Notícias

10.04.2017

Tríduo Pascal - Quinta-feira, Sexta-feira e Sábado Santo


A vitória do amor - A vitória da cruz - A vitória da luz

 

O tríduo pascal não é simplesmente uma preparação para a celebração da solenidade pascal, mas a celebração da páscoa no decorrer de três dias. A unidade das celebrações é sentida, desde os ritos que as compõem, como uma única unidade celebrativa, o caminho proposto nos dias e, até mesmo, na própria liturgia de cada um deles. A celebração da Ceia do Senhor, isto é, o lava pés, na noite da quinta-feira, é revestida de um caráter e significado das primeiras vésperas da adoração da Santa Cruz, tendo o seu ápice na solene Vigília Pascal, que se une à celebração do domingo de Páscoa.

 

Esta é uma proposta de uma reflexão que une as três celebrações litúrgicas: Ceia do Senhor, Adoração da Santa Cruz e Vigília Pascal. Assim, todos são chamados a contemplar a vitória do amor na quinta feira, na celebração da Ceia do Senhor, na qual se realiza o gesto do lava pés, sinal claro do amor que se desdobra e chega até à sua plenitude. Na sexta feira, na liturgia da Adoração da Santa Cruz, todo o povo de Deus é convidado a abraçar a cruz de Cristo e nela unir-se ao Senhor que se entrega em favor da humanidade, reconhecendo a vitória escondida no sofrimento da cruz. Por fim, no Sábado Santo, com o acendimento do fogo novo e o entoar da proclamação da Páscoa, toda a assembleia litúrgica é mergulhada na vida nova do Ressuscitado, celebrando a vitória da luz fulgurante do homem novo, que é Cristo.  

 

A Liturgia da Quinta- feira Santa ressalta o valor da missão de Jesus junto aos seus discípulos e de como Ele os formou desde os menores detalhes para o serviço e a missão. O texto do evangelho tem início com a frase: "tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim". Tal expressão pode ser entendida de dois modos: o primeiro ressaltando a entrega de Cristo na cruz, o segundo indicando a plenitude do amor, ou seja, a realização plena do amor que se entrega. Sendo assim, um olhar menos atento pode ir diretamente à paixão e morte de Cristo na cruz, algo que o evangelho nos próximos capítulos também relata. Todavia, é preferível a segunda compreensão da frase, já que se une à maioria das passagens dos outros escritos do Segundo Testamento. Neste caso, o autor ao dizer que Jesus amou os seus até o fim, quer com a palavra "fim" ressaltar uma dimensão e um aspecto mais profundo, isto é, amou até à plenitude, amou de forma perfeita, plena e total. Neste caso, Jesus amou os seus até à perfeição do amor, amou-os até as últimas consequências do amor, que neste caso foi a sua morte na cruz. Na cruz é chegada a hora de Jesus manifestar, de forma suprema, o seu amor pelos seus, nessa hora tão aguardada no evangelho, já mencionada no capítulo dois nas bodas de Caná, em seu diálogo com a sua mãe. Nessa hora, que pode parecer de falência total de um projeto, segundo o olhar do limite humano, a expressão "fim" é retomada, indicando a plenitude do gesto de amor já realizado anteriormente no lava pés. Desse modo, a celebração litúrgica da Ceia do Senhor antecipa a sua entrega na cruz; a morte de Jesus na cruz é a manifestação suprema de seu amor, é sinal claro de que toda a missão de Jesus se dirige para essa hora, na qual ele se entrega ao Pai por amor a toda a humanidade.

 

Jesus na última ceia já sabia o que o aguardava e, ainda assim, foi capaz de um gesto tão significativo e verdadeiro, no intuito de demonstrar, de forma clara, qual o tipo de comunidade ele desejava para seus discípulos: uma comunidade de discípulos missionários - uma comunidade que se coloca a serviço, por meio da misericórdia e compaixão. Assim sendo, a descrição do lava pés, que vem em seguida, nada mais é do que um sinal visível desse amor que se coloca a serviço, se abaixa e é capaz de gestos de tamanha generosidade e entrega. Amar até o fim é o chamado feito pelo Senhor Jesus aos seus discípulos amados, um chamado que deve tocar dentro de cada um e despertar o desejo de seguir o Mestre em seus passos e, de modo especial, em suas escolhas.

 

Na liturgia da Sexta-feira da Paixão, a cruz que era reconhecida como símbolo de dor e sofrimento, de agonia e condenação, de maldição e punição (Dt 21,23), se torna, por meio da entrega de Cristo, sinal de um amor sem limites, da redenção e salvação da humanidade. Na cruz de Cristo não encontramos revolta ou inquietação, mas sim, doação e a plenitude do amor que se une a todos os homens sofredores e marginalizados, esquecidos e abandonados. Em todo o relato da Paixão encontramos o Senhor que de réu se torna juiz, é Ele que sentado no lugar de Pilatos, em sua apresentação,  passa a julgar a todos pelo amor que se entrega (cf Jo 18,13). Sendo assim, a morte de Jesus na cruz, para o quarto evangelho, não é abandono e abominação, mas exaltação e glorificação, sinal de vitória sobre a morte. De fato, no quarto evangelho, a ressurreição, a ascensão, a glorificação e a doação do Espírito constituem um único mistério de amor antecipado no momento da cruz. Desse modo, a cruz não é simplesmente um patíbulo, no qual o Senhor entrega a sua vida, mas o trono real, no qual ele reina vitorioso sobre a morte, indicando assim a vitória da cruz.

 

Em seus últimos momentos na cruz, o seu coração é aberto, uma porta que jamais será fechada, um lugar oferecido aos pecadores, para que ao entrarem pelo coração aberto de Cristo encontrem um lugar diante do Pai. Como diz a segunda leitura da Carta aos Hebreus, todos são convidados a se aproximarem de Cristo para, junto dele, alcançar a misericórdia e o auxílio divino em tempo oportuno. Mergulhados nesta experiência de acolhida e misericórdia em Cristo, todos são inseridos na escola de uma amor maior, que vai além dos limites e que se doa, um amor concreto e real, um amor possível e tão necessário nos dias de hoje. O Crucificado mostra a estrada da maturidade para os cristãos de hoje, que são chamados ao discipulado missionário. Todos os cristãos são chamados a um cristianismo maduro que consiste na vivência da doação e do compromisso com os outros. De fato, o "ser para o outro" é marca desse caminho de discipulado no qual todos os que aderem à cruz de Cristo são chamados a viver. A liberdade diante dos próprios interesses e a abertura ao outro são partes necessárias para a vivência dessa experiência religiosa que vai além das aparências e, por isso, entra na lógica da entrega que o Mestre realizou. A solidariedade e compaixão devem mover os corações dos discípulos e discípulas de Cristo, de modo que, ao beijarem a cruz do Senhor, beijem e abracem a todos e todas que ainda sofrem nesta terra, reconhecendo neles o próprio Cristo, que ainda hoje carrega a sua cruz.

 

A Vigília Pascal é mãe de todas as celebrações litúrgicas e de toda a vida da Igreja, é o coração do ano litúrgico. Por vezes, atribuiu-se à noite de Natal esta prerrogativa, exaltando-a como a grande celebração de fé da Igreja, mas mesmo essa ocorrência ganha suas luzes na grande noite da Páscoa do Senhor. Esta é uma noite iluminada pela luz do fogo novo, na qual é aceso o Círio Pascal, sinal da presença do Ressuscitado na comunidade que celebra a vitória da luz sobre as trevas.

 

Toda a liturgia, marcada por diversos símbolos, quer ressaltar a força do Ressuscitado que faz surgir a Igreja e a alimenta em seu caminho. Por isso, a bênção do fogo novo, o acendimento do Círio Pascal, a proclamação solene da Páscoa, a liturgia da Palavra, a liturgia batismal e os ritos que seguem a celebração eucarística são elementos fundamentais no corpo de toda a celebração litúrgica. O silêncio instaurado desde a sexta-feira, quando a comunidade se reúne para a adoração da Santa Cruz é mantido durante todo o sábado até quando se entoa a grande proclamação da Páscoa do Senhor. A luz vence as trevas e a sua vitória é fulgurante. O fogo novo que acende o Círio Pascal ilumina os primeiros passos dessa celebração e acompanhará a Igreja por todo o ano litúrgico. Durante todo o período pascal o Círio aceso será um sinal da vitória da luz sobre as trevas, algo que se verá, mesmo quando o tempo pascal se acabar, todos as vezes que os sacramentos forem celebrados.

 

As leituras proclamadas na Vigília Pascal resgatam o longo caminho da história da salvação, fazendo memória da ação divina na história dos homens. Nesse sentido, as leituras e salmos retratam a experiência de fé do povo de Israel no Deus da vida que cria e liberta a humanidade, celebrando a fé no cuidado divino junto ao seu povo. Neste caso, a recordação da Páscoa dos hebreus é um marco importante na liturgia e aponta para a Páscoa de Cristo em sua ressurreição. Por sua vez, o evangelho retrata o encontro das mulheres com o Senhor ressuscitado que lhes comunica a alegria da sua vitória sobre a morte: Alegrai-vos! Mergulhadas na noite de sua tristeza e dor, da desilusão de terem visto cair por terra tudo aquilo em que colocavam a sua confiança, as mulheres têm o seu coração iluminado pela palavra do Salvador. Ao dirigir-se a elas, o próprio Senhor indica o caminho a ser trilhado, isto é, voltar para a Galileia, fazer memória do caminho trilhado com os olhos iluminados pela vitória da luz que brilha na ressurreição do Senhor. Desse modo, a experiência da ressurreição comporta em si um caminho que deve ser trilhado na constante recuperação da memória agradecida e atenta da ação de Deus. Todos os que seguem o Senhor e desejam fazer a cada dia a experiência da ressurreição, vivendo como novas criaturas, devem levar em consideração o caminho trilhado, os passos dados e o horizonte à sua frente. Ao convidar as mulheres e os discípulos a se dirigirem para a Galileia, o Senhor oferece a eles algo muito importante, isto é, um caminho de discipulado. De fato, desde a Galileia todos abandonaram suas redes, famílias, casas, afazeres para seguirem o Senhor, agora devem retornar ao ponto onde tudo começou, iluminados por uma luz que lhes foi comunicada. Celebrar a Páscoa é uma experiência de luz e vida, na qual a vitória da luz se faz sentir na vida nova que brota no coração da comunidade, onde o ressuscitado se faz presente. Ao acolhê-lo e segui-lo, a comunidade dos discípulos se torna portadora de uma graça e de um anúncio, a graça de ser participante da vida divina, por meio da vitória de Cristo sobre a morte; já o anúncio diz respeito a se tornar comunicadora da salvação por seus gestos e palavras, apresentando a todos aquele que é vitorioso sobre a morte.

 

Que as celebrações desses dias sejam marcadas pela graça de Deus que convida a todos à comunhão com ele, de modo que todos reconheçam a vitória do amor de Cristo, que se doa na última Ceia. Sejam todos capazes de acolher, abraçar e beijar a cruz do Senhor levando-a como grande sinal de solidariedade com as dores do mundo. A cruz que é sinal da vitória de Deus diante do pecado e do mal, a fim de que passados esses dias e iluminados pela luz vitoriosa do fogo novo, todos se sintam convidados a se tornarem testemunhas vivas da ressurreição do Senhor em todos os lugares e junto a todas as pessoas.

     

Uma Feliz Semana Santa a todos!

 

Pe Andherson Franklin Lustoza de Souza

 

 

Mais Notícias