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24.10.2016

31º Domingo do Tempo Comum

A acolhida, a conversão e a missão


A acolhida, a conversão e a missão

 

A liturgia do 31° Domingo do Tempo Comum traz como tema central a acolhida, que se torna para Zaqueu lugar de conversão e de envio para a sua missão. O encontro de Jesus com Zaqueu se passa na cidade de Jericó, quando Jesus está em seu caminho para Jerusalém. É importante ressaltar que Jesus, em todo o Evangelho de Lucas, sempre se dirige para Jerusalém, lugar onde realizará a obra da salvação a Ele confiada pelo Pai. Nessa sua "subida" em direção à Cidade Santa, o texto relata a cura do cego e o encontro transformador de Jesus com Zaqueu, ambos tocados pelo dom de Deus e transformados em discípulos missionários.

 

         O relato do encontro e da acolhida de Jesus a Zaqueu deve ser acompanhado de uma reflexão sobre o texto de seu encontro com o cego sentado à beira do caminho. Os dois relatos são interdependentes e, por isso, devem sempre ser lidos juntos, a fim de que a compreensão do gesto de Jesus seja completa. Tanto o cego quanto Zaqueu são impedidos pela multidão de se aproximarem de Jesus: um pela cegueira e pela repulsa da multidão; o outro, não só por sua baixa estatura, como também pela grande multidão que se comprimia ao redor de Jesus.

 

         Apesar da atenção se concentrar na figura de Zaqueu, faz-se necessária uma menção ao cego sentado à beira do caminho. A localização do cego não expressa somente o lugar onde ele se encontrava, mas é uma clara indicação de que ele ainda não estava entre os discípulos de Jesus. O caminho (cf. Mc 10,52) deve ser entendido como uma nítida alusão ao caminho do discipulado, já que os cristãos eram reconhecidos como “seguidores do caminho” antes de receberem o nome de “cristãos” em Antioquia (cf. At 11,26). O cego, ao saber que o Senhor passava, começa a gritar o seu nome. A iniciativa do cego chama a atenção de Jesus que o acolhe e responde positivamente ao seu pedido: “Senhor, que eu possa ver novamente”. A palavra de Jesus ao cego é: "Vê de novo; tua fé te salvou". No paralelo desse texto, presente no Evangelho de Marcos, esta ação do cego é ainda mais explícita, pois ele, que estava à beira do caminho, passa a seguir Jesus ( no caminho ) como verdadeiro discípulo (cf. Mc 10,52).

 

         No Evangelho deste domingo, a cena se desenvolve na direção de um outro homem: Zaqueu, descrito como um homem de baixa estatura, rico e cobrador de impostos. Da mesma forma que o cego, Zaqueu, por sua estatura, não consegue ver Jesus, algo que se revela como o lugar da acolhida, uma vez que o próprio Jesus se dirige a ele. O Senhor se propõe a cear na casa do pecador, pois deseja ter intimidade com ele e entrar em sua casa. Ao saber disso, a multidão questiona a atitude de Jesus por ter ido se hospedar na casa de um pecador, murmurando contra o desejo de Deus de ir procurar e acolher o que estava perdido. Todavia, assim como o cego, também o publicano Zaqueu é acolhido primeiro por Jesus, e, ao receber o Senhor em sua casa, recebe o perdão, a salvação e uma missão.

 

         Em muitas passagens no Evangelho de Lucas, Jesus, ao se colocar próximo dos pecadores apresentando-lhes a face misericordiosa de Deus,  convida a todos à conversão por meio da acolhida e do perdão. Jesus vai na direção de Zaqueu, o chama e manifesta a sua acolhida para com aquele que era desprezado pela multidão devido o seu modo de vida. Sendo ele um cobrador de impostos, não só os recolhia para o Império Romano, como também roubava parte do que era recolhido, isto é, roubava dos próprios  irmãos. Apesar disso, Jesus deseja entrar na casa de Zaqueu, quer apresentar a ele a misericórdia de Deus, como indica a Primeira Leitura: "de todos tens compaixão, porque tudo podes. Fechas os olhos aos pecados dos homens, para que se arrependam" (Sb 11,23). O gesto de Jesus de ir atrás de Zaqueu ressalta o perdão e a misericórdia de Deus, que vai sempre à procura da ovelha perdida até que seja encontrada. Sendo assim, foi o próprio Zaqueu quem foi acolhido por Jesus, recebido no Reino, tornado verdadeiro discípulo na comunidade dos discípulos missionários.

 

         O próprio Zaqueu, ao ser atingido por um gesto tão inesperado de amor, compreende o seu novo lugar na comunidade dos discípulos e professa a sua fé missionária. Em sua profissão de fé, o novo discípulo  confirma sua adesão ao Mestre e o seu propósito de seguir Cristo no caminho do discipulado missionário. Em suas palavras, em seu desejo e gesto de partilha, percebe-se que algo novo aconteceu, ou seja, a acolhida e o perdão recebidos de Cristo fazem surgir um novo homem marcado por novos valores e por uma nova postura de vida. As palavras de Zaqueu antecipam, no Evangelho de Lucas, o que será proclamado, de forma tão direta, pela vivência das primeiras comunidades cristãs. A descrição encontrada nos Atos dos Apóstolos (At 2,42-47) de uma comunidade missionária, comprometida com a solidariedade, com a promoção da justiça e da vida, já se encontra presente no discurso de Zaqueu. O novo discípulo se propõe a dividir seus bens com alegria, restituindo a todos o que tinha defraudado. A figura de Zaqueu, que num primeiro momento pode evocar somente a colhida e o perdão, ambos presentes na atitude de Jesus, é, do mesmo modo, sinal de um compromisso de partilha e missão, algo que também diz respeito à fé. Ao ser acolhido por Jesus, sendo assim alvo da misericórdia de Deus, ele se deixa transformar de tal modo que ao professar a sua adesão ao caminho do discipulado o faz de modo pleno. A fé que professa o leva a reconhecer a missão a que é chamado: Partilhar com os outros o que se tem como gesto concreto da acolhida que recebeu e da fé que traz no coração.

                           

 

Pe. Andherson Franklin Lustoza de Souza

 

 

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