Pe. José Carlos Ferreira da Silva
Diocese de Cachoeiro de Itapemirim – ES
Na Sexta-feira Santa, o mundo deveria parar. Não por tradição, mas por respeito. Foi nesse dia que o céu escureceu no meio da tarde, não por causa do clima, mas porque algo muito errado aconteceu: mataram o Justo.
Jesus não morreu por acidente. Foi entregue. Julgado às pressas, condenado com apoio popular, executado como um criminoso qualquer. Ele sabia o que vinha — sentiu medo, suou sangue, pediu ao Pai que, se possível, afastasse o cálice. Mas não fugiu. Não se defendeu. Entregou-se.
E aqui está o escândalo: Deus se deixou matar. Não foi vencido pela força, mas pelo amor. Jesus se entregou, não porque perdeu, mas porque decidiu vencer de outro jeito: pela cruz; não pela espada!
A Sexta-feira Santa é desconfortável porque mostra até aonde vai o amor de Deus — e até aonde pode chegar a maldade humana. E, pior, não a maldade “dos outros”, mas a nossa. A multidão que gritava “crucifica-o” não sumiu com o tempo. Ela continua viva, cada vez que escolhemos a indiferença. Cada vez que preferimos Pilatos, lavando as mãos, em vez de se comprometer com a justiça.
Na cruz, Jesus não disse “está tudo acabado”. Ele disse: “está consumado”. Foi o fim da violência como resposta, o fim da culpa como dívida eterna. O amor foi até o limite e permaneceu ali, firme, de braços abertos, entre dois ladrões.
Sexta-feira Santa é um convite ao silêncio. Não à tristeza vazia, mas à consciência. Porque não dá pra olhar para a cruz e seguir a vida como se fosse só mais um feriado. Alguém morreu por amor. E isso muda tudo — ou deveria.