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03.07.2017

14º Domingo do Tempo Comum - 09/07/2017


(Zc 9,9-10 / Sl 144 / Rm 8,9.11-13 / Mt 11,25-30)

 

O Senhor é justo - O Senhor é o salvador -  O Senhor é humilde

 

A liturgia deste Décimo Quarto Domingo do Tempo Comum propõe uma reflexão profunda sobre as qualidades encontradas no Messias esperado por Israel e de como a sua manifestação contradiz as expectativas daqueles que esperavam o sucesso e a glória. A primeira leitura e o evangelho deste domingo estão, como acontece na maioria das vezes, intimamente ligados, sendo que os temas sobre o Messias apresentados na leitura, aparecem na descrição que Jesus faz de si mesmo. O Messias é apresentado em sua justiça, o que na Sagrada Escritura diz respeito à fidelidade de Deus, que se traduz em salvação para o povo. Ele também é apresentado como o que foi salvo e, por isso, pode salvar o seu povo, estendendo, principalmente, aos pequenos e pobres o auxílio divino. Por fim, ele é descrito como um rei humilde, capaz de se compadecer e servir, algo que contradiz as expectativas daqueles que colocam a sua confiança no poder e na força.

 

Na descrição feita pelo profeta Zacarias o Messias esperado e que viria, seria justo, isto é, portador da justiça divina, fiel à sua palavra e capaz de gestos de misericórdia. Deus é justo pois salva o seu povo e permanece sempre fiel às promessas feitas aos que escolheu e elegeu. O Messias seria portador da justiça divina, aquele que confirmaria as palavras e promessas divinas proferidas aos antepassados, garantindo ao povo a salvação. Neste sentido, a justiça bíblica é muito fascinante, profunda e rica, pois ilustra um dos aspectos essenciais da pessoa de Deus. De fato, a justiça humana encontra no modo de agir de Deus o seu fundamento, o qual deve orientar e sustentar o agir, a vida e as escolhas do fiel. A justiça é então uma qualidade essencial do Deus de Israel e o fiel deve deixar-se orientar por ela para que viva de forma justa e defenda a justiça e o direito, combatendo a injustiça espalhada em todos os lugares da sociedade.

 

O termo justiça no hebraico do AT indica a relação estabelecida entre Deus e os homens no campo da Aliança, o conceito é profundamente relacional. Este significado está para além da ideia grega de justiça que indica: dar a alguém aquilo que lhe é devido. Para a concepção do AT a justiça é uma atribuição divina, e se relaciona diretamente à fidelidade de Deus à sua Aliança. A justiça de Deus no AT pode ser descrita como a propensão divina em proteger, defender e assistir o pobre: “Ele distribui aos indigentes com largueza; sua justiça permanece para sempre” (cf. Sl 112,9). O Deus de Israel, não era somente o Deus da Lei, mas, sobretudo, Aquele que à Lei se mantinha fiel. Sendo assim, a justiça de Deus se manifestava nas suas ações salvíficas em correspondência com a Aliança concluída com o povo eleito. Desse modo, as atitudes e posturas de Jesus durante a sua vida pública confirmaram ser ele o Messias portador da justiça divina, já que, não somente confirmava o pacto de Aliança e cuidado de Deus com os pequenos e pobres, como também convidava os seus discípulos a fazerem o mesmo. Por isso, o discípulo de Cristo será considerado justo quando agir conforme a relação de Aliança com Deus e quando em suas relações como os outros refletir tal atitude. Uma vida justa, ou viver como um discípulo de Cristo implica na prática da justiça, consiste no escolher modos de agir secundo a Aliança, algo que está para além de um agir de forma reta, partindo de uma ética baseada num modelo abstrato, mas se baseia claramente nos valores do Evangelho.

 

No que diz respeito à salvação, isto é, o Messias como portador da salvação, está profundamente unido ao que foi apresentado anteriormente, já que, em sua fidelidade, Deus salva o seu povo e se compadece dele, vindo ao seu encontro em suas necessidades. A salvação é oferecida aos homens de modo que seja um sinal do cuidado de Deus, algo que se estabelece nos caminhos de sua história, nos momentos de incertezas e, no fim da vida, na acolhida da casa do Pai. Segundo o profeta, na primeira leitura, o reinado do Messias estabeleceria um tempo de paz e concórdia, baseado na justiça e fraternidade, tempo de relações baseadas no compromisso e manutenção da Aliança. Desse modo, os caminhos de Deus são diversos dos caminhos do mundo marcado pela ganância e pelo desejo de poder desmedido, onde as relações são estabelecidas à partir da busca incessante de vantagens e regalias. Ao contrário, sendo ele portador de salvação, o seu reinado se traduz num tempo de serviço salvífico, num tempo de solidariedade e cuidado, principalmente com os que estão em situação de exclusão e opressão. Neste caso, as palavras de Jesus no Evangelho atestam a sua missão e confirmam a sua presença junto aos que mais precisam, como aquele que oferece repouso e amparo, aos cansados e oprimidos pelos fardos.

 

Por fim, o Messias apresentado é humilde, algo que se torna claro nas palavras de Jesus ao agradecer ao Pai pela revelação feita aos pequenos e humildes, revelando uma postura contrária à dos escribas e fariseus. Esses tomavam para si o estudo da Lei e das Escrituras, impedindo o povo de se achegar ao Senhor livremente. Todavia, Jesus, demonstra que os mistérios do Reino dos Céus não são acessíveis contando somente com a inteligência e a sabedoria deste mundo. Mas, eles são revelados àqueles que reconhecem a sua pequenez e simplicidade, àqueles que se dirigem ao Senhor de coração sincero e sem soberba, tais mistérios são revelados aos simples e pequenos.  Ao utilizar o contraste entre os sábios e doutores de um lado, e os pequenos do outro, Jesus indica dois grupos distintos de pessoas. No primeiro ele descreve aqueles que confiam em sua própria sabedoria, os entendidos da Lei e da Sagrada Escritura, que por muitas vezes fecham seus olhos para ver e seus ouvidos para ouvirem, afastando-se assim do Senhor. O outro grupo, por sua vez, é composto pelos pequeninos, esses são todos os que foram colocados à margem: as mulheres, as crianças, os pobres, os considerados impuros. Isto é, todos os que, segundo os critérios do primeiro grupo, não poderiam jamais compreender os mistérios do Reino dos Céus.

 

Para o Judaísmo, Deus só poderia ser conhecido unicamente por aqueles que Ele havia escolhido, ou seja, o povo eleito, ao qual Ele confiou também a sua revelação. Agora, Jesus se apresenta como revelador do Pai, como Aquele que, em suas palavras e ações O revela plenamente, algo que só é possível em vista de sua intima relação com o próprio Pai. Tal relação intima de Jesus com o Pai está descrita de forma clara no Evangelho de João, quando Jesus diz: "Aquele que vem do céu dá testemunho do que viu e ouviu" (Jo 3,31) e ainda "O Pai ama o Filho e tudo entregou em sua mão" (Jo 3,35).

 

No final do texto Jesus inicia fazendo um convite aberto, dirigido à todos, aberto à todo o povo de Israel, à toda a comunidade de seus discípulos: "Vinde a mim". Neste convite, é possível perceber o conhecimento de Jesus do cansaço e das fadigas de todos os que viviam oprimidos debaixo do fardo da Lei, que excluía e oprimia com um jugo difícil de suportar, afastando assim as pessoas de Deus e de sua presença. Para o evangelista Mateus, o caminho dos discípulos junto ao Senhor era completamente diferente dos outros mestres − fariseus e escribas. Esses impunham fardos pesados, uma dura disciplina e severos castigos aos seus discípulos. Jesus ao contrário agia com mansidão e leveza, paciência e ternura, para com os que Ele chamou para junto de Si, mesmo diante dos seus maiores erros e dificuldades de entendimento.

 

Ao apresentar Jesus como manso e humilde de coração, o evangelista retrata o modo de ser de Jesus e as suas opções fundamentais. Ele incorpora em sua vida a vontade do Pai e a realiza em todas as circunstâncias, Ele é bondoso com as pessoas, humilde e pacífico, algo demonstrado em sua paixão. Mateus deseja deixar clara a diferença entre os fariseus que procuram os primeiros lugares e gostam de ser saudados nas ruas e Jesus que pratica exatamente o que ensina. A promessa de Jesus no final do texto indica o que está reservado para a comunidade de seus discípulos, para todos os que se achegarem a Ele e Dele acolherem a revelação do Pai, aprendendo assim a mansidão e a humildade de coração. A esses está reservado o descanso na presença do Senhor que consola e sustenta no caminho e, em definitivo, no fim da vida, o Reino dos Céus.

 

Que a liturgia deste domingo ofereça a todos a possibilidade de se aproximarem com fé e confiança do Senhor que é justo, que é portador da salvação e é humilde na acolhida de todos os que a ele se dirigem. De modo que todos façam a experiência da fidelidade de Deus, depositando aos pés do Senhor a vida, na certeza de que ele tem cuidado e amparado a cada um. Que todos façam a experiência de sua presença salvífica e seu cuidado atento, a fim de que, tocados e colhidos nos braços do Senhor todos sejam formados na escola da justiça de Deus que é sinal de sua misericórdia e compaixão, principalmente com os pequenos e pobres. Que as comunidades eclesiais de base, aos celebrarem a Eucaristia ou a Palavra de Deus, se comprometam em serem sinais da justiça, da salvação e da presença acolhedora de Cristo juntos a todos os que o Senhor lhes confiou.

 

Pe Andherson Franklin Lustoza de Souza

 

 

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