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31.10.2016

Outubro – Mês Missionário

Departamento de Comunicação Entrevista Pe. Alci Dias


Departamento de Comunicação Entrevista Pe. Alci Dias

 

No início deste mês de outubro, o Departamento Diocesano de Comunicação entrou em contato com o Pe. Helder Salvador, que atualmente se encontra em missão na Diocese de Santíssima Conceição do Araguaia, no Pará. O intuito foi revelar como está sendo estes primeiros meses do presbítero na nossa Igreja-Irmã.

 

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Para finalizarmos o mês dedicado às missões, o Departamento Diocesano de Comunicação conversa agora com o Pe. Alci Monteiro Dias, que por aproximadamente três anos e meio viveu esta mesma experiência.

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DDC: Padre Alci, para iniciarmos, como foi receber o chamado para sair em missão?

           

Pe. Alci: Na verdade, esse chamado já estava desde os tempos do seminário e foi se intensificando depois de ter sido ordenado padre. Mas, especificamente, a decisão de ir mesmo para a missão se deu quando estava na Paróquia de São José do Calçado e havia me preparado para ser enviado. O envio, porém, foi adiado devido a transferência de Dom Luiz para Vitória, como Arcebispo. Com isso, os anos se passaram e o projeto Igreja-Irmã esfriou um pouco. Em 2012 surgiu novamente a oportunidade e reacendeu no coração o desejo de ir cooperar com a Diocese de Santíssima Conceição. Foi um momento muito bonito e senti que era realmente um chamado de Deus, pois não era só um desejo particular, mas algo que foi sendo confirmado pelo nosso Bispo Dom Dario, que também manifestou a vontade de me enviar, e pela necessidade da Diocese de lá. Além disso, outro fator importante é que tive um tempo razoável para me preparar, interna e espiritualmente, visto que seria uma mudança significativa na minha vida, ou seja, sair da nossa Diocese aqui (“minha casa”) para viver em um lugar completamente desconhecido e ter que me adaptar a uma realidade totalmente nova. Assim, não foi algo que se deu às pressas. Nessa preparação precisava considerar, ainda, a Paróquia de Rio Novo, onde eu estava apenas há um ano e já havia estabelecido uma relação de proximidade muito bonita com as pessoas e as comunidades. Mas a graça de Deus foi encaminhando tudo da melhor forma e nós, eu e a Paróquia, acolhemos aquele momento e o significado de ir anunciar o Evangelho em outro lugar, além de nossas fronteiras. Nesse sentido, vejo minha ida para a missão como um dom de Deus para a Igreja e que assumi com muita alegria e disposição.

 

DDC: E como foi a recepção do senhor em nossa Igreja-Irmã?

           

Pe. Alci: O povo de Piçarra estava na expectativa da chegado do novo padre e a recepção foi muito fraterna. É um povo acolhedor que fez sentir-me em casa, mesmo com as dificuldades de adaptação do início (primeiros meses). Depois de adaptado já passei a me considerar parte daquele povo, das famílias, da vida das pessoas, como também de toda a Diocese que me acolheu com carinho nas pessoas do Bispo, padres, religiosos (as) e lideranças. Com isso, mesmo com os desafios e dificuldades da missão, os quase três anos e meio que passei por lá foram de grande alegria e aprendizado, uma experiência profunda de fé e comunhão eclesial que está marcada em meu coração, na vida pessoal e ministerial.

 

DDC: O que mais lhe surpreendeu na Diocese de Santíssima Conceição do Araguaia, tanto positiva quanto negativamente?

 

Pe. Alci: Eu não conhecia praticamente nada na Diocese, tudo era novo para mim. A princípio, o que mais me chamou a atenção foi a história de evangelização na região, que já tem mais de cem anos. Nesta história destaca-se a coragem dos primeiros evangelizadores que enfrentaram todos os tipos de desafios e adversidades para poderem anunciar o Evangelho. Se hoje enfrentamos grandes dificuldades, imaginem naquele tempo! Olhando para essas pessoas, aprendi a não reclamar das dificuldades hoje em nossa caminhada missionária e ter, cada vez mais, a certeza de que é Deus mesmo quem conduz a ação evangelizadora da Igreja.

 

Outra coisa que me marcou foram as distâncias, tudo é muito longe! De Piçarra à Cúria Diocesana, por exemplo, são mais de 350 km. Dentro disso, porém, existe algo de encantador: a participação e comunhão dos padres, religiosos e leigos, seja nas reuniões ou encontros diocesanos, seja nas novenas das paróquias. Isto é, as distâncias não eram obstáculos para estarmos juntos como irmãos e como Igreja em comunhão. Isso também me ajudou a fortalecer o sentido do Ministério, o espírito missionário e sempre pensar a Igreja além da nossa Paróquia.

 

Além da história bonita de fé e evangelização, é uma região marcada pelas lutas sociais nas quais a Igreja teve uma participação muito importante na defesa dos mais necessitados e buscando promover a vida e a dignidade das pessoas. Ainda hoje é uma Igreja preocupada com a vida do ser humano, o que se expressa nos diversos projetos sociais da Diocese.

 

É, assim, uma Igreja viva que caminha com ritmo e dinamismo próprios, dentro de uma realidade muito diferente da nossa, com suas alegrias, qualidades e desafios particulares. Nesse sentido, precisamos olhar além do que seja positivo ou negativo, ou mesmo fazer comparações. Isso também foi um aprendizado para mim, ou seja, saber que a mesma Igreja está presente lá e o missionário, que vem de fora e será sempre “um estrangeiro em terra alheia”, deve acolher a diferença e procurar anunciar o Evangelho de acordo com a realidade do lugar, com seus costumes e jeito próprios de ser. É também por isso que durante esse tempo nunca pretendi fazer muita coisa, simplesmente procurei ser presença junto ao povo. O que foi possível realizar veio por acréscimo.

 

Como todo território amazônico, a região da nossa Igreja-Irmã merece um olhar solidário de toda a Igreja no Brasil devido aos muitos desafios existentes tanto no âmbito religioso quanto social, político e econômico. A nossa missão como Diocese de Cachoeiro vai no sentido de fazer comunhão e ser presença solidária junto ao Bispo e ao povo de lá com sua fé e jeito particular de ser Igreja. E mesmo com tantas demandas existentes, penso que a nossa missão é muito mais um estar do que fazer coisas. E o que fizermos precisa partir de uma consciência de que estamos lá, não por causa da necessidade, mas por que somos a mesma Igreja com o objetivo de anunciar Jesus Cristo onde estivermos.

 

DDC: O senhor citou que procurou ser presença junto ao povo e o que foi possível realizar veio por acréscimo. Poderia nos citar quais frutos foram gerados a partir desta missão?

 

Pe. Alci: Sou meio suspeito em falar de frutos por estar implicado, mas penso que alguns sinais nós podemos visualizar. O Projeto Igreja-Irmã está mais presente em nossa Diocese, falamos mais do assunto, vários padres foram visitar, outros irão em breve. Também vamos crescendo na consciência de que a Igreja não se resume ao nosso lugar, ela está além de nossas fronteiras e cada vez mais precisamos estar “em saída”, do contrário ficaremos fechados em nós mesmos e não atingiremos o coração das pessoas em suas realidades. A consciência de que a missão não se resume em realizar tarefas, mas sobretudo em procurar ser presença de Deus junto às pessoas em suas realidades, por isso a missão exige atitude de escuta, acolhida e olhar o outro a partir do outro. E, pessoalmente, pude fazer uma experiência mais profunda do sentido do serviço, do despojamento e da gratuidade de maneira bem concreta.

 

DDC: Padre Alci, muito obrigado pela disponibilidade e pelas palavras, tão reflexivas quanto belas. Gostaria de deixar uma mensagem a todos que estão lendo esta nossa entrevista?

 

Pe. Alci: Todos nós, desde o nosso batismo, somos Igreja missionária e, como tais, somos responsáveis pela missão desta mesma Igreja, em nosso lugar e além de nossas fronteiras. Nesse sentido, busquei compreender a missão junto à nossa Igreja –Irmã, ou seja, busquei olhar além e tentei crescer na consciência de que ter aceitado ser enviado e estar a serviço em outro lugar diferente do nosso, é assumir a vida da própria Igreja, que é maior do que eu, que minha Comunidade, Paróquia ou Diocese. Essa visão me fez integrar as dificuldades e os muitos desafios da caminhada, e de não assumir a missão como peso ou algo desagradável. Em outras palavras, entendi que estava lá como Igreja, chamada a ser solidária, num lugar onde o anuncio do Evangelho precisa ser fortalecido. Dessa forma, esta mesma Igreja, Conceição do Araguaia e Cachoeiro, se une fraternalmente com a intenção de ser fiel ao mandato do Senhor: “Ide... e anunciai o Evangelho”.

 

Estar lá, portanto, foi bem mais que suprir a falta de padres na região, mas o que me moveu (e move) é o sentido de ser Igreja e o sentimento de pertencer a esta família missionária, em que a missão não é responsabilidade de alguns poucos, mas de todos. É esse sentimento que me deixou leve e me fez assumir a missão com alegria e motivação, apesar das minhas fragilidades e limitações. Nos momentos de maiores dificuldades, batia aquela saudade da nossa Diocese e, por vezes, até questionei o que estava fazendo por lá. Mas logo parava, rezava, voltava à consciência e dizia: vale a pena estar aqui porque a missão da Igreja é maior que as dificuldades e os desafios, sejam eles internos ou externos.

 

E, sobretudo, a confiança na graça de Deus é o que me movia a cada dia. Nesse sentido, cresci também na consciência de que a missão sem a espiritualidade se torna um simples executar tarefas, fazer coisas. E a missão, entendo assim, não é fazer, mas SER presença de Deus junto às pessoas na sua realidade, ser sinal de esperança, de misericórdia, de solidariedade... Tudo o mais vem por acréscimo.

 

Com a graça de Deus estive lá e muito me alegra saber que a nossa Diocese está avançando na consciência missionária, seja na vivência concreta deste projeto Igreja-Irmã, seja no empenho por viver o caminho do discípulo missionário em nossas comunidades. É uma Igreja em saída. Que possamos continuar avançando cada vez mais na consciência de que somos uma Igreja em missão permanente e, com isso, estarmos abertos aos outros e nos dispormos para irmos além de nós mesmos para que o Evangelho chegue a todos os cantos e atinja todos os corações de acordo com valores do Reino de Deus.                                       

Pe. Alci Monteiro Dias

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Atualmente, Padre Alci é Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, de Conceição do Castelo, pertencente ao nosso Regional III. Novamente agradecemos ao padre por contribuir com tantas informações, recheadas de emoções. Ao Padre Alci, um grande abraço do Departamento Diocesano de Comunicação.

 

 

 

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