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11.04.2017

Domingo de Páscoa


(At 10,34a.37-43 / Sl 117 / Cl 3,1-4 / Jo 20,1-9)

 

A nova criação - O novo olhar - O coração renovado

 

 

O Domingo de Páscoa, o primeiro dia de todas as semanas para os cristãos, define a fé professada na comunidade e ilumina a sua caminhada, pois tem seu início na proclamação da vida nova em Cristo, isto é, no dia de sua vitória sobre a morte. Neste caso, a celebração da Páscoa, não pode jamais ser comparada às demais festas do calendário litúrgico da Igreja, já que sem ela, a própria Igreja não existiria. Sendo assim, toda a celebração da Páscoa, todos os gestos litúrgicos que a compõem são a demonstração da acolhida da Igreja desta verdade de fé: O Senhor Ressuscitou e está vivo!

 

Na liturgia deste glorioso Domingo de Páscoa, a Igreja oferece uma variação de leituras para a segunda leitura e para o evangelho. Por isso, muitos optam por ler o evangelho de João 20,1-9 nas celebrações matutinas e o de Lucas 24,13-35 nas vespertinas e noturnas. Em todas as leituras e nos evangelhos, pode-se perceber a proclamação da fé na novidade oriunda da ressurreição de Cristo, isto é, com o homem novo inicia-se a nova criação, marcada pela vitória de Cristo sobre a morte. É bem clara a experiência feita pelo discípulo amado quando, depois de ter recebido o testemunho de Maria Madalena, se dirige correndo ao sepulcro. Ao entrar no túmulo onde Jesus tinha sido colocado, ao ver como o local estava e não tendo encontrado o Senhor, o discípulo amado vê e acredita, ou seja, recebe um novo olhar da fé. Já no texto de Lucas, os discípulos que se dirigem na direção de Emaús acolhem o Senhor sem que o percebam, ouvem-no falar das Escrituras, o reconhecem ao partir o pão e têm o seu coração renovado pela experiência com o Ressuscitado.

        

A leitura da carta aos Colossenses afirma que "a vossa vida está escondida em Cristo". De fato, a Ressurreição do Senhor é garantia da vida nova proclamada e vivida pela Igreja, pois no Senhor ressuscitado está escondida a vida de todos aqueles e aquelas que a ele se unem. Sendo assim, é nova criatura aquele que professa a fé em Cristo, acolhe a graça de sua ressurreição e deixa-se moldar, segundo os valores do Evangelho, pela ação do Espírito do Ressuscitado. A novidade da vida em Cristo está no fato de que a morte, o pecado e o mal foram vencidos e, por isso, um novo tempo surgiu no dia da Páscoa do Senhor. Todos aqueles que a Cristo se unem no caminho do discipulado missionário são convidados a abandonar a vida velha, marcada pelos valores contrários ao Evangelho e a viver como ressuscitados. Nisso consiste a nova criação, fruto da graça de Deus, que atua no mundo e na história, por meio da ressurreição do seu Filho, convidando homens e mulheres de todos os tempos, raças e nações a ele aderirem por meio da proclamação da fé.

 

O texto do Quarto Evangelho, conhecido como Evangelho de João, traz o primeiro anúncio da ressurreição do Senhor, na voz de Maria Madalena. Ela tendo ido ao sepulcro, ainda muito cedo, não encontra o corpo do Mestre e corre para relatar o fato a Pedro e ao discípulo que o Senhor amava. Este discípulo era o mesmo que estava aos pés da cruz juntamente com Maria, a mãe do Senhor, depois da negação de Pedro e da fuga dos demais discípulos. Ao receberem a notícia de Maria Madalena sobre o que ela encontrara no túmulo do Senhor, os dois discípulos se dirigem ao sepulcro na esperança de encontrarem o Senhor. O discípulo amado chega primeiro, mas não entra; logo depois, chega Pedro, que entra e se depara com o túmulo vazio. Ao entrar, o discípulo amado vê o mesmo que Pedro tinha apenas visto, porém com uma sensível diferença que o evangelista faz questão de acenar: ao ver tudo, ele acredita. Os verbos gregos mais usados para indicar o ato de "ver" são dois: um deles diz respeito simplesmente ao gesto de ver, o olhar comum, ou seja, o modo como vemos as coisas. O outro, por sua vez, exprime um olhar profundo, como o ato de contemplar, quer dizer, expressa uma ação que vai além das aparências, como o ato de perscrutar os corações das pessoas, um olhar em profundidade. O discípulo amado ao entrar no sepulcro vazio busca Aquele que o amava, a quem ele tinha entregue a vida no seguimento do discipulado. No olhar profundo da experiência de fé, ele é capaz de ver além das aparências, consegue contemplar uma realidade mais ampla que aponta para a vida que supera a morte, para a ressurreição do Senhor. O olhar do discípulo amado é renovado, é iluminado pelo gesto da entrega da cruz, que não se resumiu na noite da morte do Senhor, mas que se abriu para a luz do dia feliz da Páscoa da Ressurreição. Sendo assim, o evangelista, ao afirmar que o discípulo amado viu e acreditou, confirma o itinerário de fé, intimidade com o Senhor e discipulado feito pelo discípulo que recostara a cabeça no peito de Jesus, na última ceia. A atitude desse discípulo é uma constante em todo o evangelho e ressalta um aspecto fundamental do caminho do discipulado missionário, iniciado no chamado feito pelo Senhor aos seus discípulos, que é a constância diante do Mestre, isto é, o estar com o Senhor, que forma os verdadeiros discípulos missionários.   

 

Já o texto do Evangelho de Lucas 24,13-35 ressalta a força da presença de Cristo junto daqueles que se afastavam da comunidade por não compreenderem a Ressurreição do Senhor. A intenção de Lucas é a de ressaltar a presença do Ressuscitado nas estradas, no caminho de seus discípulos, lá onde eles mais precisam dele, onde há mais necessidade, onde tudo parece perder seu sentido, onde as esperanças se dissipam. 

 

A decepção e a tristeza causadas pela morte do Senhor faz com que os discípulos deixem o seu grupo e abandonem a comunidade. Ambos se dirigem para a cidade chamada Emaús. Esta cidade pode ser entendida como um "lugar simbólico", ou seja, Emaús é o “lugar” para onde todo o discípulo vai quando perde as esperanças e deixa a comunidade de fé. Quanto mais se afastavam de Jerusalém, mais os discípulos se tornavam cegos, afastavam-se da cidade da Paz, seus olhos se obscureciam e o seu coração se tornava frio e insensível, tornando-se incapazes de reconhecer o Senhor, que se colocava a caminho com eles. O Senhor escuta as suas palavras e interrogações, os ouve profundamente e, somente depois disso, os repreende e lhes explica as Escrituras. Ele interpreta as Escrituras e lhes recorda o sentido profundo de tudo o que elas falam sobre ele. Jesus "simulou" que ia mais adiante e, neste momento, os discípulos pedem: "Permanece conosco, pois cai a tarde e o dia já declina". Este é o pedido de cada discípulo em todo o tempo e lugar. Eles reconhecem o Senhor ao partir o pão. Esse gesto, repetido tantas vezes no caminho do discipulado, se torna único e capaz de fazê-los reconhecer o Senhor junto deles. Ele se deixou reconhecer, iluminou os olhos daqueles que se sentiam abandonados e entristecidos e renovou-lhes o coração. Eles disseram: "Não nos ardia o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho, quando nos explicava as Escrituras?". Sobre as brasas cobertas de cinzas de seus corações vem o sopro do Espírito que aquece e ilumina, que dá nova vida e garante o vigor para o caminho. Eles, imediatamente, retornam a Jerusalém, deixam para trás o caminho que os afastava da comunidade, que os conduzia na direção de suas próprias angústias e desilusões, para voltarem à comunidade de fé − lugar do testemunho e da presença do Ressuscitado, que ilumina e aquece o coração daqueles que caminham ao seu lado. 

 

Que a celebração da Páscoa do Senhor possa tocar os corações de todos com a força da Ressurreição, de modo que a graça de Deus frutifique e renove os corações, os olhares e a vida de todos os cristãos. Que seja a força da vida nova a mover os corações e os passos dos discípulos de Cristo, de maneira que a vida nova, que nasce na ressurreição do Senhor, chegue a todos os lugares, principalmente onde a vida ainda é roubada. Que em todos os cristãos surja o desejo da renovação da vida, a fim de que a sociedade seja tocada por homens e mulheres de corações e olhos renovados, capazes de serem sinais da ressurreição do Senhor em todos os espaços onde se encontram.

 

Uma Feliz Páscoa a todos!

 

Pe Andherson Franklin Lustoza de Souza

 

 

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