Fórum Diocesano reúne vozes e ações pela promoção dos Direitos Humanos

A manhã deste dia 10 de dezembro de 2025 — data em que o mundo recordava o Dia Internacional dos Direitos Humanos — ficou marcada pela realização do 1º Fórum Diocesano de Direitos Humanos, promovido pela Diocese de Cachoeiro de Itapemirim, no plenário da Câmara Municipal da cidade. O evento, que integrou a Semana Diocesana de Direitos Humanos (6 a 14 de dezembro), foi pensado como um grande espaço de escuta, aproximação, diálogo e construção coletiva entre sociedade civil, instituições públicas e lideranças comunitárias. No convite enviado aos participantes, a Diocese lembrava que o Fórum buscava “refletir sobre o impacto da presença e da ausência dos Direitos Humanos na vida cotidiana”, reunindo diversas representatividades em uma roda de conversa, e destacava que a Semana Diocesana pretendia “aprofundar a consciência sobre os Direitos Humanos como valor constitutivo do Evangelho de Jesus e da Doutrina Social da Igreja, inaugurando processos de reparação de direitos violados ou ameaçados no território diocesano”.

O Fórum foi aberto pela coordenadora diocesana da Comissão de Justiça e Paz (CJP), Valéria Martins Hoinhas, que destacou a força simbólica de realizar o encontro “nesta Casa do Povo”. Em sua fala, ela afirmou que o objetivo da manhã era “trazer os direitos humanos como pauta, o mais próximo possível da vida cotidiana de cada um de nós”. Valéria reforçou que “direitos humanos nada mais são que os direitos da pessoa humana” e lamentou os preconceitos, estigmas e interpretações distorcidas frequentemente veiculadas nas redes. “A proposta é compreender e transmitir à sociedade que os direitos humanos estão no dia a dia de todos nós — no trabalho, na saúde, na educação, na convivência”, disse, sendo acolhida pelos presentes.

Logo após, o coral da APAC — Associação de Proteção e Assistência aos Condenados emocionou o público ao interpretar três músicas, incluindo a marcante “É Preciso Saber Viver”, dos Titãs, arrancando aplausos calorosos e abrindo espaço para um ambiente de sensibilidade e reflexão.

Em seguida, o bispo diocesano, Dom Luiz Fernando Lisboa, CP, tomou a palavra e destacou a importância do encontro. “Debater direitos humanos hoje é quase fora de moda”, afirmou, apontando que muitas vezes se defende direitos “apenas para um grupo”, quando a essência dos direitos humanos é justamente reconhecer que “todos somos seres de direitos”. Dom Luiz aproveitou para saudar os aniversariantes e cumprimentar a mesa, dizendo esperar que a manhã fosse “rica para todos”. E continuou: “Vivemos numa sociedade adoentada, com muita rivalidade, acusações e polarizações. Precisamos sarar. E saramos ouvindo experiências que nos mostram que muita gente está fazendo o bem, defendendo direitos e tentando tornar a vida melhor.” O bispo convidou todos a manterem “a mente e o coração abertos”, lembrando também que os direitos da Casa Comum, o planeta, fazem parte dessa discussão.

A manhã prosseguiu com a manifestação das autoridades presentes e, logo depois, com a Palestra Magna da Defensora Pública do Espírito Santo, Dra. Priscila Orfrante, intitulada “Conhecer para Defender: A importância dos Direitos Humanos hoje”. A palestrante iniciou agradecendo e elogiando a apresentação do coral da APAC, dizendo que a arte expressada ali era uma poderosa forma de humanização. Em sua exposição, tratou da necessidade de “desmistificar e conectar os direitos humanos à dignidade cotidiana”, afirmando que, muitas vezes, as pessoas se constrangem de falar sobre o tema por receio de críticas ou incompreensões. “Os direitos humanos são a regra de ouro da convivência. São a garantia mínima que temos pelo simples fato de sermos humanos”, explicou. Ao revisitar a história da Declaração Universal dos Direitos Humanos, promulgada em 10 de dezembro de 1948, a defensora relembrou o contexto de horror pós-Segunda Guerra Mundial que deu origem ao documento, afirmando que, décadas depois, ainda havia muito a ser feito para que seus princípios fossem vividos na prática.

Dra. Priscila falou também sobre as características fundamentais dos direitos humanos — universalidade, inerência e inalienabilidade — e destacou que esses direitos “não são favores, não são concessões; nascem conosco”. Em seguida, apresentou reflexões sobre a diferença entre “direitos humanos” e “direitos fundamentais”, explicando que, embora utilizados em contextos distintos, os termos são, na prática, sinônimos. Finalizou destacando o papel essencial da Defensoria Pública, recitando um trecho do poema “Os Ninguéns”, de Eduardo Galeano, que, segundo ela, traduz o compromisso institucional com quem muitas vezes é invisibilizado ou descartado pela sociedade.

Na sequência, teve início a Roda de Conversa “O impacto da presença e da ausência dos Direitos Humanos na vida cotidiana”, que ouviu lideranças sociais, entidades e ativistas. Entre as falas, destacou-se a do gestor da APAC de Cachoeiro, Caio Thadeu Any Jordão, que reforçou a importância da união entre grupos e instituições para fortalecer a defesa dos direitos humanos. Ele lembrou que a APAC funciona no município desde 2019 com o CRS masculino e agradeceu a parceria da Diocese, da OAB e de diversas instituições, além de citar o apoio crescente da Prefeitura. “Uma pessoa só falando é uma força, mas quando vários grupos se unem, essa força é muito maior”, afirmou. Em tom comovente, completou: “APAC nos lembra que ninguém nasce para ser cadeia, nasce pra ser gente. Todo ser humano, mesmo falho, merece chance de recomeçar.”

Após Caio, um dos internos presentes, atualmente em cumprimento de pena no regime fechado, tomou a palavra, emocionando os participantes. Ele agradeceu pela oportunidade e afirmou que a APAC havia lhe devolvido direitos, dignidade e perspectiva. “Muitas vezes fomos rejeitados pela sociedade, mas hoje estamos voltando com objetivos e planos novos. A mesma mão que um dia fez o mal hoje está fazendo o bem”, disse, ressaltando os estudos, cursos e oportunidades oferecidas pela instituição. Sua fala foi recebida de pé pelo público.

A manhã seguiu até o encerramento conduzido por Dom Luiz, que retomou a importância do trabalho em rede entre as instituições, sem disputas de protagonismo. Em um trecho marcante, afirmou: “Às vezes precisamos ser chatos para fazer as pessoas pensarem. Piadas discriminatórias contra negros, contra mulheres… não podemos normalizar isso.” Concluiu recordando o Evangelho de João: “Eu vim para que todos tenham vida”. E completou: “Defender direitos humanos é defender a vida — não de alguns, mas de todos.”

O Fórum terminou com uma apresentação final do coral da APAC, que encerrou a manhã com uma música natalina, símbolo de renovação e esperança. O clima que tomou o plenário ao final do encontro refletia bem o propósito da Semana Diocesana: provocar consciência, aproximar realidades, e inspirar, à luz do Evangelho, caminhos concretos de justiça e dignidade para todos.

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Autor:

Diocese Cachoeiro

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