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28.03.2017

Quinto Domingo da Quaresma


(Ez 37,12-14 / Sl 129 / Rm 8,8-11 / Jo 11,1-45)

 

A promessa da vida - A vitória da vida - A vida no Espírito Santo

 

A liturgia deste quinto domingo da quaresma traz como tema principal a vitória da vida. Iniciando com promessa contida na primeira leitura feita ao povo de Israel ainda exilado na Babilônia, passando pela ressurreição de Lázaro, grande sinal do Quarto Evangelho, até chegar a vida no Espírito proposta por Paulo aos Romanos. Ao povo ferido de morte em sua esperança no exílio, Deus promete um caminho de retorno passando da morte para à vida. No caso da ressurreição de Lázaro, o sinal do evangelho traz um respiro de grande esperança para todos os que são chamados a seguir Jesus por meio da fé. Por fim, nas palavras de Paulo aos Romanos encontra-se a exortação para uma vida segundo o Espírito Santo, caminho a ser trilhado por todos os que, pelo batismo, nasceram de novo em Cristo.

 

A leitura do profeta Ezequiel retrata uma das experiências mais dolorosas para o povo de Israel, o Exílio. O texto retrata a visão do profeta diante de um vale cheio de ossos secos, sinal claro da morte de toda a esperança que o povo nutria em seus corações. De fato, no exílio o coração dos filhos de Israel foi provado em sua mais profunda experiência de Deus, já que, a esperança de uma dinastia davídica, de um povo unido ao redor do Templo e servindo a Deus em sua terra, foi radicalmente colocada à prova. Como confiar nas promessas de Deus? Como perceber o seu cuidado sendo relegado a viver numa terra estrangeira? Como perceber o auxílio do Senhor e não perder a esperança quando tudo parece desmoronar? Tais perguntas deveriam povoar o coração dos filhos e filhas do Senhor em sua estadia no exílio da Babilônia. Perguntas que também podem povoar os corações dos discípulos e discípulas de Cristo ainda hoje, em meio às muitas situações que encontram no dia a dia da vida.

 

Nesse cenário de grande desolação e sofrimento, o profeta, em nome de Deus, anuncia a novidade da intervenção divina, o desígnio de Deus de salvar o seu povo e reconduzi-lo à sua terra. O Senhor abrirá as sepulturas nas quais o seu povo foi colocado, os fará ressurgir e os conduzirá até á sua terra, oferecendo a vida no lugar onde todos encontravam a morte. Com essa promessa e ação salvífica, Deus confirma a sua Palavra e demonstra diante de seu povo ser o Senhor que dá a vida e reforça a esperança. Na palavra do profeta, proferida em nome do Senhor, encontra-se a certeza de que suas promessas não caem por terra, mas são confirmadas ao longo da história de Israel. O próprio Senhor, por meio de seu profeta, recorda ao povo que não pode perder a memória de suas promessas e ações, a fim de que, nos caminhos da vida, mesmo em meio às dificuldades, nunca perca a esperança. Por esta razão é que a noite de Páscoa se torna noite do memorial, do cultivo de uma memória agradecida que reconhece a ação divina e mantém firme a esperança na vitória da vida.

 

O texto do evangelho deste domingo da quaresma traz o relato da ressurreição de Lázaro e de como esse sinal importante no quarto evangelho quer comunicar a vitória da vida, daqueles que se unem a Cristo, sobre a morte. O leitor é convidado, na sucessão de cenas, a entrar mais profundamente no relato, a ponto de poder perceber o que vai no coração dos personagens. A intenção primeira do autor do evangelho é a de apresentar Jesus como vitorioso sobre a morte, um preanuncio de sua ressurreição, como também, do ultimo dia onde todos estarão unidos a Ele diante do Pai. A palavra de Jesus sobre a morte do amigo Lázaro, a quem muito amava, indicando que a sua doença não o levaria à morte mas serviria para glorificar a Deus, oferece ao leitor uma indicação do que poderá acontecer. Jesus, ao chegar, já encontra o seu amigo morto há quatro dias e é recebido por Marta, irmã de Lázaro. Ao entrar em diálogo com Marta, Jesus oferece a ela e a todos os seus discípulos a certeza da vida eterna quando diz: "Eu sou a ressurreição e a vida, quem crê em mim, mesmo que morra viverá" (v. 25). O Filho de Deus veio ao mundo para testemunhar o Deus da vida e a vitória da vida sobre toda a espécie de morte, de modo que, todo o que Nele professa a fé viverá eternamente.

 

A cena continua com o diálogo de Jesus com Maria, outra irmã de Lázaro e apresenta o Senhor que chora a dor da perda do amigo que amava. Deus não deseja a morte de seus filhos e filhas e as lágrimas de Jesus são expressão de uma imensa solidariedade de Deus com as dores humanas. Ao descer junto de seus filhos, Deus se faz próximo e solidário, se coloca ao lado dos que sofrem e chora junto  com todos aqueles que estão angustiados e perdidos. Ao se fazer próximo, o Senhor desce no mais íntimo da vida humana, para de lá resgatar todos os homens e mulheres das garras do pecado e da morte. Por fim, vemos Jesus sozinho diante do túmulo de Lázaro, o texto descreve a sua oração ao Pai de modo muito particular e traz um elemento importante para a compreensão de todo o texto. É Jesus o grande protagonista de todo o relato, ao redor dele tudo acontece e é para ele que todos os olhares se voltam, já que fica claro que é ele o doador de toda a vida. Não existe uma preocupação do evangelista em detalhar, por demais, o sinal, mas deseja comunicar a vitória da vida sobre a morte. Pois o Filho do homem deu a quem a Ele se une a certeza de que a morte nunca terá a última palavra e que, mesmo que o grão de trigo morra, caindo na terra, ele ressurgirá para uma nova vida.

 

Seguindo o caminho da liturgia na afirmação da vitória da vida sobre a morte, como sinal de esperança, a segunda leitura propõe uma vida segundo o Espírito, isto é, marcada pelos valores de Cristo. Paulo exorta aos Romanos a abraçarem um caminho de união à Cristo, a fim de que, a sua vida respire a vida do próprio Senhor. De fato, a experiência do apóstolo relatada em suas cartas sempre serviu de modelo para todos os cristãos e o seu caminho de união a Cristo sempre foi apresentado como modo de viver o evangelho. Neste sentido, aqueles que experimentam a vida divina e a intervenção da graça em suas próprias vidas veem nascer em seu caminho uma série de posturas e gestos próprios dos discípulos do Senhor. Por isso, afirmar que aos discípulos de Cristo hoje é pedido uma vida segundo o Espírito Santo, é somente confirmar à sua vocação, ou seja, ressaltar o fato de que, a sua união ao Senhor deve marcar de forma profunda todas as dimensões de sua vida.

 

Que a liturgia deste quinto domingo da quaresma marque a todos com a vitória da vida de Cristo, de modo que todas as dimensões da vida sejam tocadas pela ressurreição do Senhor. Que a esperança de vida nova em Cristo se torne o grande sinal de vida para todas as comunidades eclesiais à exemplo do que Israel experimentou em sua história. Que todos ao ouvirem a Palavra sejam mergulhados na experiência de Cristo ressuscitado e faça a experiência da samaritana, serem formados como novos discípulos missionários, capazes de levarem a todos o que dele receberam.

 

Pe Andherson Franklin Lustoza de Souza

 

 

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