Quando a falha vira música

                                                                                                 Pe. José Carlos Ferreira da Silva

A vida tem a mania de esparramar cascas de banana no caminho. Você sai de casa achando que o dia vai ser um manual de instruções e, no meio da manhã, já está reescrevendo tudo na unha. O ônibus quebra, o café cai na camisa branca, a reunião é adiantada sem aviso. O roteiro perfeito se amassa em segundos.

No começo, dá vontade de praguejar. Mas percebi que existe um jeito menos pesado de atravessar esses tropeços: brincar de músico de barzinho, aquele que toca o que pedirem, mesmo sem saber a letra direito. Ele improvisa, erra, ri, inventa. E todo mundo bate palma porque, no fundo, o encanto está justamente na falha que virou ritmo.

Certo dia, em visita à casa de um grande amigo, que prima pela tecnologia, a luz acabou no meio do jantar que estava sendo preparado. Fogão elétrico parado, metade da comida crua. A mesa virou piquenique no chão da sala, com pães, queijos e velas. Rimos mais do que comeríamos se o cardápio tivesse saído conforme o planejado.

É isso: a vida exige menos controle e mais flexibilidade. O improviso saudável não é desistir de planejar, mas aceitar que o plano é só um esboço. O quadro final sempre leva uns rabiscos extras que ninguém previu.

E, no fim das contas, a lembrança boa não é da camisa sem café ou da comida perfeita — mas da gargalhada que nasceu no meio do caos.

 

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Autor:

Pe. José Carlos

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