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13.06.2017

11º Domingo do Tempo Comum - 18/06/2017


(Êx 19,2-6a / Sl 99 / Rm 5,6-11 / Mt 9,16-10,8)

 

A identidade do povo de Deus - A compaixão do Pastor - A missão dos discípulos missionários

 

A liturgia deste Décimo Primeiro Domingo do Tempo Comum ressalta alguns pontos fundamentais para compreender a identidade e a missão dos discípulos de Cristo. Os textos partem da apresentação da identidade do Povo de Deus e da vocação à qual é chamado o povo resgatado pelo Senhor e conduzido por Ele ao longo da história. O evangelho apresenta como Jesus era movido pela compaixão, algo que o aproximava dos doentes e pobres, dos pecadores e excluídos. Do mesmo modo, apresenta que a mesma compaixão deve ser o motor a mover os discípulos missionários em sua missão de anunciar o Reino de Deus.

 

O texto da primeira leitura ressalta um aspecto fundamental da identidade do povo de Israel, algo que nasce em sua relação com o Senhor que o libertou da terra da escravidão e o conduziu à terra prometida.  Ao libertar Israel do Egito e fazê-lo sair da terra do sofrimento, o Senhor manifesta o seu poder e a sua predileção por esse povo pequeno e frágil. Todavia, a promessa não se reduz à libertação que conduz os filhos de Israel para fora da terra do Egito, mas tem o seu cumprimento no ingresso do mesmo povo na terra prometida. Deus não somente liberta seus filhos, como também, os conduz em seu longo caminho pelo deserto, lugar no qual sela com eles uma aliança eterna de pertença e fidelidade.

 

A imagem da águia retratada no texto do livro do Êxodo expressa bem a relação de Deus com o seu povo eleito, o seu cuidado e proteção diante dos desafios enfrentados durante o percurso no deserto. Deus amparou, e sustentou em suas asas os seus filhos, ajudando-os a dar seus primeiros passos como povo livre e eleito. A sua fidelidade foi a marca que selou a aliança e garantiu ao povo de Israel a certeza de ser uma nação consagrada ao Senhor. Deus chama os seus filhos de propriedade particular, a palavra hebraica não diz respeito a um termo jurídico que denotaria a posse de algo, mas exprime uma relação afetiva, marcada por laços de ternura e amor, por uma predileção. Sendo assim, na relação com o Senhor que o liberta e conduz, o escolhe e sela uma aliança de fidelidade e predileção, o povo de Israel encontra a sua máxima identidade, isto é, ser um sinal para todos desse amor de Deus que ultrapassa toda a compreensão como exprime São Paulo na segunda leitura.

        

No texto do Evangelho de Mateus o evangelista apresenta a missão de Jesus, por meio de gestos concretos, seguidos de suas palavras. Jesus é apresentado movido de compaixão e olha para o povo vendo-o como ovelhas sem pastor. A figura do pastor, muito querida por Israel (cf. 1Re 22,17; Ez 34,5; Is 53,6) indica o cuidado amoroso de Deus para com o seu povo, manifestado, de forma clara, no amor compassivo de Cristo. A imagem do rebanho sem pastor foi largamente utilizada para designar o povo de Deus, pois cada rebanho precisa de um pastor que o guie e proteja nas adversidades. O coração de Cristo Pastor é movido por sua compaixão,  que pode ser comparada ao amor de uma mãe por seu filho que sofre, neste caso compreendido como as entranhas de amor. Sendo assim, a palavra compaixão ocupa o lugar central na ação de Jesus e, do mesmo modo na missão dos seus discípulos. Essa palavra, quando utilizada no hebraico, pode ser traduzida como as entranhas e vísceras humanas e, principalmente, como ventre materno − lugar dos afetos e dos sentimentos, lugar do amor compassivo; não somente um sentimento de amor, mas uma atitude concreta e real do mesmo. Neste caso, na atitude compassiva do Mestre em relação ao povo perdido e abandonado está apresentado o modelo a ser seguido por seus discípulos em sua missão, ou seja, tornarem-se sinal da compaixão de Cristo para os irmãos e irmãs.

        

Outro elemento importante ressaltado na liturgia desse domingo é a missão dos discípulos missionários, algo que é apresentado na palavra de Jesus sobre a necessidade de mais operários para a messe. De fato, ao ressaltar o gesto de Jesus que se move na direção do povo cheio de compaixão, o evangelista apresenta o modo como devem se comportar os que seguem o Mestre Pastor. Esses serão gerados no convívio com o próprio Jesus e enviados em missão proclamando a paz, sinal da presença de Deus junto ao seu povo. O que moverá os discípulos em sua missão é o amor compassivo de Cristo Pastor recebido pelos discípulos no convívio com ele na Comunidade Eclesial de Base. De fato, na comunidade dos discípulos, indicada pelo elenco dos nomes dos escolhidos pelo Senhor, os discípulos recebem a autoridade de Cristo e sua instrução para a missão. A comunidade se torna lugar de aprendizado para a missão e para o amor solidário e compassivo, sem o qual a missão não seria fecunda e, nem mesmo frutuosa.

        

O envio de Jesus que se traduz na missão dos discípulos é sinal do amor fiel de Deus que, desde sempre, zelou e cuidou do povo que Ele escolheu para si. O Senhor se aproxima da humanidade sofrida e marcada pelas dores do caminho, pela exclusão e pelo descaso dos que dela deveriam cuidar. Ele se aproxima cheio de compaixão para ensinar os seus discípulos como deve ser o coração daqueles que ele escolheu para se tornarem seus sinais no mundo. Neste caso, é a essa humanidade ferida e perdida que são enviados os discípulos, com a missão de curar e resgatar, guiar e conduzir todos os que encontrarem aos cuidados do Pastor. Por isso, o coração do discípulo missionário deve estar marcado pela compaixão, a fim de que, ele seja movido pelos mesmos sentimentos que havia no coração de Cristo, como diz Paulo aos Filipenses (Fl 2,5). Desse modo, a missão dos discípulos missionários é a de serem sinais reais e visíveis, claros e concretos da compaixão de Cristo, continuadores da obra de libertação e condução do novo povo do Senhor aos caminhos da vida plena e abundante.

        

Que a liturgia deste Décimo Primeiro Domingo do Tempo Comum toque nos corações de todos no intuito de recuperar a identidade que todos receberam no batismo, como povo sacerdotal, profético e régio. A fim de que a certeza da presença e do cuidado do Senhor no caminho daqueles que seguem Jesus Cristo seja a força na missão e no anúncio do Evangelho. Que a experiência da compaixão de Cristo que fizeram os discípulos mova os corações na direção do Senhor, a fim de que novos discípulos missionários sejam formados junto do coração compassivo do Pastor. De modo que ao término da celebração litúrgica toda a comunidade se sinta enviada a anunciar com alegria o que do Senhor recebeu, como um novo povo, enviado pelo Senhor como sinal de sua compaixão a todos quantos dela necessitam ainda hoje.

 

Pe Andherson Franklin Lustoza de Souza

 

 

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