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11.05.2017

Quinto Domingo da Páscoa


 (At 6,1-7 / Sl 32 / 1Pd 2,4-9 / Jo 14,1-12)

 

A casa do Pai - Jesus: Caminho, Verdade e Vida - Os desafios da casa da comunidade

 

Na liturgia deste quinto domingo da Páscoa Jesus abre as portas da casa do Pai, a casa da comunhão, ao convidar a todos à confiança no amor e na acolhida divina. Como meio de chegar à morada da comunhão, ele afirma, aos seus discípulos, ser o Caminho, a Verdade e a Vida, não somente como uma revelação sobre a sua pessoa, mas também, um caminho de seguimento. Unida a essa afirmação a primeira leitura propõe os desafios encontrados pela primeira comunidade cristã, em ser uma casa da fé, capaz de crescer e dar frutos.

 

O texto do evangelho deste domingo traz o início do longo discurso de despedida de Jesus, concentrado em três longos capítulos (Jo 14?17). Nesses capítulos o evangelista utiliza um artifício literário muito conhecido no mundo antigo que era o de propor as últimas palavras dos grandes personagens, suas declarações finais, ou desejos, no intuito de traçar metas e rumos a serem percorridos pelos seus seguidores. No caso do evangelho em questão, muito além de um discurso de despedida, o texto foi escrito com o interesse de trazer uma revelação profunda da identidade de Jesus, do seu grande amor e de sua comunhão com o Pai.

 

Logo no início do texto litúrgico Jesus aponta para a meta da sua grande viagem, caminho esse que deverá ser percorrido por todos os discípulos, de todos os tempos e lugares: a comunhão plena na casa do Pai. Nesse sentido, o estar com o Senhor é o único modo de superar as dificuldades e medos do caminho, único meio para que ninguém se perca e desanime diante das vicissitudes que a própria história apresenta. É ele o ponto de referência seguro, que não só liberta das angústias, mas é garantidor de se chegar à casa da comunhão com o Pai. Ao iniciar o seu discurso o Senhor utiliza duas palavras: casa e moradas, ambas não se referem às estruturas, assim como se pode pensar, mas à atmosfera, ao convívio próprio da família, evocando o "lugar" onde cada um se sente em casa. Nesse caso, o seu significado próprio e mais profundo, está relacionado com a comunhão com o Pai, isto é, a casa do Pai que é a meta da viagem de Jesus, já que veio de Deus e para ele retorna, como também deve ser a meta de todos os seus discípulos. Jesus prepara a estrada, a fim de que os seus discípulos não somente possam percorrê-la, mas também para que já saibam onde deverão chegar, qual a meta da viagem que iniciaram quando disseram sim ao chamado do Senhor.

 

Assim como os primeiros discípulos, a pergunta que se deve fazer é a de como se pode chegar à casa da comunhão, como alcançar a meta da casa do Pai? Tal interrogação foi feita pelos discípulos a Jesus, que não somente não sabiam para onde ele iria, no caso de Tomé, como também, pediam para que pudessem ver o Pai, no caso de Felipe. Ambas as questões se concentram sobre o caminho, ou seja, sobre como chegar ao Pai, de que modo lhes seria possível adentrar na casa da comunhão, assim como o próprio Jesus lhes propunha. Tal pergunta permite a Jesus fazer uma grande revelação sobre si mesmo, algo que iluminou o caminho dos discípulos e ainda hoje ilumina a vida de seguimento de todos os que desejam fazer a mesma estrada que os primeiros fizeram. Ao responder a questão, Jesus inicia com a seguinte fórmula: Eu Sou, que não somente indica sobre quem era Jesus, mas uma plena afirmação de sua divindade, já que tal formulação foi largamente utilizada para identificar o Deus de Israel, em todo o Primeiro Testamento. Nesse caso, o evangelista, ao colocar nos lábios de Jesus tal formulação, afirma de modo claro a divindade de Jesus, e o apresenta como caminho para a casa do Pai. A pergunta colocada pelos discípulos de Jesus permite a ele revelar a todos algo que iluminou e, ainda hoje, ilumina o caminho de todos os que desejam trilhar o caminho do discipulado missionário. Ao responder aos seus discípulos com a afirmação: Eu sou o caminho a verdade e a vida, se coloca entre os seus discípulos e o próprio Pai.

 

De fato, desde o início da busca do homem da face de Deus, esse percorre caminhos, escala montanhas e abre vias nos desertos à procura daquele que pode dar sentido à sua existência. Tal busca é sempre permeada pelo desejo do homem de contemplar a face de seu criador, se colocar diante de Deus e ouvir a sua voz, ser iluminado por ele e encontrar o sentido último de sua própria existência. Neste caso, quando Jesus afirma ser o caminho para o encontro com o Pai, tal afirmação ganha um relevo especial em relação às demais. Isso se deve, não ao fato dele realizar grandes sinais e prodígios, ser eloquente em sua fala sobre o Reino, ou reunir aos redor de si seguidores, mas, sobretudo, por conhecer e viver em constante intimidade com o Pai. Jesus é o caminho pois conhece o Pai e por conhecê-lo pode revelar a sua verdade que sempre conduz à salvação. Desse modo, quem o segue, e caminha com ele, conhece a verdade do pai e é inserido na vida divina, comunga da mesma vida do Pai e do Filho, participa da comunhão e da vida trinitária. Por isso, a todos os que o seguem hoje e buscam um sentido para as suas vidas, Jesus oferece a comunhão com o Pai como ponto de chegada e a fé como meio para alcançá-lo. Por isso, o seguimento de Jesus, o caminho do discipulado missionário trilhado na comunidade eclesial de base é a estrada que todos devem trilhar, a fim de entrarem em comunhão como o Pai, e viverem segundo a sua vontade.  

 

O seguimento de Jesus, tendo-o como caminho que conduz ao Pai é algo essencial para a comunidade eclesial chamada a superar as dificuldades e crises, próprias do dia a dia. A leitura dos Atos dos Apóstolos indica as dificuldades da comunidade e a forma como os apóstolos as enfrentaram. A comunidade não se distancia das dificuldades que se apresentam mas, as colocam diante de Deus, no intuito de no seguimento do Senhor, receberem sabedoria para lidar com os desafios que se apresentam. Desse modo, indicam algo essencial para as comunidades de todos os tempos e para as deste, isto é, imbuídos do desejo de servirem a Deus e à sua Palavra devem estar atentos às necessidades dos irmãos e irmãs. Tal escuta atenta e olhar aberto e sensível deve ser uma marca daqueles que seguem o Senhor Jesus e desejam viver em comunhão com o Pai. Os ministérios e a valorização dos mesmos foi um modo que os apóstolos encontraram para solucionar as dificuldades que se apresentavam, de uma comunidade que crescia diante das dificuldades e vivia a fé baseada na experiência da comunhão trinitária. O final da leitura ressalta que a comunidade crescia em número mas, sobretudo, ressalta que a Palavra de Deus se espalhava, isto é, muitos outros abraçavam Jesus Cristo como um caminho seguro que conduz à intimidade com o Pai. O crescimento da Comunidade Eclesial de Base está diretamente relacionado com a sua constância na escuta da Palavra, num olhar atento diante da realidade e numa ação concreta diante das dificuldades e desafios que encontra. Desse modo, a fé e a vida caminham juntas e a casa da comunidade, como lugar do encontro dos irmãos com o Senhor é fortalecida e se torna, cada vez mais, uma Igreja de portas abertas.

 

Que a liturgia deste quinto domingo da Páscoa abra as portas da casa da comunhão com o Pai, "lugar" para onde todos são direcionados e no qual todos são acolhidos. A fim de que, unidos a Cristo: Caminho, Verdade e Vida, todos encontrem a estrada que os leva à essa intimidade e comunhão. Para que, formados no convívio divino, sejam enviados como sinais de sua presença, principalmente junto aos que mais precisam. Que todas as comunidades, inspiradas pela atitude da primeira comunidade cristã, tenham a coragem, alimentadas pela graça de Deus, de darem passos concretos nas soluções das dificuldades que se apresentam em sua estrada. De modo que se tornem, cada vez mais, espaços de encontro com o Senhor que convida a todos à intimidade com o Pai e à atenção e cuidado para como os que pequenos e pobres.

 

Pe Andherson Franklin Lustoza de Souza

 

 

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