Marcha pela Vida das Mulheres reúne famílias e movimentos sociais em Cachoeiro

Movimentos sociais de Cachoeiro de Itapemirim seguiram uma mobilização nacional e realizaram, nesta quinta-feira, 11 de dezembro, a manifestação “Marcha pela Vida das Mulheres”, um ato suprapartidário que ocorreu simultaneamente em diversas cidades do país e que buscou denunciar a violência contra a mulher e exigir justiça para vítimas de feminicídio. A concentração aconteceu às 16h, na Praça Jerônimo Monteiro, reunindo dezenas de mulheres, homens, crianças e famílias inteiras, que caminharam com cartazes, faixas, bolas lilás e materiais de conscientização. A passeata seguiu pela Beira Rio até a 1ª Companhia da Polícia Militar, antigo Batalhão do Corpo de Bombeiros, em um percurso marcado por paradas que homenagearam vítimas de feminicídio, com fotografias e reflexões. Os organizadores definiram a mobilização como uma “via-sacra simbólica” pela vida e pela memória das mulheres que perderam a vida para a violência.

O bispo diocesano, Dom Luiz Fernando Lisboa, CP, participou do ato acompanhado dos padres José Carlos Ferreira da Silva e Evaldo Praça Ferreira. Logo no início, o bispo leu uma carta especialmente dirigida aos homens e às comunidades cristãs, relacionando a fé à responsabilidade no enfrentamento da violência. Ele afirmou que, no rosto de cada mulher violentada, é possível enxergar o Cristo Crucificado e a própria Igreja ferida, lembrando que estatísticas só revelam números e não o drama de vidas interrompidas. Citou dados que demonstram a gravidade da situação no Espírito Santo: em 2024, foram registrados 15.954 atendimentos por violência contra a mulher no Ligue 180, aumento de 44% em relação ao ano anterior, além de 2.670 denúncias formais. Em 2023, o Observatório Mulher ES registrou milhares de casos de violência física, psicológica, sexual, moral e patrimonial, e, no ano seguinte, 41% dos homicídios de mulheres no estado foram classificados como feminicídios. Mesmo com uma leve redução em 2025, cada caso permanece, segundo o bispo, “uma tragédia que não deveria existir”.

Dom Luiz reforçou que números não consolam, pois cada estatística representa uma mulher com história, nome, rosto e, muitas vezes, filhos marcados pela dor. Citando o Papa Francisco, lembrou que a violência contra a mulher é uma “chaga que desfigura a humanidade” e afirmou que modelos distorcidos de masculinidade — baseados na força, no silêncio, no poder ou na agressividade — não correspondem ao Evangelho. “Um estilo de masculinidade que gera medo não é cristão”, declarou. Ele pediu que os homens cristãos nomeiem claramente o mal a ser combatido e não se omitam diante de agressões praticadas por amigos, parentes ou vizinhos. Segundo o bispo, “a fé cristã não admite neutralidade diante do sofrimento”, e uma única conversa pode salvar vidas. “É preciso ter coragem de dizer: ‘Isso não é certo’, ‘Pare antes que destrua sua família’, ‘Procure ajuda’”, escreveu.

A carta também convocou as Comunidades Eclesiais de Base, círculos bíblicos, pastorais, movimentos, grupos de oração e o Terço dos Homens a promoverem rodas de conversa sobre masculinidade saudável, educação dos filhos, cuidado emocional, prevenção à violência e combate ao machismo. No âmbito da Diocese, o bispo propôs ações concretas, como a criação de grupos comunitários e paroquiais de enfrentamento à violência, produção de materiais formativos para homens, formação de agentes de pastoral para acolhimento de vítimas, implementação do Mês da Proteção da Mulher, realização anual de encontros sobre masculinidade cristã e integração das paróquias às redes de proteção municipais e estaduais, além do fortalecimento das pastorais da Escuta, da Mulher e da Pastoral Familiar.

Durante o percurso, diversas mulheres deram depoimentos que emocionaram. Regina Céli de Carvalho Monteiro, de 67 anos, integrante do movimento de mulheres de Cachoeiro, destacou que a violência ocorre em vários níveis e que o feminicídio é “o último degrau de uma escala que começa com um xingamento, passa por um empurrão e evolui para agressões mais graves”. Para ela, denunciar é fundamental, e a conscientização deve alcançar tanto mulheres quanto homens. “Tem a violência financeira, psicológica, física, emocional. A gente também deseja trabalhar dentro das escolas explicando pras meninas o que é violência e dizendo pros meninos: ‘vocês podem ser melhores’”, afirmou. Regina ressaltou que Cachoeiro tem se engajado nas mobilizações nacionais e que a marcha é uma forma de marcar presença no enfrentamento à violência.

Entre as participantes estava Kelly Cristina Fornaciari dos Santos, de 34 anos, que levou seus três filhos — de 11 anos, 8 anos e 10 meses — para acompanhar a manifestação. Ela explicou que decidiu trazer as crianças porque acredita que a educação para o respeito e para a justiça começa cedo. “Os meus filhos são o futuro. Se eu quero uma sociedade mais justa, preciso ensinar o caminho agora. Não só o da fé, mas o do respeito, da compaixão, da justiça”, disse. Kelly afirmou que ainda vivemos em uma sociedade machista e patriarcal e que a normalização da violência é profundamente enraizada, sendo necessário desconstruir esse padrão desde a infância. “Nunca é cedo demais para ensinar que o amor é o caminho, não a violência”, completou.

A marcha contou com apoio da sociedade civil, Defensoria Pública, Ministério Público e voluntários responsáveis por carro de som, materiais gráficos e organização. Com o ato, participantes reiteraram que o combate à violência contra a mulher não é pauta de um único grupo, mas uma urgência coletiva. Como disseram os organizadores, “não tem partido, tem vida”.

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Autor:

Diocese Cachoeiro

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