Notícias

05.12.2016

Terceiro Domingo do Advento


Is 35, 1-6a.10 / Sl 145 / Tg 5, 7-10 / Mt 11,2-11

 

A alegria constante, a espera paciente e a força do testemunho

 

O terceiro domingo do Advento é conhecido como Domingo Laetare ou Gaudete, isto é, o domingo da Alegria. Em toda a liturgia, nas orações, nos cantos e nas leituras é feito um convite a ter no coração uma alegria fundamentada na confiança nas promessas de Deus. Tal alegria constante nasce no coração daqueles que, colocando a sua confiança no Senhor, vivem uma espera paciente do novo de Deus e tocam o mundo com a força do seu testemunho.

 

Como a própria liturgia propõe, o terceiro domingo do advento é marcado por um convite a uma alegria constante que nasce na certeza de que o Senhor caminha junto de seu povo, sendo fiel às suas promessas.

 

Na primeira leitura, o profeta Isaías se dirige ao povo que se sentia cansado e com o coração vacilante, devido à experiência tão dolorosa do Exílio, convidando-o a reconhecer a presença e o cuidado de Deus. Em suas palavras percebe-se uma exortação firme a fim de que fosse capaz de manter viva a alegria, sinal de sua confiança e certeza de que o Senhor lhe fizera uma promessa e lhe seria fiel. Essa postura de vida, que é pedida aos filhos de Israel, é baseada no fato de que o próprio Senhor tomaria a direção da sua história nas mãos. É o Senhor que transforma o deserto em jardins, a terra árida em campos verdejantes, mudando a tristeza, o cansaço e a desilusão dos corações, marcados pela saudade da terra prometida, em gritos de festa e de alegria.

 

Nas palavras de Jesus dirigidas aos discípulos de João Batista, está o grande motivo de alegria do Reino: o fato de que os pobres, os doentes e os excluídos são evangelizados e acolhidos no Reino. Isso significa que, quanto mais a Igreja tornar-se próxima dos pequenos e pobres, dos excluídos e marginalizados da sociedade, mais a justiça florirá, o deserto se transformará em fontes e a alegria de Deus invadirá a terra. Sendo assim, a alegria constante que o domingo propõe nascerá no coração dos homens, quando desejarem o que é de Deus e viverem segundo a sua Palavra como discípulos de Cristo, sinais de sua presença no mundo, a fim de que sua experiência de discipulado esteja baseada na certeza de que Deus pode e deseja fazer surgir o novo. Deus poderá fazer surgir o novo, mesmo em meio aos desertos em que cada um vive, sobretudo nas situações onde ainda falta a esperança e a vida plena para todos. Desse modo, os discípulos de Cristo, portadores dessa alegria constante, seriam capazes, por meio da palavra e da vida, de mudarem o rumo da história, sendo também eles sinais da misericórdia e da graça, da compaixão e da solidariedade, junto aos que mais precisam.

 

Ao lado desse convite à alegria constante encontra-se a necessidade de uma espera paciente, algo tão desafiador e, algumas vezes, difícil de se viver, mas, ao mesmo tempo, tão necessário no momento atual. A sociedade hoje se organiza num ritmo cada vez mais veloz, no qual todos são forçosamente, quase que obrigados, a participar. Este ritmo frenético, seja no trabalho, nas relações e nas expectativas estão na ordem do dia, marcando de forma decisiva o mundo que se vive. Assim, numa realidade onde se espera respostas tão velozes, existe pouco espaço para a espera paciente e o cultivo cuidadoso e dedicado de verdades e de valores que levam tempo para nascer, florescer e dar frutos.

 

Em todas as leituras do domingo, bem como também no evangelho, encontra-se a necessidade de descobrir o caminho dessa espera paciente, da dedicação e do cuidado consigo e com os outros. O profeta se dirige àqueles que retornavam do Exílio, sabendo que deveriam encontrar uma terra arrasada e as cidades destruídas; já o autor da carta a Thiago apresenta a espera confiante do agricultor pelos frutos, diante da semente plantada e, por fim, o evangelista indica a espera do Messias, o qual já se percebe os seus primeiros sinais.         As imagens utilizadas evocam a necessidade de um silêncio interior e uma espera, algo tão raro nos tempos de hoje, mas tão necessário para aqueles que desejam viver uma vida baseada na experiência de fé e no seguimento de Jesus. Tal espera paciente não é vã e nem infundada, pois, segundo a carta a Thiago, mesmo quando não se pode ver, a semente, no profundo da terra, está lançando as suas primeiras raízes, para depois surgir, florescer e frutificar. Desse modo, o discípulo de Cristo é convidado a esperar em Deus, na certeza de que ele tem um desejo a se realizar na história dos homens, uma promessa feita que não muda e um amor que continua o mesmo, apesar dos descaminhos da história. Mesmo sendo tão desafiadora e, por vezes, difícil de ser vivida, a espera paciente faz parte da espiritualidade cristã, isto é, diz respeito àqueles que desejam ver o novo de Deus em suas vidas e no mundo. Por isso, vivem não de forma passiva e descompromissada com a realidade e, principalmente com os sofrimentos dos irmãos, mas fazem de sua vida um sinal da presença de Deus. De fato, tornam-se portadores da graça de Deus que quer tocar a história por meio de suas mãos e de sua presença, já que eles mesmos trazem na vida os frutos que cultivaram no silêncio e na espera paciente em Deus. 

 

O terceiro tema da liturgia desse domingo, que é a força do testemunho, nasce da experiência da alegria, própria daqueles que esperam em Deus e colocam em suas promessas a sua total confiança. Nas palavras do profeta Isaías, percebe-se o desejo de animar, consolar e fortalecer o caminho do povo, marcado, principalmente, pela desilusão causada pelo Exílio. Já nas palavras da carta a Thiago encontra-se uma exortação a olhar para o testemunho dos profetas que falaram em nome do Senhor, de modo que todos se sintam confirmados na mesma vocação. No evangelho, Jesus indica a força do testemunho de João Batista ao afirmar que dos nascidos de mulher ninguém é maior do que ele. Sendo assim, a liturgia ressalta a necessidade do testemunho, próprio daqueles que foram marcados por uma experiência do chamado de Deus e do seu cuidado sempre presentes na vida. A força de João Batista não está em sua figura, já que não se une ao poder de sua época, mas reside na verdade de suas palavras e no modo como são proferidas e vividas por ele mesmo. O seu testemunho está em consonância com a força dos profetas, pois indica o Ungido de Deus, diante do qual o próprio João se torna pequeno. A força do testemunho de João Batista é sinal que aponta para a acolhida de Cristo, que ele mesmo anuncia com a vida e com a palavra, no sincero desejo de que seja acolhido e seguido. Por isso, o cristão que acolhe o Senhor é inserido nessa dinâmica de seguimento e discipulado, dia a dia se torna mais próximo daquele que o chamou, de modo que a sua vida, suas palavras e ações reflitam Cristo. Sendo assim, os gestos salvíficos e libertadores descritos no evangelho por Jesus passam a ser parte da vida dos que o seguem, seus discípulos passam a participar das suas escolhas e o seu modo de viver passa a ser testemunho vivo da ação de Deus na história.

 

Que a Palavra de Deus seja a razão da alegria, a base da espera e a força para o testemunho de todos os chamados pelo Senhor ao discipulado. Que o domingo da Alegria ajude a todos a perceber o sentido profundo de se preparar para a vinda do Senhor, numa atitude de espera paciente pelos sinais de sua presença na vida do dia a dia.   

                           

Pe Andherson Franklin Lustoza de Souza

 

 

 

Mais Notícias