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13.02.2017

7º Domingo do Tempo Comum


(Lv 19,1-2.17-18 / Sl 102 / 1Cor 3,16-23 / Mt 5,38-48)

 

Sede santos – Sede perfeitos – Sois de Cristo

 

A liturgia deste domingo traz uma indicação de vida para todos os cristãos, seja na palavra da primeira leitura, quando convida a todos a serem santos, vivendo segundo a santidade de Deus, bem como a exortação de Jesus dirigida aos seus sobre serem perfeitos, segundo a perfeição do amor. De fato, tanto uma quanto a outra refletem o caminho do discipulado, no qual é fundamental a verdade apresentada pelo apóstolo Paulo: vós sois de Cristo, isto é, pertencem a ele.

 

A santidade no Primeiro Testamento, de modo especial no livro do Levítico, significa, antes de mais nada, ser separado, diverso, consagrado a um fim maior. No que diz respeito à santidade de Deus é a manifestação da diferença existente entre ele e os homens, isto é, a sua alteridade. Deus é diverso dos homens, mas não uma diferença que exclui a possibilidade do diálogo e encontro; ao contrário, o Senhor constantemente convida os homens para a comunhão consigo. Pode parecer algo paradoxal e, até mesmo, estranho, mas somente reconhecendo a distância existente entre Deus e os homens é que se pode entrar em comunhão com ele. A comunhão e o encontro com Deus não são fusão e, nem mesmo confusão, mas, sobretudo, manifestação do mistério amoroso de Deus, que acolhe o homem em seu seio. A comunhão verdadeira pressupõe o reconhecimento da diferença e a fuga de qualquer desejo de domínio ou submissão. Nesse caso, o reconhecimento de Deus como o outro, como aquele que convida à comunhão, não significa que ele esteja distante do seu povo, solitário em sua divindade. Deus é santo e sua santidade é também manifestada quando ele escolhe e caminha ao lado de um povo pequeno e pobre, pecador e frágil, guiando-o nos caminhos da história como o seu povo eleito, chamado a ser como ele: santo.

 

O convite da liturgia deste domingo, feito pelo livro do Levítico, é direto: sede santos como o Senhor é santo, ou seja, todos são convocados a participar da santidade de Deus. Como dito anteriormente, na compreensão do livro do Levítico. Tal chamado implica na postura do povo de se tornar separado, consagrado, pertencente ao povo do Senhor. Todavia, essa separação e consagração não significa a presunção de saber-se melhor do que os outros ou estar num lugar superior, mas se baseia na relação de filiação com Deus. O povo se sente acolhido pelo Senhor, apesar de seus pecados e transgressões, convidado a uma relação de comunhão com o Deus Santo de Israel, cheio de compaixão e lento para a ira. Nesse caso, a santidade a que o povo é convidado a viver diz respeito à manifestação clara diante de todos os povos da santidade de Deus, na qual o próprio povo é acolhido. Ela é um convite a uma distinção evidente de todos os valores que não refletem esta santidade, particularmente, como segue apresentado no texto a distinção por meio de um amor renovado, provado e maduro pelos irmãos e, por que não dizer, também, na direção dos inimigos?

 

Na mesma direção da exortação feita na primeira leitura, no evangelho ouve-se a palavra de Jesus, direta e clara, para todos os seus discípulos: sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito.  Esta máxima de Jesus é continuidade do discurso sobre a santidade presente na primeira leitura, como também um aprofundamento. De fato, ela deve ser compreendida no seu contexto próximo e no convite feito aos discípulos de um amor renovado e verdadeiro para com os inimigos. Esse passo do amor para com os inimigos, que vai além do que se normalmente espera, é uma radical mudança que indica à qual perfeição e à qual santidade os discípulos são chamados. Do mesmo modo, como o Pai ama seus filhos e os cumula de todo perdão e graça, toda misericórdia e compaixão, assim também os discípulos de Cristo são chamados a viver, ou seja, a reproduzir na vida do dia a dia as características desse amor maior e irrestrito de Deus, que lhe é oferecido de forma gratuita e livre. Assim, são superadas todas as leis que pudessem querer regular o amor e o perdão, a bondade e a misericórdia, já que Deus faz surgir o sol para os bons e para os maus. Isso não significa a aceitação passiva da injustiça e do mal, mas uma postura diversa diante do modo como cada um se coloca frente aos outros, principalmente diante dos que lhe fizeram o mal. Para alguns grupos oriundos do Judaísmo, inclusive para a comunidade de Qumran, o irmão, o próximo era aquele que pertencia à comunidade. A palavra de Jesus indica que todos são próximos e, por isso, todos são irmãos. Neste caso, a perfeição seria, a exemplo da santidade, uma participação no amor do Pai, a comunhão com ele que ensina aos seus filhos o caminho novo do amor manifestado em Cristo. Ao acolher tal amor maior, o discípulo de Cristo é educado para um novo modo de vida, a fim de que por meio de suas atitudes e escolhas, o amor que recebeu do Pai gratuitamente seja manifestado a todos sem distinção.

 

Neste domingo, os dois apelos feitos na leitura e no evangelho ganham força na palavra do apóstolo Paulo aos Coríntios quando afirma: vós sois de Cristo. De fato, o contexto da afirmação de Paulo é bastante específico e diz respeito a uma comunidade dividida entre pequenos grupos que devia recuperar a sua unidade interna, superando assim as divisões. O apóstolo, em todo o capítulo 3 da carta, apresenta Cristo como fundamento no qual o edifício da comunidade eclesial, mas também da vida dos irmãos, deveria ser construída. Todavia, a afirmação aplicada ao contexto da liturgia pode servir como forma de compreender um caminho para a vivência da santidade e da perfeição as quais os discípulos e discípulas são chamados a viver.

 

A santidade e a perfeição apresentadas como o novo modo de vida para o povo de Israel e para os discípulos de Cristo têm como base fundamental a participação na vida divina e a comunhão com Deus. Deste modo, a santidade de Deus, comunicada aos seus filhos, os torna santos e, por conseguinte, capazes da vivência da santidade e de um novo modo de conceberem a sua relação com o Senhor e com os irmãos. Igualmente, a perfeição do amor se alcança na comunhão com o amor irrestrito do Pai que acolhe, perdoa e ama a todos indistintamente. Para Paulo, todos foram salvos em Cristo, e é ele a manifestação da santidade e perfeição no cumprimento da vontade do Pai. Assim sendo, a união a Cristo é condição sem a qual seria impossível viver a santidade no dia a dia e a perfeição no amor. Por isso, a afirmação de Paulo de que todos são de Cristo é pertinente e apresenta um caminho de vivência da santidade e da perfeição do amor na vida dos que são chamados ao caminho do discipulado. A santidade e a perfeição são frutos do caminho feito com o Mestre, que indica a estrada a ser seguida e confere aos que chamou para si a graça necessária para se trilhar o caminho proposto. Aquele que se une a Cristo escolhe a estrada de um amor renovado e revolucionário, pois rompe com os limites e vai além dos muros que tantas vezes são erguidos. Esse amor, fruto da comunhão com o próprio Senhor, é manifestação da santidade; não a dos altares, mas a do dia a dia, tão necessária em tempos atuais.

 

Que as exortações presentes na liturgia deste domingo encontrem lugar nos corações, de modo que surjam sinais da santidade de Deus na vida de todos os cristãos, a fim de que, marcados pelo amor do Pai, desejem alcançar a perfeição na vivência do amor fraterno, reconhecendo que ele tem como base a entrega gratuita de Cristo, por amor, na cruz.

 

Que possamos viver a santidade e a perfeição do amor, unidos a Cristo que a todos conquistou para o Pai.    

            

Pe Andherson Franklin Lustoza de Souza

 

 

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