Lisboa, CP, bispo diocesano, dirigida especificamente aos homens. O documento trata com firmeza e delicadeza da urgência em se enfrentar a escalada da violência contra as mulheres no Espírito Santo, no Sul do Estado e em todo o Brasil. Na carta, o bispo convoca os homens à responsabilidade ética, moral e cristã de cuidado, proteção e respeito, lembrando que a violência doméstica não é um problema apenas das vítimas, mas de toda a sociedade — e que os homens precisam assumir um papel ativo na prevenção e no combate a essas agressões.
A preocupação do bispo se baseia em números alarmantes. Em 2025, o Espírito Santo já registrou 23.617 casos de violência contra a mulher, número que se aproxima do total do ano anterior, que foi de 23.848. Ainda que haja uma leve queda, o índice permanece extremamente elevado. Em Cachoeiro de Itapemirim, apenas em 2025, 1.357 mulheres foram vítimas de violência. Os registros incluem desde violações previstas na Lei Maria da Penha (768 casos) até ameaças (282), descumprimento de medidas protetivas (155), lesões corporais (66), importunação sexual (14), calúnia e injúria (23), sequestro e cárcere privado (1).
Os dados do Observatório de Segurança Pública revelam ainda um cenário preocupante de feminicídios no ano: 32 mulheres foram assassinadas no Espírito Santo por motivação de gênero, além de 80 tentativas de feminicídio. A maioria dos casos ocorreu dentro de casa, reforçando que a violência acontece, sobretudo, em ambientes de convivência íntima. O perfil dos agressores confirma essa realidade: companheiros, maridos, namorados, ex-companheiros e pais.
É diante desses números que o debate ganha ainda mais urgência — e que a carta de Dom Luiz repercute como um chamado profético. Nos estúdios da Rádio Diocesana, a advogada Valéria Martins Hoinhas, membro da Comissão Diocesana de Justiça e Paz, iniciou sua participação afirmando: “É um prazer enorme estar aqui pra conversar com você sobre esse tema tão importante e necessário, como o nosso bispo Dom Luiz deixou muito claro na carta dele dirigida aos homens.”
Ao analisar o cenário, Valéria reforçou que os números de violência são expressão de algo mais profundo: “Os números são resultados de um comportamento, de uma cultura, de uma educação. A gente vê que a cultura machista, o patriarcado, ainda coloca a mulher como submissa ao homem, como se ela dependesse dele para dar conta da própria vida.”
Ela explicou que muitos comportamentos violentos começam de forma silenciosa e gradual: “Há comportamentos muito sutis de controle emocional, de manipulação psicológica, de restrições da autonomia. É uma violência que vai minando o querer dela, o desejo dela, até que ela começa a se submeter cada vez mais ao comportamento do agressor.”
Sobre o caminho para transformar essa realidade, Valéria destacou que a carta de Dom Luiz foi um sopro de esperança: “A carta veio como uma luz pra toda a sociedade. Ela é dirigida aos homens, mas também a todos nós e ao poder público. Os homens precisam compreender que precisam de ajuda, porque sozinhos, muitas vezes, não conseguem romper esses ciclos.”
Ela apontou que a mudança passa por políticas públicas, transformação cultural e educação: “Quando você fala de machismo, você fala de cultura, de educação. É mudança de mentalidade. E quando você fala de alcoolismo, por exemplo, você fala de tratar uma doença. Cada caso exige um caminho diferente.”
Valéria lembrou que, se nada mudar, o cenário pode se agravar: “Se esse comportamento não for parado ou alterado, o que a gente vê é um risco enorme de agravamento, porque os fatores que geram violência são muitos e complexos.”
O Fórum Diocesano de Direitos Humanos
Na entrevista, Valéria detalhou a programação do Fórum que acontece nesta quarta-feira: “O Fórum está dentro da programação da Semana Diocesana de Direitos Humanos. Nós convidamos secretarias, conselhos, sindicatos, ONGs, movimentos sociais, profissionais do direito, lideranças religiosas, defensoria pública, Ministério Público — uma representatividade muito diversificada.”
Ela explicou que a palestrante principal será a defensora pública Priscila Orfrani, que tratará dos direitos humanos na prática cotidiana. Em seguida, uma promotora de Justiça aprofundará o debate com foco especial na violência contra a mulher: “Queremos refletir sobre os impactos da presença ou ausência dos direitos humanos na vida das pessoas. A expectativa é que saiamos de lá com encaminhamentos concretos, propostas reais para políticas públicas e ações comunitárias.”
Questionada sobre quem pode participar, ela reforçou: “Quem não conseguiu se inscrever pelo link pode ir direto. É só chegar às oito da manhã, fazer o credenciamento e participar. Quanto mais gente, mais força esse debate ganha.”
Marcha pela Vida das Mulheres
Outro momento marcante da Semana será a Marcha pela Vida das Mulheres, na quinta-feira, 11 de dezembro, às 16h, no centro de Cachoeiro. Valéria ressaltou o simbolismo: “É um movimento nacional. Mulheres vivas defendendo a vida de outras mulheres. Se o feminicídio é o ponto fatal da violência, tirar as mulheres de casa e levá-las juntas às ruas é dizer: eu me comprometo com a vida da minha irmã.”
A marcha busca pressionar por políticas públicas eficazes, acolhimento às vítimas e estratégias de prevenção.
A Semana Diocesana de Direitos Humanos segue até o dia 14, com ações distribuídas nas paróquias, gestos concretos de solidariedade e mobilização comunitária. A Diocese reforça que promover os direitos humanos é tarefa de todos — e que combater a violência contra a mulher exige união entre Igreja, poder público e sociedade civil.
Para participar do Fórum Diocesano de Direitos Humanos, basta preencher o formulário ou comparecer à Câmara Municipal nesta quarta-feira, às 8h, para credenciamento.
Serviço
Semana Diocesana de Direitos Humanos
Fórum Diocesano de Direitos Humanos
Data: Quarta-feira, 10 de dezembro
Horário: 8h às 12h30
Local: Câmara Municipal de Cachoeiro de Itapemirim
Inscrição: Formulário
Participação: Também é possível entrar mediante credenciamento no local, a partir das 8h
Transmissão: WebTv Amparo (YouTube)
Marcha pela Vida das Mulheres
Data: Quinta-feira, 11 de dezembro
Horário: 16h
Local: Centro de Cachoeiro de Itapemirim (concentração na Praça Jerônimo Monteiro)
Proposta: Mobilização nacional Mulheres Vivas, em defesa da vida de mulheres e pela efetivação de políticas públicas de proteção
Realização: Diocese de Cachoeiro de Itapemirim — Comissão Diocesana de Justiça e Paz (CJP)