Notícias

21.03.2017

Quarto Domingo da Quaresma


(1Sm 16,1b.6-7.10-13a / Sl 22 / Ef 5,8-14 / Jo 9,1-41)

 

O Senhor olha o coração - Iluminados por Cristo -  Os frutos da Luz

 

A liturgia deste quarto domingo da quaresma é marcada por um outro símbolo batismal que é a luz, presente na segunda leitura e também no evangelho. A unção de Davi, o mais novo dos filhos de Jessé, revela os critérios de Deus, pois o Senhor olha o coração do homem e esse é o parâmetro que utiliza em suas escolhas desde o povo de Israel, pequeno e frágil, chegando até aos discípulos de Jesus. No encontro de Jesus com o cego se torna presente, mais uma vez, o modo de escolher de Deus, pois ao curá-lo, Jesus ilumina seus olhos e coração de modo que ele se torna um seu discípulo. Os discípulos, ontem e hoje, iluminados por Cristo, à exemplo do cego são convidados a produzir frutos próprios da luz: a bondade, a justiça e a verdade como indica a segunda leitura da carta aos Efésios.

 

Diante da cena descrita na primeira leitura fica claro o modo de escolher de Deus, já que prefere o frágil e jovem Davi, a seus irmãos descritos por sua aparência imponente. É colocado em evidência o critério divino utilizado no chamado, já que Deus não julga como os homens, mas olha o coração e não a aparência. Em sua liberdade de escolha o Senhor pousa os olhos no pequeno Davi, que nem mesmo foi levado em consideração quando Samuel chegou para ungir um dos filhos daquela casa. Mas, como os pensamentos de Deus não são iguais aos pensamentos dos homens (Is 55,8-9), a sua predileção recai sobre o pequeno pastor, que estava junto de suas ovelhas nos campos. Deus escolhe os fracos, os menores, os indefesos, aqueles que muitas vezes não contam, a fim de manifestar a sua força e o seu poder. Isso ocorreu sempre em toda a história de Israel, com Davi, com o cego do evangelho, com todos os discípulos e discípulas de Jesus e ainda hoje. O Senhor continua chamando e convidando aqueles que deseja para a realização de seu projeto de amor, pois, ao escolher ele se dirige aos homens, buscando a bondade e a verdade, próprias dos que servem a Deus de coração sincero.

 

A cura do cego junto à piscina de Siloé é introduzida por uma afirmação de Jesus que se encontra no capítulo anterior ao texto litúrgico, quando afirma: Eu sou a Luz do mundo (Jo 8,12). O texto litúrgico em questão também possui um contexto bastante próprio e importante de ser ressaltado que é o da festa das tendas. Uma festividade anual que ocorria na cidade de Jerusalém e reunia judeus e pessoas vindas de toda a parte para recordarem o período de Israel no deserto guiado pelo Senhor. Um momento peculiar da cidade que se via invadida por várias tendas, nas quais os que participavam da festa permaneciam. A cidade ficava totalmente iluminada pela luz que provinha das várias tendas dispostas por todos os lados. Todavia, neste contexto de tamanha festa, cheia das luzes e cantos, o homem cego continuava o seu caminho privado da luz e do convívio social. Ao encontrar-se com Jesus ele é curado, e também iluminado interiormente, iniciando assim, o seu caminho que o levará à sua profissão de fé. Junto dele se apresentam os seus vizinhos, os fariseus e seus pais, todos incrédulos diante do sinal realizado por Jesus. O cego curado e iluminado por Cristo vai aos poucos se abrindo à profissão de fé que fará, enquanto os demais, por sua vez, se fecham tornando-se cegos diante da Luz que é Cristo. A distinção entre o cego e os seus vizinhos e pais é clara, já que esses tinham medo de reconhecer o sinal realizado, professando assim a fé em Cristo, sob pena de serem expulsos da sinagoga. No que diz respeito aos fariseus, por se sentirem instruídos nas coisas divinas, iluminados segundo os seus próprios critérios, mas não segundo os de Deus, fecham-se ao sinal, se perdem tornando-se cegos e longe da salvação. O cego, por sua vez, ao encontra-se com Jesus no final do relato, já curado de sua cegueira física e iluminado pela Luz de Cristo, pôde professar a fé prostrando-se diante daquele que o tinha curado plenamente. Nesse caso, muito além da cura física a questão que se coloca é a vida nova daquele que era cego e que em seu encontro com Cristo foi iluminado interiormente, assim como diz a carta aos Efésios: "Desperta tu que dormes e sobre ti Cristo resplandecerá" (Ef 5,14). Todos os cristãos, à exemplo do cego, são chamados a ir a Cristo nesse período de quaresma, a fim de que, encontrando-se com Ele sejam iluminados por sua Luz e por sua Palavra, confirmados na fé e acolhidos como seus discípulos e discípulas missionários.

 

A carta aos Efésios é bem direta quando propõe o modo de vida daqueles que foram iluminados por Cristo, que por sua graça, nasceram para uma vida nova. É direta a afirmação: "Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Vivei como filhos da luz. E o fruto da luz chama-se: bondade, justiça, verdade” (Ef 5,8). O autor reconhece que todos os que foram marcados pelo encontro com Cristo, que morreram com Cristo para a vida velha e nasceram com Ele para a vida nova, são chamados a viver segundo os valores do Evangelho. Na verdade, aos seus discípulos Jesus apresentou um caminho diferenciado e novo, marcado por valores que iam além dos limites de um amor já provado e reconhecido. Ele indica uma estrada que deve ser trilhada respondendo ao chamado daqueles que foram escolhidos, segundo os critérios de Deus como Davi e iluminados pela sua Luz, a exemplo do cego do evangelho. O que o autor da carta aos Efésios pede aos seus ouvintes é que deixem-se tocar pela Luz de Cristo, a fim de que sejam iluminados e renovados interiormente. O cristão que se torna discípulos de Cristo assume para si o caminho do Mestre, marcado por escolhas que o aproximam da vontade do Pai e o afastam de toda a espécie de mal. Por isso, ao afirmar que os frutos da luz são bondade, justiça e verdade, ele apresenta uma estrada a ser percorrida e um tipo de postura de vida a ser adotada por aqueles que são chamados ao caminho do discipulado missionário. Isto é, todos os que foram iluminados pela Luz de Cristo e curados de suas cegueiras, tornam-se sinais da presença de Deus no mundo e na história, trazendo a novidade de Deus para o dia a dia da vida. Sendo assim, espera-se dos cristãos posturas que reflitam a bondade de Deus, principalmente com os pequenos e pobres, com os que mais precisam e são excluídos. Que se tornem profetas da justiça divina, que é a misericórdia dirigida aos seus filhos e filhas, de modo especial na direção dos mais fracos e indefesos. Que sejam a voz da verdade do evangelho que questiona as escolhas da sociedade quando não oferece condições dignas para todos e ainda privilegia uns poucos em detrimento de tantos.

 

Que o quarto domingo da quaresma forme a todos, segundo os critérios de Deus, e desperte nos corações o desejo de ir a Cristo à exemplo do cego de nascença, a fim de que iluminados por sua presença, graça e Palavra, todos se tornem seus discípulos. De modo que, os frutos da Luz de Cristo na vida da Igreja seja a presença de cristãos autênticos, capazes de dar razões à sua fé e de viverem como novos homens e mulheres marcados pelos valores da bondade, justiça e verdade.

 

Pe Andherson Franklin Lustoza de Souza

 

 

Mais Notícias