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18.07.2017

16º Domingo do Tempo Comum - 23/07/2017


(Sb 12,13.16-19 / Sl 85 / Rm 8,26-27 / Mt 13,24-43)

 

A misericórdia divina - A paciência divina - O auxílio divino

 

A liturgia deste Décimo Sexto Domingo do Tempo Comum apresenta uma visão bastante positiva que nasce na experiência que o homem faz da misericórdia, da paciência e do auxílio divinos. O autor do livro da Sabedoria, que foi escrito fora dos confins de Israel, apresenta a misericórdia de Deus para com todos, afirmando que ela é dom de seu amor. No Evangelho, entre as parábolas apresentadas, encontra-se a do joio semeado entre o trigo, na qual, o autor reflete sobre a paciência e o cuidado divinos e o seu modo de julgar, segundo a misericórdia. Por fim, na Leitura aos Romanos, Paulo propõe o auxílio do Espírito como aquele que traz à tona as maiores aspirações do homem e as apresenta diante de Deus.

        

O livro da Sabedoria procura apresentar respostas a uma pergunta que é tão atual quanto o era quando foi escrito, isto é: qual a razão da misericórdia e bondade de Deus verso os pecadores e praticantes de injustiças? O livro foi escrito em território pagão e, por isso, reflete as relações estabelecidas entre o Povo de Deus e os pagãos, colocando em questão o modo de se comportar dos filhos de Israel diante do modo de vida dos demais povos. Nesse caso, as questões que surgem estão na linha de procurar entender a razão pela qual Deus é tão misericordioso e longânime com os pecadores e suas ações. O texto litúrgico traz um versículo que pode ser útil na compreensão do que o autor reflete na passagem em questão, que é o versículo 26: "Mas a todos poupas, porque são teus: Senhor amigo da vida!". Deus ama a vida de todos e, por essa razão, medindo as ações dos homens pelo crivo de seu amor, não vê o mundo com um olhar condenatório, mas com olhos de compaixão e misericórdia.

        

O fundamento das ações divinas é o seu amor misericordioso e compassivo, lento para a ira e largo no perdão. Na mesma direção o autor do livro afirma, no texto lido na liturgia: "Assim procedendo, ensinaste ao teu povo que o justo deve ser humano; e a teus filhos deste a confortadora esperança de que concedes o perdão aos pecadores (v.19)". Uma outra tradução possível do texto seria: "o justo como amigo dos homens" (o justo deve ser humano) e "após o pecado, dás a conversão" (concedes o perdão aos pecadores). Deus não demonstra a sua potência aniquilando o homem à causa de seu pecado, mas, quando oferece ao mesmo a possibilidade de retorno à casa da comunhão, na qual ele é formado para a vida plena. Deste modo, se apresenta como aquele que não somente ama a vida do homem e, por isso, confia na possibilidade de que o mesmo busque a verdade e a conversão mas, chama o próprio homem a confiar em seu semelhante. A ação misericordiosa de Deus na direção de todos é, nesse caso, lugar de formação para a misericórdia e o perdão, pois também o homem é chamado a ser amigo, defensor de seu semelhante. Por isso mesmo que, ao receber a misericórdia de Deus de forma gratuita, o homem deve também olhar para os pecadores com um olhar misericordioso e cheio de compaixão, na esperança de que eles retornem de seus caminhos e busquem a comunhão com Deus.

        

Na mesma direção e unida à experiência da misericórdia divina está a paciência de Deus apresentada no texto do Evangelho deste domingo. Quando se reflete sobre o amor de Deus para com todos, e seu desejo de que os pecadores voltem ao bom caminho, coloca-se em questão o modo como Deus julga e qual a medida utilizada em seus julgamentos. Na parábola do joio existe algo que está escondido, não dito nas linhas do texto, mas necessário para a sua compreensão. Quando se lê a parábola, o que fica evidente é o escândalo, por parte dos empregados ao perceberem que o joio foi lançado e semeado onde o trigo tinha sido plantado. Em outras palavras pode-se dizer que o motivo do escândalo é o de perceber que onde se encontra a bondade e os sinais do Reino, também é possível encontrar aquilo que lhe é contrário. De fato, onde já existem e se encontram os sinais do Reino, isto é, no coração do homem, na Igreja e no mundo, estão também presentes os sinais do joio que cresce e lança raízes. Onde o homem está, com seu desejo de viver a Palavra e crescer na fé, ali também cresce e se manifesta o joio, que se faz ver na sede de poder, no orgulho, nas injustiças e na exclusão dos irmãos.

        

O evangelista Mateus retrata a sua comunidade que, por um lado desejava semear boas sementes, mas por outro, reconhecia a presença do joio. Por muito tempo, as primeiras comunidades foram tidas como perfeitas e compostas por santos e puros, algo que, concretamente, nunca existiu. Em meio as primeiras comunidades cristãs, não diferentemente das nossas Comunidades Eclesiais de Base, existiam grandes desafios que os textos bíblicos indicam de forma clara. Por vezes, nas primeiras comunidades, os pequenos e pobres eram desprezados, os pecadores não acolhidos e a vida não correspondia á fé professada. Tudo isso chega até hoje e encontra-se também presente nas comunidades onde cada cristão católico professa e vive a sua fé, indicando a atualidade da parábola encontrada no Evangelho.

        

Neste caso, o evangelista, ao propor o que o patrão apresenta como solução para o problema do joio, indica que Deus não age segundo a impaciência humana, mas segundo a sua misericórdia, sendo paciente e bondoso. A ação do patrão ao pedir que os empregados deixassem que o joio permanecesse junto ao trigo, indica o modo de agir de Deus no confronto com os seus que ainda trazem nos corações as sementes do Reino e o que lhe é contrário. Deus ao medir e ao olhar o mundo e os homens o faz por meio do olhar misericordioso de seu Filho, que por todos morreu a fim de que fossem salvos. Desse modo, a todos apresenta novos caminhos, portas abertas e novas chances de se redimirem e acertarem a estrada. A sua medida é o amor e a misericórdia, por isso Ele é paciente e longânime, lento para a ira e largo no perdão. Sendo assim, o tempo que o Evangelho propõe é o tempo do chamado à conversão, do convite ao arrependimento e da acolhida da misericórdia, a fim de que o homem tocado pelo amor divino volte o seu olhar para Deus e seja tocado por seu amor fiel.

        

Por fim, na leitura da carta aos Romanos, o apóstolo Paulo traz á tona um outro elemento a ser ressaltado na liturgia deste domingo que é o auxílio divino. De fato, a proposta do apóstolo pode ser colocada na reflexão dos elementos anteriormente apresentados quando ele reflete sobre as lutas e dificuldades dos homens em reconhecerem o que devem pedir a Deus. É o Espírito Santo que indicará o que se deve pedir, e, melhor ainda, pedirá em favor dos homens com gemidos inefáveis. Tal afirmação traz ao coração dos homens uma esperança portadora de grande alegria, sendo que, em meio as lutas diárias e ao desejo de superar as dificuldades próprias na vivência da fé, Deus não abandona os que ama. Deus conhece o que é melhor para os seus filhos e filhas e, por isso, o apóstolo indica que a melhor oração é aquela suscitada no coração dos mesmos pela ação do Espírito Santo. Isso não significa uma predeterminação, mas confirma o auxílio divino no caminho de seus filhos e filhas que buscam cumprir a sua vontade no dia a dia da vida.

        

Desse modo, tal auxílio se dirige a todos os que receberam a semente da Palavra e desejam seguir Cristo como seus discípulos missionários. Esses que foram confirmados no chamado e na vocação de produzir frutos, que são os sinais do Reino, mas apesar disso, ainda percebem crescer no coração e nas atitudes de vida, o joio. Por isso, buscar conhecer a vontade de Deus, alimentar-se de sua Palavra e confiar na ação do Espírito Santo devem ser atitudes daqueles que desejam superar a presença do joio e fazer crescer os frutos do Reino.

        

Que a simplicidade e verdade da liturgia deste domingo, ao apresentar a bondade, a misericórdia, a paciência, o auxílio e o amor de Deus, toque nos corações dos discípulos e discípulas de Cristo indicando um novo modo de vida. Que todos ao fazerem a experiência da acolhida e do perdão divinos sejam formados e educados para viverem nas Comunidades Eclesiais de Base a mesma misericórdia, paciência e acolhida. A fim de que a experiência que cada um faz se traduza no modo como se vive, particularmente, construindo nas comunidades espaços nos quais os homens se tornem, de fato, amigos e defensores da vida de todos.  

 

Pe Andherson Franklin Lustoza de Souza

 

 

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