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24.10.2016

30º Domingo do Tempo Comum

A acolhida, a conversão e a missão


A misericórdia, a confiança e o testemunho

 

A liturgia do 30° Domingo do Tempo Comum traz como tema central a misericórdia de Deus, sua gratuidade que não segue os parâmetros humanos, mas vai sempre além dos mesmos. Juntamente com a misericórdia encontramos também a confiança daqueles que se colocam nas mãos de Deus e o seu testemunho de entrega e de vida.

 

Os textos da Liturgia deste domingo exaltam a misericórdia de Deus, de maneira especial, a Primeira Leitura e o Evangelho que acenam para a forma de Deus agir e o seu olhar misericordioso sobre seus filhos quando a Ele se dirigem. De fato, ao celebrar a misericórdia de Deus, o autor do Eclesiástico, reconhece a atenção redobrada do Senhor para com os pequenos e pobres. Tal perspectiva faz com que o texto da Primeira Leitura se una ao Evangelho do domingo anterior, quando foi apresentada a viúva e sua súplica constante diante de um juiz iníquo. A proposta é a de apresentar Deus como aquele que faz justiça aos que a ele se dirigem, particularmente aos órfãos, às viúvas e aos estrangeiros, ouvindo-lhes e sendo-lhes próximo.

 

No Evangelho deste domingo, Jesus apresenta mais uma parábola: dessa vez, ele relata a cena do fariseu e do cobrador de impostos, ambos em oração diante de Deus no Templo. A questão que se levanta é a da justiça de Deus, isto é, quem sai do Templo justificado, tocado e marcado pela misericórdia de Deus. No decorrer da cena é possível entrar na oração e no coração de ambos e perceber aquilo que pensam de si e de como se colocam diante do Senhor. A oração do fariseu não é vazia de verdade e não é também totalmente absurda; pelo contrário, os fariseus eram conhecidos pela sua radical fidelidade à Lei e, por vezes, seu exagero nessa observância. Por vezes, encontram-se na Sagrada Escritura passagens que contêm orações similares à do Evangelho, que expressam a forma como os que oram se colocam diante de Deus (Sl 26). Desse modo, a oração do fariseu apresenta o seu desejo de unir-se a Deus pela prática da Lei, mas ao mesmo tempo, revela a sua grande autossuficiência. Aqui se coloca o ponto da relação entre a misericórdia e a confiança, visto que só pode fazer a experiência da misericórdia divina aquele que se deposita, de forma confiante, nas mãos de Deus. No caso do fariseu, a sua confiança não está pousada na infinita misericórdia de Deus, mas em seu modo de vida e em sua própria justiça. Do mesmo modo que um "copo cheio" não pode receber nada mais, assim o fariseu, pleno de si mesmo e de suas boas obras, não tinha mais lugar para ser tocado pela misericórdia de Deus que lhe era oferecida. Por outro lado, o cobrador de impostos, ciente de sua condição e marcado pela consciência de suas faltas, apresenta-se com toda humildade e confiança diante de Deus. O simples fato de não possuir nada a oferecer além de sua presença fragilizada e de seu pedido de perdão sincero, fruto da vida vivida, faz com que ele seja justificado pela misericórdia de Deus que pôde atingi-lo totalmente. Deste modo, a experiência da misericórdia divina está unida à confiança no perdão e na acolhida de Deus, isto é, o fariseu não pôde recebê-la e experimentá-la, pois colocava a sua confiança em si mesmo; já o cobrador de impostos foi tomado pela misericórdia divina, uma vez que só poderia oferecer a si mesmo em toda a sua fragilidade.

 

Na Segunda Leitura, encontramos um outro fariseu. Vemos retratada a vida de Paulo, fariseu chamado pelo Senhor a ser seu apóstolo, pregador do Evangelho e grande testemunho da misericórdia divina. A Segunda Carta a Timóteo apresenta uma imagem de Paulo reconhecedor das graças divinas, profundamente marcado pela misericórdia de Deus, que o chamou e separou para a boa obra do anúncio do Evangelho. O apóstolo é testemunha fiel de um amor que o atingiu quando ainda era perseguidor dos cristãos, fariseu irrepreensível no tocante à observância da Lei. Pode-se imaginar Paulo, antes de conhecer Cristo,  fazendo a mesma oração retratada no Evangelho e comportando-se do mesmo modo diante dos demais. Todavia, marcado pela misericórdia de Deus, ele se viu totalmente vazio de si, a ponto de considerar como perda tudo o que tinha em vista de Cristo Jesus. A sua confiança sai de si mesmo e se dirige para aquele que o resgatou para o caminho do discipulado missionário. A experiência da misericórdia divina faz com que Paulo coloque a sua confiança inteiramente no Senhor e se torne testemunha desta experiência de salvação.

 

Deste modo, a busca constante da misericórdia de Deus deve ser precedida da busca de uma liberdade interior, encontrada naqueles que colocam a sua confiança em Deus e não somente em sua própria justiça. Tal experiência de misericórdia fará de cada um uma testemunha fiel da acolhida de Deus, de seu cuidado e misericórdia, principalmente com os pequenos e pobres.  

                           

                            Pe Andherson Franklin Lustoza de Souza

 

 

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