Em Muqui, a Liga Católica foi fundada pelo 1º Vigário Paroquial, frei José Bernardino

A Liga Católica Jesus, Maria e José, da Paroquia de São João Batista, em Muqui, completa no próximo domingo, dia 12 de novembro, o jubileu de 100 anos.
Quando em 27 de maio de 1844, na cidade de Liège, na Bélgica, o Capitão Henrique Belletable e seus companheiros, o alfaiate Carlos Hacken e o carpinteiro Gilles Jongen, fundaram a chamada Associação da Sagrada Família, como foi inicialmente denominada, tinham como principal preocupação a indiferença religiosa, fruto malfadado do século das luzes, e do capitalismo desumano que se instaurou com a dita Revolução Industrial, que a esta altura atingia sobretudo as grandes massas operárias.
O próprio Capitão Belletable provou dos dissabores do indiferentismo, em que pese a sólida formação religiosa que recebeu da família, vivendo uma vida frívola e libertina. Sua conversão se deu precedida de uma grave crise de consciência, resultado do trabalho da Graça Divina na alma do militar sua mudança de vida.
Convertido, Belletable compreendeu que não podia ser católico somente para si e passou a lutar para que a vida das pessoas ao seu redor também se modificasse. Uma vez que havia dirigido uma fundição de canhões, não podia deixar de se sensibilizar pelos problemas vividos pelos operários, que entregavam-se ao alcoolismo e toda sorte de vícios, vivendo longe da religião e não se preocupando com a educação dos filhos. Surge assim, em seu coração, a inspiração para a criação de um movimento que, centrado na espiritualidade da Sagrada Família, buscasse resgatar as massas operárias para a vivência da fé e a prática religiosa, melhorando assim suas condições de vida.
Desde o seu nascedouro, a Associação da Sagrada Família contou com a assistência dos Missionários Redentoristas belgas, em especial do Pe. Vitor Isidoro Dechamps, mais tarde Arcebispo de Malines e Cardeal Primaz da Bélgica.
Em 1847, a obra fundada por Belletable e seus companheiros teve seus estatutos aprovados por Dom Cornélio van Boomel, bispo de Liège, que inclusive tornou-se membro honorário da “Santa Família”.
Belletable, no entanto, faleceu em 1855, aos 42 anos de idade, sem ver sua obra, que a pedido do já Cardeal Dechamps, foi elevada, pelo Papa Pio IX, à categoria de Arquiconfraria em 24 de abril de 1873, entregando-a aos cuidados dos Redentoristas, com o objetivo de a orientar e a propagar por todo o mundo.
Ainda no século XIX, a obra que nasceu da conversão de Henrique Belletable na Bélgica, alcançou diversos países da Europa. Atravessou o Atlântico chegando aos Estados Unidos e Canadá, passando pelas Antilhas, alcançando o Equador e o Chile. Atingiu, ainda, diversos países da África e chegando à Austrália e Nova Zelândia. Tudo isso graças às Missões Redentoristas que tiveram na associação um importante instrumento de perseverança de seus frutos.
● A semente de Belletable é plantada na Terra de Santa Cruz
Quando, em 1893, chegaram os primeiros Missionários Redentoristas ao Brasil, os Padres holandeses Mathias Tulkens e Francisco Lohemeyer, o país encontrava-se com sua recém “proclamada” república e dominado pelas ideias positivistas, filosofia que, inspirada na crença do progresso contínuo da humanidade, afasta toda e qualquer religião ou crença na existência de um deus celestial, centralizando todas as suas razões no humano.
Muito mais do que promover a separação da Igreja e do Estado, uma comunhão que já vigorava no Brasil há praticamente quatro séculos, o governo republicano positivista propunha a dita “religião científica” como fonte de progresso em substituição ao catolicismo.
O ambiente político ideológico não poderia ser mais propício para que a obra de Belletable fosse difundida em nosso país, afinal, o Brasil, que nasceu sob o signo da Santa Cruz, estava ameaçado em sua essência que sempre foi profundamente cristã.
Como não poderia ser diferente, ao pregarem suas missões, os Redentorista preocupavam-se em implementar os meios para que os frutos de seu trabalho não se perdessem nas almas que tocavam, e a Associação da Sagrada Família era um instrumento providencialmente válido nesse sentido.
Após pregarem a primeira Missão Geral na Paróquia de Juiz de Fora, durante a segunda quinzena de março de 1902, os Missionários Redentoristas, sob a direção espiritual do Padre Thiago Boomars, fundaram no dia 31 daquele mês, na antiga “igreja dos alemães”, como era conhecida a primitiva Capela de Nossa Senhora da Glória, a primeira unidade da Associação da Sagrada Família em terras brasileiras. Agregando membros de diversas classes sociais, era composta de modo especialmente expressivo pelos imigrantes germânicos e seus descendentes, que, trazidos pela Companhia União e indústria, empresa de iniciativa do comendador Mariano Procópio Ferreira Lage, formaram a antiga Colônia Dom Pedro II.
Uma peculiaridade, porém, se dá nesta fundação. Ao ser transplantada para a Terra de Santa Cruz, a obra do capitão Belletable é batizada como Liga Católica Jesus, Maria, José.
● O crescimento e a consolidação da Liga Católica Jeus, Maria, José
Conforme as Missões Redentoristas iam acontecendo, várias novas unidades da Liga Católica iam surgindo.
Em Muqui, a Liga Católica foi fundada pelo 1º Vigário Paroquial, frei José Bernardino, religioso agostiniano que, veio de Portugal, em 1º de novembro de 1923.
As atividades desenvolvidas pela Liga Católica desde sua origem foram muito dinâmicas. Na Paróquia São João Batista, por exemplo, além das reuniões habituais, havia eventos. Também diversas foram as romarias que os integrantes do movimento fizeram ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida e, outros pontos de peregrinação.
Com as transformações ocorridas na Igreja Católica a partir do Concílio Vaticano II, na década de 1960, a Liga Católica passou por reestruturações, a fim de melhor dialogar com o mundo e atingir seu maior objetivo: a vida familiar.
Nesse sentido, não havia mais motivações para a admissão exclusivamente masculina de membros. Sob a direção espiritual do Padre Mário Ferreira, C.Ss.R., a Liga Católica foi aberta a participação feminina, tornando-se, assim, uma associação católica voltada para toda a família.