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14.11.2016

Solenidade de Cristo Rei do Universo


Encerramento do Ano Jubilar da Misericórdia em Roma pelo Papa Francisco

 

A realeza de Cristo, a urgência da salvação e a missão da Igreja

 

Na Solenidade de Cristo Rei do Universo, a Igreja celebra a conclusão do Ano Litúrgico na expectativa do início do tempo do Advento que serve de preparação para a celebração do natal do Senhor. Particularmente neste ano, com a Solenidade será encerrado, pelo papa Francisco, em Roma, o ano Jubilar da misericórdia. Entoemos unidos um grande hino de louvor ao Senhor por todas as graças e bênçãos recebidas neste ano jubilar e peçamos ao Pai de misericórdia que faça da Igreja um sinal perene de seu amor.

 

Na liturgia do domingo de Cristo Rei, a imagem do Senhor que se apresenta no evangelho é a do crucificado, solidário com as dores do mundo, como aquele que se coloca ao lado dos pecadores e excluídos, oferecendo a salvação. É a partir da cena da crucificação de Cristo que nascem os temas a serem refletidos neste texto: a realeza de Cristo, a urgência da salvação e a missão da Igreja.

 

Quando se celebra Cristo Rei do Universo faz-se necessário compreender o que significa a realeza de Cristo exaltada na liturgia  por meio de suas bases apresentadas na Sagrada Escritura. A introdução da monarquia em Israel não foi um processo pacífico e simples, mas um passo complexo e marcado por grandes contradições, principalmente pela forma como ela foi exercida pelos reis.

 

 A primeira leitura desse domingo traz a unção de Davi como rei de Israel, ele que sobe ao trono que tinha sido de Saul, primeiro rei do povo de Deus, ungido pelo profeta Samuel. A função do rei ungido era a de ser fiel ao Senhor, já que o rei verdadeiro de Israel era o próprio Deus. Sendo assim, ao receber a sua unção real, aquele que era colocado diante do povo deveria garantir o direito e a justiça, como sinais claros da presença de Deus junto ao seu povo eleito. O rei seria o defensor das viúvas e dos órfãos, protetor dos indefesos e pobres, aquele que deveria ser a mão de Deus estendida na direção dos mais fracos e abandonados. Todos os reis de Israel falharam nesse intuito; a sua maior preocupação era a manutenção do seu poder e a defesa de seus próprios interesses, isto é, uma despreocupação total para com o povo a eles confiado.

 

Neste vazio de verdade e fracasso da vocação dos reis, nasce a expectativa do surgimento de um rei justo e fiel, que governaria os pobres do Senhor com verdade e justiça, com retidão e solidariedade. Desse modo, se compreende a realeza de Cristo apresentada nos Evangelhos e, de modo especial, no de Lucas, proclamado nesse domingo. O Senhor é apresentado como crucificado entre os pecadores, numa alusão clara ao texto do profeta Isaías 53, que descreve o sofrimento do Messias. A cruz para o evangelista Lucas é o sinal máximo da solidariedade de Deus para com os pobres e pecadores, apresentação clara da realeza de Cristo descrita pelo seu gesto de compaixão e misericórdia. Sendo assim, a realeza de Cristo, celebrada na liturgia, deve ser compreendida a partir desse gesto supremo de amor de Deus para com o povo marcado pelo pecado e pelos sofrimentos. Na cena da crucificação, Cristo é descrito como Rei, seja pelos que o crucificaram, bem como pelo letreiro colocado em sua cruz. Na cruz Ele é apresentado como malfeitor, crucificado entre eles, sinal do amor divino que encontra uma estrada para alcançar a humanidade inteira, isto é, o próprio Deus que se coloca ao lado do homem real e de seus acusadores. No sofrimento de Cristo Rei é possível contemplar a força da sua realeza, pois ao descer ao encontro de todo homem realiza o que a segunda leitura apresenta, isto é, reúne em si mesmo toda a humanidade. No trono de sua cruz, Cristo reconcilia a humanidade com Deus, tornando-se sinal da misericórdia do Pai que acolhe a todos sem exceção.

 

Na manifestação do gesto salvífico de Cristo na cruz se descortina um aspecto fundamental da teologia do Evangelho de Lucas que é a urgência da salvação. O modo como o evangelista descreve o nascimento de Jesus nos faz reconhecer nele o Salvador da humanidade, aquele que vem em nome do Senhor para salvar o seu povo. No início do Evangelho, aos pastores é feito um anúncio: "Hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós um Salvador, que é o Cristo Senhor". Tal urgência da salvação, indicada pelo "hoje" dito aos pastores, será repetida várias vezes ao longo de todo o Evangelho, no intuito de apresentar a iniciativa de Deus de salvar, por meio de Cristo, hoje e sempre o seu povo. No evangelho de Lucas é possível perceber a firme decisão de  Jesus em tomar o seu caminho rumo à cidade de  Jerusalém, isto é, em todos os seus passos, Ele se coloca na direção da cidade santa, até a sua última subida, quando será elevado na cruz. Desse modo, ao ser crucificado o Senhor continua a sua missão de levar ao Pai seus filhos e filhas, marcados pelo pecado, pela exclusão e pelo abandono. Antes de morrer, em seu último gesto, Jesus na cruz se dirige ao "bom ladrão", oferecendo-lhe o paraíso. Suas palavras cheias de compaixão e misericórdia são a confirmação de sua missão descrita em todo o Evangelho: "hoje mesmo estarás comigo no paraíso". A repetição do mesmo "hoje", presente no anúncio do anjo aos pastores, no início do Evangelho, é a confirmação do desejo de Deus de salvar seus filhos e filhas e a urgência de tal gesto salvífico.

 

Em tempos ainda marcados por tanto descuido e negligência no cuidado com o bem comum e, principalmente com a despreocupação dos governantes com os mais pobres e excluídos, a Solenidade de Cristo Rei pode iluminar a vida e missão da Igreja. Ela é chamada a reconhecer a realeza de Cristo como um sinal e uma vocação que lhe fora confiada pelo próprio Senhor. Nesse sentido, a confirmação da missão da Igreja está na escuta atenta das palavras do Senhor, desde os seus primeiros passos na Galileia em sua leitura do texto do profeta Isaías: "o Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou pela unção para evangelizar os pobres, enviou-me para proclamar a libertação aos presos (...) proclamar um ano de graça do Senhor", até as suas últimas palavras dirigidas ao "bom ladrão" na cruz. À Igreja o Senhor confiou a missão de ser um sinal de salvação oferecida com grande urgência a todos, principalmente aos pecadores e marginalizados, aos mais pobres e excluídos. Neste sentido, a Solenidade de Cristo Rei ressalta a verdade da realeza de Cristo que está no serviço e na misericórdia, bem como, coloca em evidência a urgência da salvação oferecida a todos. Desse modo, a Igreja ao celebrar com alegria e reconhecimento a realeza de Cristo é chamada a renovar o seu sim à sua missão de ser, no mundo, sinal de salvação, a ser uma voz profética que proclama, em todas as circunstâncias e de diversos modos, o Reino de Deus, Reino de justiça e direito, Reino de paz e solidariedade. Desse modo, como uma comunidade de discípulos e discípulas de Cristo, a Igreja se tornaria, por meio de seu testemunho e de sua palavra, um sinal claro da urgência do advento do Reino de Deus.

 

Que a contemplação de Cristo Rei do Universo, pregado na cruz e solidário com os que mais sofrem, desperte em todas as comunidades eclesiais de base de nossa diocese, em cada cristão e cristã o sincero desejo de se unir ao Senhor na defesa da vida dos que mais precisam. Que nesse dia em que celebramos a vocação de todos os leigos e leigas, a graça de Deus faça surgir em nossa diocese discípulos e discípulas de Cristo cada vez mais comprometidos com o Reino, sinais da presença de Cristo Rei solidário e misericordioso.

 

Pe Andherson Franklin Lustoza de Souza

 

 

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