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23.05.2017

Domingo da Ascensão do Senhor


(At 1,1-11 / Sl 46 / Ef 1,17-23 / Mt 28,16-20)

 

O olhar no caminho - A esperança do chamado - A missão da comunidade dos discípulos

 

Na liturgia deste domingo da Ascensão do Senhor, os discípulos ao contemplarem o Senhor que se eleva diante deles ao céu, são colocados diante de um grande desafio, devem ter os olhos fixos no caminho por ele proposto e firmar os passos no discipulado missionário. O que os alimenta e sustenta é apresentado na segunda leitura, isto é, a esperança do chamado que receberam e ao qual disseram o seu sim. Nesse diálogo entre o caminho do discipulado e a esperança que move a comunidade nasce a sua missão, fazer com que todos se tornem discípulos de Cristo.

 

A Ascensão do Senhor remete a Igreja a uma meta que está sempre diante dela, um caminho proposto de seguimento do Senhor que prometeu caminhar sempre junto dos seus. No relato da primeira leitura, assim que os discípulos contemplam o Senhor se elevar diante deles, dois homens vestidos de branco os interrogam dizendo: "Homens da Galileia, por que ficais aí parados olhando para o céu?" (At 1,11). Uma interrogação muito direta e clara dirigida àqueles que acabavam de se despedir de seu Mestre e, por isso, deviam decidir o que fazer de suas vidas. A pergunta a eles dirigida tinha o desejo de ajudá-los a colocar todas as suas forças em algo que, apesar de não facilmente compreensível e visível, poderia garantir o sentido mais profundo e dar as bases de sua vocação como discípulos missionários. Os discípulos estavam olhando os céus ao invés de mergulharem na história, esquecendo-se do que o próprio Senhor lhes tinha dito antes de partir: "recebereis o poder do Espírito Santo que descerá sobre vós, para serdes minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e na Samaria, e até os confins da terra” (At 1,8). Essa fuga de um mundo que pode parecer hostil ao Evangelho e cheio de contradições não pertence à fé cristã, ao contrário, os discípulos de Cristo são chamados a ter no caminho do discipulado missionário vivido na história, um modo de professarem a sua fé. Sendo assim, o olhar fixo nesse caminho faz do cristão um peregrino que dirige seus passos pelas indicações e valores do Evangelho e ruma sempre na direção de um mundo novo.

 

Nesse caminho de discipulado o que garante a força e o vigor, diante das dificuldades que se apresentam é a esperança do chamado que cada um recebeu. Pois a certeza de serem acompanhados pelo próprio Jesus firmou os passos dos discípulos fazendo deles sinal claro da graça divina na história. Aos discípulos essa verdade foi comunicada como um selo em seus corações, marcando-os de forma clara para a missão e, principalmente, para as perseguições que sofreram. Mergulhados na potência da ressurreição do Senhor, como a própria leitura indica, os discípulos foram fortalecidos e encorajados a manterem viva a sua fé. De fato, diante do desafio de serem testemunhas vivas de Cristo na história, os seus corações necessitavam de um vigor e impulso divinos, sem os quais poderiam abandonar o caminho e se perderem. A esperança que fala a leitura é a garantia e a certeza que o Senhor deu aos seus quando no dia de sua Ascensão prometeu permanecer sempre com eles. Sendo assim, aos discípulos foi dada uma chama que continuaria a brilhar e o faz até hoje nos corações dos discípulos e discípulas desse tempo. A chama da esperança de ser acompanhados pelo Mestre, fortalecidos por sua graça, instruídos por sua Palavra e enviados com a força de seu Espírito para a missão. Essa experiência de total confiança e fé é condição necessária para que aqueles que se colocam no caminho do discipulado missionário não se percam. Assim sendo, os discípulos são chamados a firmar o coração na esperança do chamado que o Senhor fez a cada um e deixar-se guiar por Ele em todos os passos. A fim de que nada possa vir a roubar o que aos mesmos foi confiado, isto é: a missão de anunciar o Evangelho.

 

Tal missão ganha relevo nas palavras de Jesus dirigidas aos seus discípulos no texto do Evangelho de Mateus lido nessa liturgia. O desejo do autor é o de quer provocar uma reflexão sobre o modo como cada um se coloca diante do chamado a ele dirigido, como responde a esse chamado e como se deixa formar para a missão de formar novos discípulos. A ressurreição de Cristo completa a sua missão e a sua revelação. A fé, então baseada na Palavra e na promessa, agora se baseia também sobre os fatos que corroboram a fé proclamada. Os discípulos se reúnem ao redor do Senhor sobre um monte na Galiléia, lá reconhecem o Senhor e recebem dele o seu mandato missionário: "Ide, portanto, e fazei com que todas as nações se tornem meus discípulos" (Mt 28,19). A Galiléia indica o lugar do ministério de Jesus, lugar do chamado dos discípulos, lugar do sim desses, lugar da profissão de fé de Pedro e, agora, lugar do envio para a missão de toda a Igreja. A montanha é o lugar da manifestação de Deus, lugar sagrado e muito querido pelo Antigo Testamento para falar de Deus que se manifesta aos seu povo. Ela evoca a subida de Moisés ao monte Sinai, lugar no qual ele recebe do Senhor a Lei e sela o seu compromisso com seu povo. Jesus, que para Mateus, é o novo Moisés, se coloca sobre o monte à espera de seus discípulos. Lá, diante deles, Jesus se manifesta e comunica a sua autoridade e lhes confia a sua missão.

 

Os discípulos se prostram com o rosto em terra, sinal de reconhecimento da divindade de Jesus, gesto inegável de manifestação de sua adoração e submissão, pois sabem estar diante do Senhor Ressuscitado. Apesar de todo o caminho feito com os discípulos, entre eles alguns duvidavam − algo que reflete a necessidade constante de se continuar o caminho, aprofundar a fé e amadurecer como discípulos.  Jesus menciona a autoridade que lhe foi conferida – “Toda autoridade...” (Lc 28,18). Essa é expressão da potência criadora de Deus, manifestada no gesto de recriar a humanidade na ressurreição de Cristo, fazendo surgir homens e mulheres novas para um novo tempo.

 

Aqueles que foram chamados pelo Senhor, que no convívio com Ele foram formados e "gestados" como discípulos, hoje recebem a missão de estender a todos os povos e nações o mesmo convite que receberam. A missão da comunidade dos discípulos é a de fazer novos discípulos, por meio da instrução e do batismo. Formados pelo caminho feito com o Senhor e estando com Ele, os discípulos são enviados à missão pelo próprio Ressuscitado. Eles se tornam missionários com o compromisso de fazer com que cada pessoa receba o anúncio do Evangelho e, respondendo positivamente a esse apelo, passem a “Estar com o Senhor” no caminho do discipulado. Este é o caminho que os conduzirá a um convívio com o Senhor e com a sua Palavra, capaz de formar novos discípulos, e, por conseguinte, novos missionários.

 

Que a liturgia desse domingo da Ascensão do Senhor confirme os passos de todas as comunidades eclesiais de base em seu caminho de discipulado missionário. De fato, que cada irmão e irmã sejam colocados diante do desafio de manterem viva a esperança que os une a Cristo no caminho como discípulos do Senhor. De modo que as comunidades e seus membros, imbuídos desse espírito e desse vigor, se tornem sinais vivos de Cristo e de sua presença em todos os lugares. A fim de que, toda a Igreja assuma o mandato missionário dado pelo Senhor com alegria e entusiasmo, tornando-se anunciadora da Alegria do Evangelho.  

 

Pe Andherson Franklin Lustoza de Souza

 

 

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