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13.03.2017

Terceiro Domingo da Quaresma


(Êx 17,3-7 / Sl 94 / Rm 5,1-2.5-8 / Jo 4,5-42)

 

A sede do homem - A água viva é Cristo -  O nascimento da discípula

 

A liturgia deste terceiro domingo da quaresma traz dois elementos que não podem faltar no caminho penitencial que são a água e a sede. A liturgia deste domingo traz à tona uma reflexão sobre a sede do homem, manifestada em sua busca de sentido para a própria vida e em seu desejo de Deus. Nesta estrada de procura e encontro, o evangelho propõe o diálogo de Jesus com a mulher samaritana, no qual ele se apresenta como a água viva, capaz de saciar toda a sede da humanidade. A mulher, tendo sido acolhida na presença daquele que comunica a água viva, é saciada por Cristo, descobre a sua vocação maior como discípula missionária, abandona a sua vasilha e parte para anunciar aos seus que encontrou o Salvador do mundo.

 

Na liturgia deste domingo o tema da sede se encontra na primeira leitura e no evangelho, unindo os dois de modo bem direto e claro. Na primeira leitura, o povo liberto da escravidão do Egito, em marcha rumo à terra prometida, sofre com as dificuldades do caminho, tem sede, fome, sente-se abandonado por Deus e traz no coração os medos próprios por trilhar um caminho novo e inóspito. Em meio às dificuldades que passa, o povo de Deus sente sede e passa a questionar a ação de Deus junto deles, sentem-se abandonados e relegados à própria sorte. A sede do povo não era somente da água material, mas do cuidado e do amor de Deus e de sua companhia nos momentos de incerteza no caminho em meio ao deserto. Deus vem na direção do povo e faz surgir água da rocha, demonstrando o seu poder e cuidado para com o povo que elegeu e libertou.

 

Já no quarto Evangelho encontramos o encontro de Jesus com uma mulher samaritana, marcado por uma verdadeira catequese, na qual a mulher é, aos poucos inserida no mistério da identidade do Senhor. Desde o primeiro momento Jesus é apresentado como quem inicia o diálogo, ele o provoca ao dirigir-se à mulher que vem ao poço, com sede, procurar água. O interesse do autor do relato é o de manifestar quem é Jesus, figura central do texto, e indicar que é no encontro com ele, doador da água viva, que toda a sede do homem é aplacada. Ao iniciar o seu diálogo com a mulher samaritana, Jesus manifesta ter sede, cansado do caminho, senta-se sobre o poço, dirige-se à mulher dizendo: "dá-me de beber". O doador da água viva coloca-se sedento diante dessa mulher que também vinha para buscar a água para a sua própria sede. Durante a sua conversa com Jesus, a mulher vai aos poucos demonstrando a sua imensa sede de sentido para a vida e a sua sede de Deus. Em toda a sua busca ela se perdeu em muitos caminhos e procurou consolo nas mãos de muitos deuses, afastando-se de si mesma e perdendo-se na estrada da vida. De fato, quando Jesus pergunta a mulher sobre o seu marido, faz-se importante ressaltar que o discurso travado, nesse ponto entre Jesus e a mulher, se dá num âmbito religioso e que a palavra marido é a mesma utilizada para falar dos deuses estrangeiros. Sendo assim, a pergunta de Jesus era sobre a qual deus a mulher se dirigia, já que na região dos samaritanos eles cultuavam pelo menos cinco deuses diferentes. Assim a sede dessa mulher estava totalmente demonstrada e desnudada diante daquele que lhe podia saciar a alma e lhe dar nova vida.

 

Ao longo de todo o texto, o autor do evangelho oferece aos leitores informações importantes a respeito da identidade de Jesus, que partem de sua humanidade até chegar à manifestação de sua divindade. Nos primeiros versículos, Jesus é apresentado como um homem que chega cansado e sedento e se assenta sobre o poço de Jacó (v. 6). No texto esse elemento passa desapercebido, mas, o autor do evangelho, ao colocar Jesus sentando, cobrindo totalmente o poço, indica que é ele o doador da água viva, é ele a própria água viva. Mais adiante, a mulher samaritana se dirige a Jesus falando de sua pertença ao povo judeu, oferecendo mais uma informação à seu respeito (v. 9). Na mesma direção, ao referir-se ao poço de Jacó, o Senhor é colocado em relação ao patriarca que tinha dado aos samaritanos o poço de água do qual ele mesmo se serviu (v. 12). Ainda no diálogo com a mulher samaritana, o Senhor interroga sobre os seus maridos e a mesma revela parte de sua vida ao dizer que não tinha nenhum. A resposta do Senhor é direta e toca o coração da mulher que o reconhece como profeta, apresentando mais uma informação a respeito da identidade de Jesus (v. 19). No final de seu diálogo com a mulher, Jesus se apresenta como o Messias, algo que lhe tocou o coração e possibilitou que ele fizesse a sua experiência profunda com o Senhor (v. 27-27). Tendo bebido da água viva que é o próprio Cristo, a mulher foi saciada e não mais precisa de sua vasilha, com a qual retirava a água do poço, deixando-a para traz ela se dirige aos seus para anunciar-lhes o que tinha recebido do Senhor.

 

O relato se conclui com a presença dos samaritanos reunidos ao redor de Jesus, esses relatam o que a mulher lhes tinha dito e reconhecem, não mais somente por suas palavras, mas por terem feito eles também a experiência com Cristo, ser ele o salvador do mundo (v. 42). Desse modo, o texto é reconhecidamente catequético, apresentando a experiência da mulher samaritana como modelo de formação de verdadeiros discípulos missionários.

 

O coração da Samaritana foi atingido por um amor maior, como diz Paulo na segunda leitura, quando afirma que o amor de Deus foi derramado, de forma abundante, em nossos corações pelo Espírito Santo. Desse modo, tendo bebido dessa fonte inesgotável, ela foi formada como uma verdadeira discípula missionária, capaz de, ao ser enviada, levar aos irmãos e irmãs tudo o que lhe foi confiado pelo Senhor.

 

A samaritana, ao deparar-se com Jesus que se encontrava sentado sobre o poço de Jacó, tornando-se ele mesmo a fonte de toda a água viva, faz a experiência própria dos chamados ao caminho do discipulado missionário. Neste sentido, no encontro com o Senhor e nos passos dados a partir do diálogo com ele fizeram com que a samaritana percebesse a necessidade de buscar em Cristo a água viva. De fato, desde a iniciação cristã, lugar de formação de discípulos até os demais espaços presentes na comunidade eclesial de base devem propiciar tal encontro fecundo e transformador com Cristo. A fim de que, o homem sedento de Deus e de sua Palavra, seja apresentado a Cristo fonte de vida e alimento de salvação. Que os círculos bíblicos, os grupos de oração, os momentos de oração do terço, e, principalmente as celebrações da Palavra e da Eucaristia se tornem espaços de encontro com o Senhor. Lugares onde possam nascer novos discípulos e discípulas missionários, saciados com a água viva que é Cristo e enviados a matar a sede de tantos e tantas. A sede de justiça e solidariedade, sede de fraternidade e paz, sede de compaixão e misericórdia, sede de presença e auxílio.  

 

Que a liturgia desse domingo provoque uma reflexão sobre a sede que cada um traz na vida, sede de sentido, sede de Deus. De modo que no encontro com Cristo doador e a própria água viva, todos sejam saciados e tocados no íntimo do coração por esse amor de Deus derramado de forma abundante, como diz Paulo na segunda leitura. Que nessa quaresma sejam gerados novos discípulos e discípulas missionários marcados por um amor renovado e um desejo de comunicar tudo o que receberam do Senhor aos irmãos e irmãs.  

            

Pe Andherson Franklin Lustoza de Souza

 

 

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