O Silêncio diante da injustiça ambiental é cumplicidade

Dom Luiz Fernando Lisboa

Há silêncios que machucam. Há silêncios que denunciam. E há silêncios que se tornam gritos entalados na garganta de quem contempla, impotente, a destruição da Casa Comum. Como bispo, como pastor e como cidadão desta Terra que Deus nos confiou, não posso e não devo calar. O silêncio diante da injustiça ambiental é cumplicidade. É omissão. É pecado contra a Criação.

A destruição progressiva do nosso meio ambiente — seja pelo desmatamento irresponsável, pela contaminação das águas, pelo descaso com os resíduos sólidos ou pela expansão urbana predatória — clama aos céus. E esse clamor precisa encontrar eco nas vozes que se levantam em defesa da vida, especialmente da vida dos mais pobres, que são sempre os primeiros a sofrer as consequências da degradação ambiental.

Reforço, mais uma vez, meu apelo, com firmeza e esperança, às autoridades executivas e legislativas dos 27 municípios do Sul do Estado que compõem a nossa Diocese de Cachoeiro de Itapemirim: assumam o compromisso inegociável com o cuidado da Criação. Não se trata de uma pauta secundária ou ideológica. Trata-se de um imperativo moral, espiritual e civilizatório.

Peço — melhor, exorto — que prefeitos, vereadores e demais representantes do povo priorizem propostas que protejam o meio ambiente e promovam a sustentabilidade. Que cada projeto de lei, cada ação administrativa, seja medido não apenas pelo impacto imediato, mas pelo legado que deixará às próximas gerações.

A gestão dos resíduos, a proteção das nascentes, a arborização urbana, a educação ambiental, o incentivo à agroecologia e o fortalecimento das unidades de conservação são caminhos concretos e possíveis. É hora de parar de empurrar o problema para o futuro. O futuro chegou, e ele nos exige decisões corajosas agora.

A Doutrina Social da Igreja nos ensina que o bem comum exige justiça ambiental. O Papa Francisco, na Laudato Si’, nos recordou que tudo está interligado e que a crise ecológica é também uma crise ética e espiritual. Não podemos mais dissociar fé e cuidado com a Terra. Quem ama o Criador deve cuidar da Criação.

Por isso, convido também nossas Comunidades Eclesiais de Base, nossas paróquias e movimentos sociais a se unirem em uma grande vigília de oração e mobilização em todo o mês verde, Junho. Não por alarmismo, mas por responsabilidade. Não por desespero, mas por amor.

Que o grito entalado de tantos irmãos e irmãs, vítimas da injustiça ambiental, se transforme em um coro profético e perseverante. E que as autoridades, ao ouvirem esse clamor, ajam com a urgência que o momento exige.

Deus nos confiou esta Casa. Não temos outra. Cuidemos dela — com fé, com responsabilidade, com justiça e com amor.

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Autor:

Dom Luiz Fernando Lisboa

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