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09.01.2017

2º Domingo do Tempo Comum


Is 49,3.5-6 / Sl 39 / 1Cor 1,1-3 / Jo 1,29-34

 

O Cordeiro de Deus – Chamados a ser luz – O testemunho fiel

 

Passado o tempo do natal do Senhor, a Igreja retoma o ano litúrgico a partir do segundo domingo do tempo comum, no qual a figura central é a do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Toda a liturgia da Palavra convida os fiéis a colocarem-se no caminho de encontro ao Mestre, no intuito de se tornarem luzes, a exemplo do que se ouve na primeira leitura, e testemunhas fiéis segundo os moldes de João Batista.

 

A figura central da liturgia se encontra no quarto evangelho proclamado nesse domingo. De fato, todos os olhos se voltam para a pessoa de Jesus, que é apresentado por João Batista como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. O relato do evangelho, que é proposto logo após o prólogo do mesmo, é reconhecido como a semana inaugural; tal sucessão de dias tem início em Jo 1,19 e segue até as bodas de Caná em Jo 2,12. Os dias desta semana são dispostos de modo que o leitor possa acompanhar Jesus em seu caminho com seus discípulos, desde seu encontro com João Batista, que se torna sua testemunha, até a profissão de fé dos discípulos depois do sinal de Caná. O evangelho deste domingo retrata o segundo dia dessa semana inaugural, momento no qual João Batista indica Jesus como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. No primeiro dia, ele afirma não ser o Messias nem um profeta, mas somente a voz daquele que prepara o caminho do Senhor.

 

A imagem do Cordeiro, no quarto evangelho, é bastante sugestiva: ela evoca, principalmente, o momento da paixão e cruz no qual o Senhor será apresentado como o cordeiro pascal. Da mesma forma, a figura do cordeiro é muito próxima à do Servo Sofredor apresentada na primeira leitura do profeta Isaías. Em aramaico é utilizada uma só palavra para definir as duas figuras, tanto o servo, quanto o cordeiro, ressaltando assim a sua íntima união. A mansidão do cordeiro, mesmo quando sacrificado, já que era um dos animais preferidos para os sacrifícios, é imagem da figura do Servo Sofredor de Isaías: manso e capaz de portar todos os sofrimentos dos homens em seus ombros. Desse modo, a figura que surge da liturgia desse domingo é do Servo Sofredor que se é totalmente identificado na pessoa de Jesus, o Cordeiro de Deus.

 

No quarto evangelho, a palavra pecado está presente no singular, e não no plural. São contadas doze ocorrências em todo o texto, sempre indicando as forças da mentira que cobrem as instituições e os homens. Na descrição do evangelista, o pecado é essa força que provoca no homem um fechamento total a Deus e aos irmãos, fazendo com que o projeto de Deus se dirija à total falência. Todavia,  o próprio evangelho indica, desde o seu início, que o pecado já foi vencido pela mansidão e pela entrega do Cordeiro de Deus. A força de Cristo não está na violência de suas palavras e ações, mas em sua mansidão e na potência do Espírito que nele agiu. Cristo vence o pecado não pelo poder e eloquência de suas palavras, mas por sua entrega na cruz, na qual todo pecado é vencido. Nesse caso, todos são convidados a unirem-se a ele, a fim de que se tornem sinais da graça libertadora da salvação sobre o pecado para todos os irmãos.

 

Na primeira leitura, o profeta apresenta ao povo de Israel, ou melhor, a uma parte desse povo que foi fiel durante toda a provação do Exílio, a sua vocação mais sublime. Ao dizer que foram preparados desde o seu nascimento, o profeta ressalta a força do chamado e a resposta positiva dada ao Senhor por aqueles que ele escolheu e consagrou. Essa parte do povo fiel e perseverante é chamada a ser sinal do próprio Deus diante de todas as nações, ser uma luz para guiar a todos nos caminhos da salvação oferecida pelo Senhor. Estes não foram somente enviados, mas antes de sê-lo, foram formados pelo amor misericordioso de Deus que os chamou de seus servos e ainda indicou que o seu cuidado para com eles é desde sempre. Contudo, quando o chamado do Senhor encontra lugar no coração dos homens, ele não propõe a estes um caminho de afastamento dos demais e de reclusão total, mas de participação na vida concreta das pessoas que o Senhor deseja tocar com o anúncio da salvação.

 

Sendo assim, todos os homens e mulheres na Sagrada Escritura que receberam de Deus um dom especial, uma vocação específica, foram lançados, pelo envio que receberam, no meio dos seus, de modo a serem luzeiros guiando-os nos caminhos do Senhor. Tal missão não é sempre fácil e simples; existem momentos nos quais o desejo daquele que escutou o chamado do Senhor é o de abandonar o caminho, principalmente devido às muitas dificuldades que encontra. Por vezes, o povo não deseja ouvir, existe o desânimo próprio da estrada longa, o cansaço e a sensação de se caminhar sozinho. Nesse momento, a voz do Senhor ressoa forte e clara no coração do chamado, confirma a sua vocação, sua missão e refaz as suas forças: ser sinal e luz para guiar outros no caminho do Senhor. Assim, aquele que escuta o chamado e o acolhe, que se coloca diante do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, que é iluminado por ele a fim de se tornar luz para os irmãos e irmãs, jamais deve abandonar os pés do Mestre. De fato, é diante dele que o discípulo é formado e nutrido, revigorado em suas forças e novamente enviado como luz e sinal de salvação para todos.

 

Esse testemunho fiel, que é pedido de todo aquele que se coloca diante do Senhor a partir da vocação ao discipulado, não se dá somente pela resposta positiva ao mesmo chamado. No evangelho, a figura de João Batista indica, claramente, que o seu testemunho fiel nasce de uma intimidade maior com o próprio Jesus, a quem ele anuncia e indica. Ele afirma, no texto proclamado no domingo que não conhecia o Senhor, isto é, ainda não tinha feito uma experiência profunda com ele. A sua nova consciência e, por isso, o seu testemunho fiel de Cristo é um dom que lhe foi confiado, não somente um conhecimento horizontal, mas uma abertura transcendental, ou seja, fruto da graça de Deus. Ao encontrar-se com o Senhor, o próprio João reconhece estar diante do Cordeiro de Deus que é capaz de tirar todo o pecado do mundo. A força desse encontro transforma o coração desse homem com o fogo do Espírito Santo, do qual ele recebe a força para ser uma testemunha vigorosa e fiel, até à sua morte. Tal experiência se dá através do verbo ver, o qual é muito utilizado no trecho do evangelho proclamado. Ele é conduzido pelo próprio Deus no caminho do conhecimento de seu Filho que veio ao mundo para libertá-lo de todo o pecado. Desse modo, ao contemplar o Senhor e ao reconhecer nele o Messias, João Batista se torna o maior dentre os nascidos de mulher, capaz de ser uma voz que clama para que todos preparem no coração e na vida um caminho de ingresso do Senhor em seus corações. Assim, ele é reconhecido como uma testemunha fiel, portador de um anúncio capaz de tocar os corações dos homens, da mesma forma que fez com os seus discípulos que o deixaram para seguirem Jesus. Esse testemunho fiel é pedido a todos os que o Senhor chamou para si como seus discípulos e de toda a Igreja espalhada no mundo inteiro – um anúncio que seja vigoroso e cheio de encanto, capaz de conquistar os corações para o caminho do discipulado, provocando em todos um desejo de seguir o Mestre. Mas, para que isso aconteça, é preciso fazer o mesmo caminho proposto pelo profeta Isaías, na primeira leitura, e o mesmo caminho trilhado por João Batista, isto é, buscar o Senhor, deixar-se tocar por ele e tornar-se, aos seus pés, um verdadeiro discípulo, de modo que o testemunho que nascerá nas palavras e na vida seja fiel e fecundo.

 

Que a celebração desse domingo ajude a todos a reconhecerem a sua vocação batismal de se tornarem luzeiros num mundo ainda marcado por valores contrários aos do Evangelho, para que o testemunho da Igreja seja fiel e profético, capaz de provocar nos corações o sincero desejo de mundança e de renovação. Que o encontro com Cristo, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, seja tranformador, a fim de que todos, libertos por ele do pecado e do mal, se tornem promotores da justiça, da fraternidade e da solidariedade, principalmente junto aos que mais precisam.

 

Pe Andherson Franklin Lustoza de Souza

 

 

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