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19.12.2016

Natal do Senhor Jesus


Is 52,7-10 / Sl 97 / Hb 1,1-6 / Jo 1,1-18

 

A troca de dons, o canto novo, Deus habita entre os homens

 

A noite da terra foi iluminada por uma luz resplandecente de brilho e fulgor, e os corações aquecidos com o anúncio portador de uma grande alegria: Nasceu o Salvador! No natal do Senhor, todas as esperanças humanas encontram vigor e sustento, os olhos entristecidos recobram seu brilho, os corações abatidos são revigorados e os homens de boa vontade entoam os louvores ao Deus vivo. No mistério do natal existe uma magnífica troca de dons entre o céu e a terra, na qual todos reconhecem a bondade de Deus e entoam um canto novo de louvor e júbilo, pois Deus desejou habitar entre os homens.

 

A primeira oração da celebração de natal, chamada de coleta, é baseada num tema teológico muito rico e profundo, que é a encarnação do Filho de Deus e a divinização do ser humano. Encontra-se na oração o seguinte pedido: "dai-nos participar da divindade de vosso Filho que se dignou assumir a nossa humanidade". Aqui se encontra a descrição da troca de dons entre o céu e a terra, já que Deus doa à humanidade o seu Filho, feito homem, a fim de que o homem, unido a ele, se torne participante da vida divina. Tal mistério admirável encontra-se presente também no prólogo do quarto evangelho, quando afirma que "todos os que o receberam, deu-lhes capacidade de se tornarem filhos de Deus". De fato, no natal todos são levados a contemplar o nascimento do Salvador, os presépios são iluminados e o Menino é aí depositado. Os olhos se voltam para a simplicidade daquele que os anjos anunciaram e os pastores reconheceram.

 

Para celebrar profundamente esta troca de dons entre o céu e a terra, faz-se necessário entrar no mistério mais profundo e verdadeiro do natal, isto é, acolher o Filho de Deus feito homem. Isso significa não somente abraçar o menino simples e indefeso, mas, sobretudo, reconhecer nele o Filho de Deus e caminhar segundo a sua luz no dia a dia da vida, de modo que apresentando a Cristo a sua vida e unidos a ele, por sua morte e ressurreição, todos resurjam como novas criaturas, marcados pelo sinal da graça divina. Assim se descortina a relação indissolúvel entre a celebração do natal e a da páscoa, já que o Filho de Deus feito homem é o mesmo que morreu na cruz e ressuscitou, instaurando a maravilhosa troca de dons entre o céu e a terra, abrindo de uma vez por todas as portas do Reino para todos.  

 

Nessa noite gloriosa do natal do Senhor, o profeta Isaías convida a todos a reconhecer a presença de Deus em seu meio, no desejo de animar aqueles que retornavam do exílio para a terra prometida. Em suas palavras percebe-se a certeza de que é a presença de Deus junto aos exilados o motivo de sua grande alegria, o seu canto é o Senhor. O salmo entoado na celebração convida a todos a entoar um canto novo, cheio de esperança e júbilo, pelos feitos realizados pelo Senhor. No prólogo do quarto evangelho encontra-se a afirmação de que por meio de Jesus Cristo todos recebem graça por graça, isto é, ele é o portador da novidade de Deus. Apesar de não estar entre os textos da liturgia do natal, o texto do Apocalipse, o autor afirma que todos cantavam um canto novo, na certeza da manifestação de Deus na história dos homens, sinal de salvação e promessa de renovação cósmica. Neste caso, as dores da humanidade ainda marcada pela exclusão encontram em Cristo o seu sim, nele se encontra a possibilidade de novos céus e nova terra.

 

Nesse dia de natal, em todas as comunidades ao redor do mundo inteiro entoam-se cantos e hinos de louvor, no intuito de encher a terra com os louvores a Deus por ter oferecido aos homens o seu Filho. Por isso, é Cristo o canto novo, é ele que deve encher os corações e as mentes, de modo que todos celebrem a sua presença e sejam marcados pela alegria de sua graça. Que todos os lábios se encham de Cristo, que os corações sejam tomados por sua presença e que os homens comuniquem, pela palavra e pelos atos, aquele que é a fonte de toda a vida. Nesse caso, celebrar o natal é deixar-se inundar pelo próprio Cristo,  tornar-se portador dele e sinal de sua presença no mundo, a fim de que os lamentos de dor e sofrimento, as preces dos sofredores e marginalizados se transformem em cantos de júbilo e alegria, pois a mão do Senhor alcançou-lhes a vitória.

 

Existe na afirmação do prólogo do quarto evangelho uma verdade que ilumina a história humana inteira, diante da qual todo silêncio é preenchido e toda a esperança fortalecida. Ao contemplar o nascimento do Filho de Deus, o autor do texto introduz o seu leitor na visão da glória divina, ao pronunciar as palavras: "E a Palavra se fez carne e habitou entre nós". Segundo os grandes estudiosos desse texto fundamental para a fé cristã, a melhor tradução do grego para uma afirmação de tamanha importância seria: A Palavra se fez carne e armou a sua tenda entre nós, isto é, Deus desejou morar entre os homens.  Como diz São Paulo na carta aos Filipenses a respeito de Cristo: " despojou-se, assumiu a condição de escravo, tornando-se semelhante aos homens" (Fl 2,7). Sendo assim, Cristo ao entrar na história humana, não nasce nos palácios ou entre os ricos desta terra, mas é acolhido nos braços de sua mãe junto aos pobres, ao lado daqueles que fogem das ameaças dos tiranos, dos que sofrem e são excluídos. O Filho de Deus não somente nasce pobre entre os pobres, mas se faz servo de todos, até á sua morte na cruz para a salvação da humanidade.

 

A Palavra de Deus encheu o universo com a sua luz, vida e graça, tomando lugar junto aos homens para com eles fazer uma nova história. Ao longo da vida, muitos são os silêncios que cada um passa, muitas são as dúvidas e incertezas do caminho da fé, momentos nos quais as maiores feridas aparecem e o vazio pode corroer os mais firmes corações. O que se espera não é uma palavra vã ou passageira, algo que não atinja o íntimo do coração e, por isso, passe despercebida por sua fragilidade e infertilidade. Num tempo marcado por tantas palavras e poucas verdades, todos procuram no natal a Palavra viva, que é capaz de transformar os corações. É Cristo a Palavra do Pai feita carne, nele se encontram todas as esperanças e anseios mais profundos da humanidade inteira. De fato, é Cristo, a Palavra encarnada que possui a força da criação nova, capaz de tornar filhos de Deus todos os que o acolhem por meio da fé. Diante da luz, que é Cristo, não existe lugar para excluídos ou marginalizados, já que o seu brilho não fere e nem humilha os caídos, mas os eleva e os fortalece. Todos aos serem tocados por essa luz experimentam a bondade e a misericórdia, a compaixão e a solidariedade de Deus que desejou habitar entre os seus. Por isso, para encontrá-lo, deve-se estar atento às vozes dos pequenos e pobres, dos que sofrem e são perseguidos, pois neles Deus continua a fazer a sua estrada nessa terra. Sendo assim, é Cristo essa luz que veio habitar no mundo e na história, de forma que iluminados por seu brilho todos possam achar, de novo, o caminho da casa do Pai.

 

Que o Natal do Senhor seja vivido e experimentado profundamente por todos, de forma que cada um possa colocar nas mãos de Deus a própria vida e receber dele, como dom maior, o seu Filho Único. Iluminados pela Palavra de Deus, que veio habitar entre os homens, todos sejam capazes de entoar, não apenas com a voz, mas principalmente com a vida, o canto novo, que é o próprio Cristo Jesus.

 

Pe Andherson Franklin Lustoza de Souza

 

 

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