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30.05.2017

Domingo de Pentecostes - 04/06/2017


(At 2,1-11 / Sl 103 / 1Cor 12,3b-7.12-13 / Jo 20,19-23)

 

A humanidade nova - A unidade na diversidade - O autor da vida

 

Na liturgia deste domingo de Pentecostes a Igreja celebra a acolhida do grande dom do Espírito Santo, que garante aos discípulos de Cristo o vigor e a coragem de serem suas testemunhas. A ação do Espírito Santo faz surgir uma humanidade nova, marcada pelo desejo de comunhão com o Senhor e com os irmãos. Ao lado desse elemento, a liturgia propõe que o Espírito é o fomentador da unidade, aquele que garante que todos os carismas e dons estejam à serviço do Reino de Deus. Por fim, é o Espírito aquele que comunica aos discípulos a vida nova e os faz portadores da mesma para todas as nações.

 

O primeiro aspecto que a liturgia propõe na Solenidade de Pentecostes é a possibilidade de que a humanidade inteira seja renovada, por meio de novos laços de comunhão com Deus e entre os irmãos. Nesse caso, a primeira leitura se apresenta como uma alternativa radicalmente contrária àquela apresentada no livro do Gênesis, no relato da torre de Babel (Gn 11). Nesse relato, o homem toma para si o projeto de construir um mundo sem Deus e, em certo sentido, afrontando-o, no intuito de criar uma humanidade marcada pelo poder e pela autoridade, sem a presença de Deus. O resultado desse projeto de uma humanidade criada sem Deus e longe de sua presença foi a falência total, sendo que ao invés da unidade desejada se obtém a confusão e o caos. A imagem da confusão da linguagem indica a dispersão e confusão, a falta de harmonia e a falta de comunhão entre os povos. Diante desse quadro de grande caos e confusão, a leitura dos Atos dos Apóstolos apresenta um projeto de humanidade nova marcada pela força do Espírito Santo. No relato, apesar de serem de lugares diferentes e de nações diferentes, todos que estavam em Jerusalém naquele dia de graça e verdade podiam se compreender. Não havia confusão e discórdia, mas, sim, comunhão e diálogo, o que os unia e possibilitava que se entendessem era o Espírito de verdade e vida, a força do alto prometida pelo Ressuscitado aos seus discípulos.

 

Como fruto dessa humanidade nova, que é capaz de construir laços de fraternidade e solidariedade, por meio da força do Espírito Santo, a segunda leitura apresenta a unidade na diversidade como grande força da Igreja nascente. O texto da carta de Paulo indica um outro dom do Espírito Santo para a Igreja que é o de construir laços de unidade mesmo diante de carismas e dons diversos. A comunidade a que o apóstolo se refere buscava incessantemente os dons carismáticos, mas, por vezes, negligenciava o fato de que os mesmos deveriam estar à serviço de todos. Nesse caso, aqueles que os possuíam se intitulavam superiores aos demais irmãos, rompendo assim com a unidade da comunidade e com o vigor da missão evangelizadora. Desse modo, a proposta e reflexão de Paulo diante dos irmãos da comunidade de Corinto é a de que todos os dons devem servir à unidade e não à divisão, sendo esse um critério para que os mesmos sejam reconhecidos como provenientes de Deus. Por isso a insistência do apóstolo no dom maior que é o amor, aquele que garante a unidade e a comunhão entre os irmãos na comunidade. Sem o amor que nasce da comunhão com o Senhor e se expressa no serviço aos irmãos, todos os demais dons perdem o seu valor e se tornam vazios de sentido.

 

O último aspecto da liturgia deste domingo no que diz respeito á obra do Espírito Santo na comunidade se encontra no texto do Evangelho. O texto de Jo 20,19-23 reflete de forma muito clara a experiência feita pela primeira comunidade de discípulos da ressurreição do Senhor. No início do texto já se percebe que o dia descrito é o dia da ressurreição do Senhor, apresentado como o primeiro dia da semana. Este é o dia da comunidade, o dia consagrado à Palavra de Deus, à partilha dos irmãos, às orações, à comunhão plena com o Corpo do Senhor, é o dia no qual a comunidade é formada para viver na vida do dia a dia a fé que nele professa. Todavia, os discípulos se encontram trancados, com as portas fechadas por medo dos judeus; a comunidade ainda não havia feito a experiência da ressurreição do Senhor, o que lhes daria coragem e força no testemunho e na vivência do Evangelho.

 

Ao colocar-se no meio deles Jesus saúda toda a comunidade dos discípulos com a Paz, uma saudação que se repete por duas vezes. A repetição da saudação, por si mesma, já é um sinal no Evangelho de João, da confirmação do dom que a comunidade acaba de receber; a paz comunicada é a plenitude da força da ressurreição do Senhor, algo que tem o poder de fazer novas todas as coisas. Tal saudação e o convite de olharem para seu corpo não se constitui num modo de se apresentar. Ele deseja comunicar a toda a comunidade a potência de sua ressurreição, isto é, a graça alcançada em sua vitória na cruz. Uma graça que quando acolhida pode transformar a comunidade temerosa dos discípulos em uma comunidade confirmada na fé e firme no testemunho do Evangelho.

 

A alegria toma o coração da comunidade dos discípulos que começam a compreender o evento da ressurreição do Senhor e acolhem a sua presença no meio deles. Ao anunciar o envio, Jesus cumpre um gesto muito significativo: Ele "soprou" sobre toda a comunidade, comunicando o dom do Espírito Santo e fazendo a promessa do perdão dos pecados à tantos quantos os seus discípulos perdoassem.

 

Esse gesto de Jesus evoca a passagem do Antigo Testamento, presente no livro do Gênesis quando da criação do homem (Gn 2,7). Deus faz um boneco de barro e sopra sobre o mesmo o sopro da vida, e o boneco de barro se torna um homem vivente. A palavra hebráica para Espírito é Ruah, que pode ser entendida também como sopro, vida. Por isso, quando Deus sopra sobre o boneco de barro, ou no caso do Evangelho, quando Jesus sopra sobre os discípulos, em ambos os casos o sopro comunica a vida, e, no segundo caso a renovação da mesma - a nova criação. 

 

Sendo assim, no Evangelho de João, o Ressuscitado sopra sobre a comunidade dos discípulos o Espírito Santo, sinal da vida nova, da renovação total para toda a humanidade. Se no livro do Gênesis o boneco de barro ganha a vida, no relato do Evangelho a comunidade dos discípulos é recriada, sinal da nova humanidade que é renovada em Cristo, por meio de sua morte e ressurreição.

 

Depois desse gesto o Senhor pronuncia o seu envio: a comunidade dos discípulos, renovada pela graça e ação do Espírito Santo, é convidada a levar a todos o perdão dos pecados. A comunidade deve comunicar aos homens e mulheres a graça da ressurreição do Senhor e a vida nova para todos os que a Ele aderirem por meio da fé. Tendo sido renovada pela presença do Ressuscitado, a comunidade dos discípulos passa a ser lugar da graça e do perdão, da reconciliação e da paz, todos frutos da experiência feita na vivencia da ressurreição do Senhor.           

 

Que a liturgia deste domingo de Pentecostes seja capaz de iluminar o caminho de todas as comunidades em sua missão evangelizadora. De modo que todos se sintam comprometidos na construção de uma comunidade mais unida e vigorosa, a fim de que a mesma seja sinal para a sociedade nova e fraterna que todos desejamos. Que a unidade dos serviços de todas as comunidades seja no coração da Igreja sinal da ação do Espírito Santo, ele que é o distribuidor de todos os dons e aquele que os faz crescer. Enfim, que a vida nova comunicada pelo Ressuscitado aos discípulos, da qual eles se tornaram portadores, esteja presente em todos aqueles que desejam seguir o Senhor no caminho do discipulado missionário.

 

Pe Andherson Franklin Lustoza de Souza

 

 

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