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26.02.2016

MISERICÓRDIA.



Na última quarta-feira (24) os presbíteros da Diocese de Cachoeiro de Itapemirim, juntamente com o Bispo Diocesano Dom Dario Campos, estiveram reunidos na Casa de Encontro “Maria, Mãe da Igreja”, em Jerônimo Monteiro, para a Reunião dos Presbíteros, que acontece periodicamente.

Na oportunidade, Dom Dario falou aos presbíteros presentes sobre a Misericórdia, e é justamente esta mensagem que você pode ler a seguir, na íntegra:

Fala de Dom Dario Campos, Bispo Diocesano, na Reunião dos Presbíteros – Dia 17 de fevereiro de 2016.

"Bem aventurados os misericordiosos, porque alcançarão a misericórdia". (Mt. 5,7).

Os relatos bíblicos, desde seus primórdios, apresentam Deus, como sendo essencialmente amor e misericórdia. Sendo assim, para pensar em Deus e experimentá-Io no mais profundo do ser é necessário aprender d`Ele o que é ser misericordioso. Deus, ao longo da história da salvação, sempre manifestou o seu poder misericordioso. A criação é um gesto de misericórdia.

O envio de Abraão e a história de José são repletas de narrativas da misericórdia de Deus. Do mesmo modo, a libertação do povo do Egito, não foi senão mais que uma proeza misericordiosa do Deus da vida que fez opção por um povo e amou profundamente.

Assim, podemos ver, no caminhar do povo de Israel, nos salmos cantados, nos seus avanços e retrocessos, na conquista da terra, na sua constituição enquanto nação, nas batalhas, na fome, na alegria e na dor...  Em todos os momentos, a misericórdia de Deus sempre presente e manifestando-se de forma clara e inegável.

O Nosso Deus é um Deus que se compadece e que acolhe. Na acolhida Ele sempre restabelece as forças de seus filhos, a fim de que sempre pudessem dar continuidade ao longo caminho que ainda tinham que percorrer. Desse modo Ele fez com Elias, o Profeta do Altíssimo, que no longo caminho foi acompanhado pela presença, sempre constante, do Senhor. Do mesmo modo, Deus, de forma tão misericordiosa capacitou Davi, ungiu Salomão e tantos outros reis para que pudessem ser fiéis testemunhas de sua misericórdia.

Quando voltamos nosso olhar para a viúva de Serepta, percebemos a mesma misericórdia de Deus, o mesmo cuidado e a mesma acolhida.  Em sua misericórdia, Deus fez com que a pouca farinha daquela casa pobre e simples jamais faltasse, do mesmo modo que multiplicou o seu azeite para que jamais se acabasse. Tudo isso como prova de seu amor para com quem lhe é fiel.

Na vida de Jó, a misericórdia de Deus falou tão alto que o pobre homem resistiu a todas as intempéries de sua vida, na confiança e na certeza de que Deus poderia lhe manifestar seu poder, como assim o fez. Desse modo, podemos discorrer por todo Antigo Testamento e provar as delícias da misericórdia de Deus, estampadas em cada acontecimento da vida do povo da Aliança.

Quando falamos na Aliança, reconhecemos que ela é prova viva do amor misericordioso de Deus. Só se faz aliança com quem se ama, e quem ama perdoa e cuida, como disse o poeta. Deus cuida porque ama, e no amor, perdoa sempre e de forma ilimitada. O perdão de Deus é revestido de glória, a fim de que aquele que recebe o perdão seja profundamente renovado, em suas forças e em sua vida. Sobre ele vem o sopro da vida de Deus, seu halito e respiro, de modo que, o perdão seja fonte de nova vida, proporcionada pela misericórdia de Deus.

Como encontramos em S. João, Capítulo 3, 16: “de fato, Deus amou tanto o mundo que enviou o seu Filho, não para julgar, mas para que o mundo fosse salvo por Ele". Assim, num gesto nobre, sinal de seu amor, Jesus de Nazaré veio nos falar da misericórdia de Deus, apresentado-nos o Pai que quer mais a misericórdia que o sacrifício. Desse modo, ao nos revelar a face misericordiosa do Pai, Jesus nos diz  que devemos ser misericordiosos como o Pai, que nos acolhe e perdoa com compaixão e amor infinitos.
 

As palavras de Jesus foram norteadoras da sua prática. Em todas as passagens evangélicas, o que vemos é Jesus manifestando a misericórdia d`Aquele que o enviou, a todos os que lhe achegaram. Desde a palavra doce e próxima dedicada à pecadora: "Vá e não peques mais" (Jo. 8, 3-11), até aquela dirigida ao coxo: "Teus pecados estão perdoados" (Mt. 9, 5). Em várias outras passagens, encontramos o Nazareno manifestando a misericórdia de Deus, já que, durante toda a sua vida pública, Ele pregou a misericórdia e o perdão do Pai. Todo esse percurso de testemunho e grande amor, foi coroado no alto da cruz, onde, cravejado com os pregos que lhe feriam o corpo, a dignidade e a alma, Jesus encontra forças para manifestar, ainda uma vez, o seu ser misericordioso, quando clama: "Pai perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem" (Lc. 23,34).

Quando nosso olhar se volta para a Sagrada Escritura e somos iluminados por Ela, percebemos, voltando-nos para a vida do dia a dia, o quanto é difícil exercitar a misericórdia! Como é desafiador enfrentar o adversário, alguém que não nos agrada, um outro que fez uma calúnia contra nós, ou mesmo alguém que nos traiu a confiança. Como é difícil ainda, perdoar a quem tira a vida de um filho, de um irmão, ou de um parente nosso. Sim não é simples e nem mesmo fácil, nesses momentos tão duros e cruéis, que a vida nos apresenta, exercitar a misericórdia e o perdão. Devo dizer com certeza, que também eu, Bispo, tenho minhas dificuldades no que diz respeito a viver e dirigir minhas ações e passos segundo a misericórdia de Deus.

Acontece que, entre o mal que nos fazem e o perdão total existe algo precioso: o tempo. O tempo é um grande remédio. Ou seja, ele remedia, garante a possibilidade de vermos melhor todas as coisas. O tempo é a condição e a oportunidade de avaliar o outro lado, de nos fazer rever o modo e a forma como vemos os acontecimentos da vida. Ele nos mostra que o ódio, o sentimento de vingança, a desavença, só fazem mal para nós mesmos. Mas não podemos forçar o sentimento, como se fizéssemos de conta que vivemos segundo a misericórdia e bondade o tempo todo. Isso seria hipocrisia de nossa parte e não seria sustentado por muito tempo. Ao contrário, podemos e devemos colocar nas mãos do Senhor de todas as Misericórdias a nossa vida a cada dia, pedindo a Ele, de modo incessante, que Ele nos ajude a ouvir o Seu Filho e escolher, a cada dia, o caminho da misericórdia. A fim de, como nos pediu Jesus: Sejamos misericordiosos como o Pai, isto é tenhamos em nosso peito um coração misericordioso como o d`Ele.

Dom Dario Campos,ofm
Bispo Diocesano.



 

 

 

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