Notícias

18.04.2017

Segundo Domingo da Páscoa


 (At 2,42-47 / Sl 117 / 1Pd 1,3-9 / Jo 20,19-31)

 

A experiência do Ressuscitado - A comunidade dos discípulos missionários - O testemunho da fé

 

A liturgia deste Segundo Domingo da Páscoa traz consigo a experiência da comunidade cristã a partir da ressurreição do Senhor, seus primeiros passos, suas bases fundamentais e a sua esperança fundamentada na experiência com o Senhor Ressuscitado. A experiência da Ressurreição descrita no evangelho proclamado no domingo ressalta a força da vida nova de Cristo comunicada aos seus discípulos e a toda a Igreja. A vivência dessa experiência de fé faz surgir uma comunidade de discípulos que possui bases bem sólidas, que devem estar presentes em toda a Igreja, a fim de que se torne lugar de formação de novos discípulos e discípulas ainda hoje. Neste lugar fecundo da comunidade encontra-se a profissão de fé de Tomé e da que se encontra na Carta de São Pedro, onde vemos superada a necessidade de ver o Senhor, num passo de maturidade de fé na Ressurreição e de sua presença no coração da comunidade.

 

O texto do Quarto Evangelho reflete, de forma muito clara, a experiência feita pela primeira comunidade de discípulos da Ressurreição. No início do texto já se percebe que o dia descrito é o dia da sua ressurreição, apresentado como o primeiro dia da semana. Este é o dia da comunidade, o dia consagrado à Palavra de Deus, à partilha dos irmãos, às orações, à comunhão plena com o Corpo do Senhor, é o dia no qual a comunidade é formada para viver na vida do dia a dia a fé que nele professa, como indica a segunda leitura. Todavia, os discípulos se encontram trancados, com as portas fechadas por medo dos judeus; a comunidade ainda não havia feito a experiência da ressurreição do Senhor, o que lhes daria coragem e força no testemunho e na vivência do Evangelho. Ao colocar-se no meio deles, Jesus saúda toda a comunidade dos discípulos com a Paz – uma saudação que se repete por duas vezes. Esta saudação e o convite a olharem para seu corpo não se constituem num modo de se apresentar; ele deseja transmitir a toda a comunidade a potência de sua ressurreição, isto é, a graça alcançada em sua vitória na cruz. Esta é uma graça que quando acolhida pode transformar a comunidade temerosa dos discípulos em uma comunidade confirmada na fé e firme no testemunho do Evangelho. Ao anunciar o envio, Jesus cumpre um gesto muito significativo: Ele "soprou" sobre toda a comunidade, comunicando o dom do Espírito Santo e fazendo a promessa do perdão dos pecados a tantos quantos os seus discípulos perdoassem. Este gesto de Jesus evoca a passagem do Antigo Testamento, presente no livro do Gênesis, quando da criação do homem (Gn 2,7). Deus faz um boneco de barro e sopra sobre este o sopro da vida, e o boneco de barro se torna um homem vivente. A palavra hebraica para Espírito é Ruah, que pode ser entendida também como sopro de vida. Por isso, quando Deus sopra sobre o boneco de barro, ou no caso do Evangelho, quando Jesus sopra sobre os discípulos, em ambos os casos, o sopro comunica a vida, especificamente no segundo caso, comunica a renovação desta, ou seja, a nova criação. Sendo assim, o Ressuscitado sopra sobre a comunidade dos discípulos o Espírito Santo, sinal da vida nova, da renovação total para toda a humanidade. Se no livro do Gênesis o boneco de barro ganha vida, no relato do Evangelho a comunidade dos discípulos é recriada, sinal da nova humanidade, que é renovada em Cristo, por meio de sua morte e ressurreição.

 

A comunidade dos discípulos é marcada pela experiência do Ressuscitado e descrita, na segunda leitura, como uma comunidade fundamentada em suas quatro “colunas”: “Mostravam-se assíduos ao ensinamento dos apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do Pão e às orações” (At 2,42). A primeira "coluna" é o encontro fecundo com a Palavra de Deus, a pregação da mesma, uma voz que parte da Igreja e a todos propõe o primeiro anúncio, convidando a todos a acolherem a fé e a se tornarem também anunciadores desta boa nova: discípulos missionários. Somente a Palavra de Deus encarnada na vida das pessoas, proclamada com autoridade, competência e simplicidade é capaz de iluminar a realidade e a história de cada discípulo.     

 

A comunhão fraterna, isto é, a caridade ativa, é a segunda "coluna" que sustenta a comunidade dos discípulos missionários. Esta se verifica na vida daqueles que se tornam discípulos de Cristo, “aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 8,21), se atualiza naqueles que “têm fome e sede de justiça” (Mt 5,6; 6,33) e se torna realidade na Opção Preferencial pelos Pobres, a fim de que tenham vida, e a tenham em abundância, como nos indica o próprio Senhor (Jo 10,11; 15,13). A escuta autêntica e verdadeira da Palavra de Deus deve conduzir à sua observância e à sua prática, fazendo desabrochar na vida a justiça e o amor, a solidariedade e a partilha, a comunhão e o compromisso, particularmente com os empobrecidos e excluídos da sociedade.

 

A terceira "coluna" da comunidade dos discípulos missionários, que se coloca ao lado do anúncio da Palavra, é a “fração do pão”. Cada vez que se celebra a Palavra de Deus e a Eucaristia, partilhando o “Pão da Palavra” e o “Pão Vivo do Céu”, todas as vezes que as comunidades se encontram para celebrar a sua fé e a sua vida, Cristo está presente iluminando os corações e indicando o caminho a ser seguido. Muitos discípulos missionários se sentem cansados, perderam o encanto, têm seus olhos obscurecidos pelo desânimo, não são capazes de sonhar e, principalmente, estão tão preocupados com as próprias dores que não sabem mais o que significa a palavra Solidariedade. Somente ao redor das Mesas da Palavra e da Eucaristia é que os discípulos são alimentados e fortalecidos. Nesta celebração da Fé e da Vida, suas forças são refeitas, a esperança ressurge e é nutrida em seus corações. Neste lugar fecundo da liturgia, os sofrimentos do seu caminho são amainados, os seus sonhos e projetos nascem e, sobretudo, os seus olhos se abrem para enxergar as diversas e sofridas realidades ao seu redor.

 

A quarta "coluna" da comunidade dos discípulos missionários é a oração, o encontro orante com a Palavra de Deus. Em vários “lugares e momentos” privilegiados de oração e reflexão é oferecido ao fiel a possibilidade autêntica de Encontro com Cristo, Palavra Viva do Pai. Neste diálogo fecundo com a Palavra de Deus, os discípulos são transfigurados e transformados pela ação do Espírito Santo, pois somente por sua presença é que a comunidade dos discípulos missionários terá coragem para sair de si mesma na direção de uma autêntica evangelização.

 

É na vivência desta comunidade, marcada pela presença do Ressuscitado que os discípulos missionários são formados e amadurecem na fé. O relato do evangelho deste domingo traz, em sua segunda parte, a pessoa de Tomé, suas dúvidas e a sua grande profissão de fé no Cristo Ressuscitado. Do mesmo modo, a segunda leitura aponta para a fonte de alegria que se torna a profissão de fé quando baseada na experiência do Ressuscitado, para além das aparências e do que é visível aos olhos.

 

No evangelho, Tomé, discípulo de Jesus que, pouco antes do evangelho confirmava a sua decisão de seguir o Senhor até as últimas consequências Jo 11,16, agora coloca em dúvida a presença do Ressuscitado no coração da comunidade reunida. Ao encontrar-se com o Ressuscitado na comunidade que celebrava o dia do Senhor, Tomé é interpelado pelo Mestre, a quem durante tanto tempo havia seguido e com quem tinha convivido: "Não sejas incrédulo, mas fiel". Ele se apresenta como um modelo contrário daqueles que professariam a fé independente de terem visto o Senhor. A sua experiência de fé não estava baseada no testemunho dos irmãos, mas na sua necessidade da visão tangível e palpável. Assim, depois de ter encontrado o Senhor, Tomé professa a fé e reconhece aquele a quem tinha entregado a vida e a quem ele seguia: "Meu Senhor e meu Deus!". O discípulo percebe que ter fé não significa que as coisas são exatamente como desejamos, ou como a evidência demonstra, mas, sim, colocar a confiança naquele que esperou ser comunicado por meio da fragilidade de homens e mulheres. A palavra da fé tem viajado muito até chegar ao coração do homem de hoje e será assim até o fim dos tempos. De fato, como o fermento escondido na massa, ou a pequena semente escondida na terra, assim é a palavra da fé: viaja no coração de homens e mulheres que se fizeram discípulos do Ressuscitado e, por isso, anunciam com a palavra e a vida a fé que professam.

 

Que a participação na liturgia deste Segundo Domingo da Páscoa inspire os corações de todos a fazerem uma profunda experiência com o Senhor Ressuscitado, a fim de serem renovados e ressurgirem como novas criaturas. Que nossas comunidades, marcadas pelo testemunho da fé, se tornem cada vez mais lugares fecundos onde são formados novos discípulos e discípulas missionários. Que sejam comunidades vivas, com  bases sólidas, oferecendo um espaço fecundo no qual todos possam professar a fé a exemplo de Tomé.

 

Pe Andherson Franklin Lustoza de Souza

 

 

Mais Notícias