“Se meu povo, sobre o qual foi invocado o meu nome, se humilhar, se procurar minha face para orar, se renunciar ao seu mau procedimento, escutarei do alto do céu e sanarei sua terra” (2 Crônicas 7, 14).
O período quaresmal se inicia com a celebração das cinzas, simbolizando a fragilidade humana e a penitência durante esse período de jejum, oração, penitência e conversão. A palavra Quaresma vem do termo quadragésima, que, em latim, significa “quarenta dias”. A Quaresma é tempo de chamado de Deus à conversão diária: “Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; Fazei penitência e crede no Evangelho” (Mc 1,15).
Nosso Senhor não dirige essas palavras aos que ainda não O conhecem, mas a todos os cristãos que devem e buscam a conversão diária e o avivamento da fé. O tempo de penitência é uma forma de manifestar os gestos concretos, o nosso desejo de amar a Cristo e sua obra salvífica que celebramos na Páscoa. A Cruz nos ensina sobre a estrada da humildade, lembrando-nos da escrita e da atitude do leproso à beira da estrada: “Senhor, se queres, podes curar-me” (Mt 8,1-4).
A penitência nos mostra a importância da purificação de nosso coração e a nossa aproximação de Deus, preparando-nos para a Páscoa do Senhor. Ela também nos ajuda a reconhecer nossos erros e nossas faltas, fortalecer nossa fé e na construção de uma sociedade mais justa e compassiva. Santo Agostinho, bispo e doutor da igreja, ensina que, na Quaresma, devemos perdoar as injúrias, de modo a derrotar os vícios que nos impediam de perdoar. Quanto à caridade, Agostinho também mostra que, aquele que jejua, deve distribuir, entre os irmãos necessitados, o que corta de si mesmo, e aquele que jejuar deve, por compensação, doar ainda mais.
Quando citamos a palavra penitência, logo imaginamos práticas totalmente exteriores que nos levam ao sofrimento e à dor. Não é à toa que essa palavra é mal compreendida e mal interpretada por aqueles que não buscam seu sentido aprofundado. A penitência é uma virtude que se desenvolve dentro de nós mesmo: “Rasgai vossos corações e não vossas vestes; voltai ao Senhor, vosso Deus, porque ele é bom e compassivo, longânime e indulgente, pronto a arrepender-se do castigo que inflige” (Jl 2, 13). Assim, a Quaresma é período de reconhecer nossas fragilidades e de fazer brotar em nossos corações a vontade de combater e reparar os pecados que cometemos durante nossa caminhada.
De acordo com o Catecismo da Igreja Católica, “aos olhos da fé, nenhum mal é mais grave que o pecado; e nada tem consequência pior para os próprios pecadores, para a igreja e o mundo inteiro” (Catecismo nº. 1488). Olhando diretamente para Jesus desfigurado na Cruz, podemos refletir sobre quão ruim é o pecado. Por esse motivo, Jesus veio a nós, como “Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo” (Jo 1, 29).
A Santa Igreja nos pede, como forma de penitência, o jejum, a oração, a esmola, obras de caridade e penitências espirituais. Como meio de nos levar à conversão, as penitências espirituais são uma maneira intensificada de promover a reflexão espiritual e pessoal, por meio das nossas obrigações como cristãos católicos.
Diante disso, que possamos, neste momento de recolhimento e discernimento, buscar nossa conversão diária e a humildade em nosso coração. Busquemos reflexão contínua de nossas ações e faltas, fortalecendo-nos na oração diária de modo a buscar o perdão pelos pecados que nos afastam do reino de Deus. Santo Agostinho nos ensina que “A busca de Deus é a busca de alegria. O encontro com Deus é a própria a alegria”. Portanto, busquemos sempre a conversão para encontrarmos o amor e a alegria que vêm de Nosso Senhor.
FILIPE SANTOS DO CARMO GUERRA
Seminarista Propedeuta – Bom Pastor